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As mãos desesperadas procuravam com
exatidão,
A dúvida que uma parte incerta do juízo lhe
mordia,
Unhas e desespero contra o regresso da
comichão;
Coça e volta a coçar,
Morde e volta a morder,
Fuga e meia volta volver,
Esfola e volta a esfolar,
Sangra e volta a sangrar,
Sente os dentes ranger,
Coça e continua coçar…
Ouve-se mais uma má notícia na televisão,
Parasitas continuam a chupar a
Democracia,
A notícia espalha-se da fome até à
solidão,
Crescem unhas que coçam até à exaustão,
Cai-se no caos, avançam unhas de
anarquia,
Atrás dos sujos cabelos há uma
hospedaria,
E o hóspede a engordar,
Come e continua a comer,
Há sangue magro para beber,
Bebe e come até rebentar,
Enerva-se com tanto poder,
Morde e volta a morder,
O hospedeiro já a sangrar,
Coça e volta a coçar!...
Torneiras privatizadas bebem pó sem
pagamento,
Lambe-se o azinhavre ressequido do cobre
vendido,
Faz-se de conta que se lava a queda do
cabelo sebento,
Caem os tufos desgrenhados que são
levados pelo vento,
O vento levou a canseira da coceira com o
cabelo perdido,
Ficou a falacrose com o desengano e o último sacramento!...
Aproxima-se o jornal do dia seguinte e a
água benta no olho,
Nas notícias esconde-se a Democracia em
estado terminal,
Fartos cabelos brilhantes levam a
liberdade a tribunal,
Coça-se a fome atrás de um improvisado
ferrolho,
De cada lêndea nasce uma justiça
desigual,
Perde-se a cabeça atrás do piolho!...
Chega o dia dos piolhentos em que os votos se soltam,
Promessas são ameaças veladas de franzir o
sobrolho,
Vota-se nos sais de banho e há mais piolhos que voltam!...
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Como pano de fundo, d’Alma usa fotografias de políticos para compor o layout de um outdoor, e, através dessas imagens, compõe outra imagem, comercial. Convidativa ao consumo, como informação e divulgação, não deixa de ser uma propaganda. Uma propaganda imaginária de uma realidade que prevalece. E contamina.
ResponderEliminarLer “República dos Piolhos” é ser sensibilizado a viver na pele todo o incômodo de estar infestado por um parasita, por revelar o sofrimento que resulta da opressão e da repressão política. Inevitáveis o prurido, e a atenção com as lesões cutâneas como porta de entrada para outras infecções, mas também o humor e a admiração por um fazer poético que evidencia o quanto, além de sermos considerados ‘hospedeiros’ dessa classe, também predomina a alienação, como epidemia política. Uma praga.
Por mais que se propague a política da igualdade, tudo que se expressa é apoiado nas desigualdades socioeconômicas. Mais que provocativa, de humor misto de horror, essa poesia tem o propósito de desencadear uma ‘comichão’ no leitor, e seja no aspecto fisiológico, ou da forma e da linguagem, como também na temática de tensão de um país sufocado pelas forças políticas opressoras.
Sem a pretensão de receber qualquer mérito, ou instaurar valor, mas pela crítica dos valores já existentes e enraizados na sociedade, o Poema ganha a dimensão de um documentário para fins de registro da história, até como testemunha, e estímulo à sociedade a transformar-se e a combater essa praga deixando de alimentá-la, e tornando a poesia, a expressão d’Alma.
Boa quinta-feira.
Se fossem piolhos
ResponderEliminaraté os trincava
assim
limito-me a trinca-los