sexta-feira, 12 de abril de 2013

Órfãos da Primavera



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Uma filha órfã de uns e outros pais,
Para alimentar seus filhos pequenos,
Vendia-se a quem prometia pagar mais,
Triste era a entrega e achavam ser demais,
    Pagando a promessa por muito menos!...

Começou por alugar partes do corpo,
Aos olhos que mais partes queriam comer,
Promessas de pão com fartura fizeram-na crer,
Na necessidade de vender-se a qualquer porco,
Até nada restar do que tinha para vender!...

Quando as dezoito primaveras floridas,
Deram as boas vindas à sua maioridade,
Seus filhos já eram flores entristecidas,
    Desflorados na sepultura da mocidade!...

Campos de flores escondem a saudade,
Com as primaveras das crianças suicidas,
Ninguém evoca ter violado por caridade,
    As três Primaveras órfãs da puta da vida!...
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1 comentário:

  1. A primeira coisa que me ocorre é apreciar a liberdade de criação do poema “Órfãos da Primavera”, e tanta, que, dada a diversidade de temas que retito dele, e ao contrário do que se imagina, acabo por temer minha própria leitura, e consequentemente, as impressões que retiro dela.

    Mesclando questões religiosas e morais com questões políticas, e; religiosa porque visualizo uma relação entre imagem/verso [“As três Primaveras órfãs...”] na tríade ‘fé, esperança e caridade’; e política porque anterior à caridade existe a justiça, ou aquilo que é de direito ao exercício da cidadania, como, entre outros, a garantia de emprego, moradia, educação, saúde; não há caminho de volta ou tempo de arrependimento, e com algum acerto, ou entendimento, na remissão dos erros com clareza suficiente sobre a luta, ou muitas lutas, como alternativa no combate à miséria, ou à morte, à prostituição e à pedofilia.

    Entretanto, a poesia está lá. Ou aqui. Como uma linguagem divina. Como uma mensagem que se faz da compreensão e do inquirir em busca de respostas, sem perguntas, que o poema se constrói, na experiência, diria, de escrever a fantasia baseado na realidade, ainda que umas vezes pesem mais luz que sombras, e outras, mais sombras que luz, num jogo lusco-fusco de contrários, mas sem contrariedades com a liberdade de criação, mesmo quando o campo de flores que se vislumbra seja P&B.

    E pensar que por um momento julguei não haver poesia. Quando ela é justamente esse encontro com a procura. Basta existir como busca, e uma estranheza, pela dificuldade que resiste à beleza do poema. Às vezes tão insuportável, que chega a doer, e a dor é a própria poesia. E só porque existe.


    Boa semana.

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