quarta-feira, 20 de março de 2013

Reciprocidade

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É tão cómodo dizer bem,
Dizer bem até do que está mal,
É tão fácil não dizer mal de ninguém,
Oferecer mentiras perfumadas a alguém,
E agradecer os aromas de mentira igual,
    Por dizerem bem do nosso mal também!...

Ser fraco protegido é tão agradável,
Juntar todas as nossas palavras amáveis,
Contra a palavra da razão desagradável,
Que desconsola a mentira tão amável,
    Com verdades tão desagradáveis!...

Queridas, as palavras moucas,
Desprezadas pelo que sentem,
São beijadas por mentiras loucas,
Apoucadas por palavras poucas,
    Lindas, as palavras que mentem!...
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5 comentários:

  1. A isso, chama-se hipocrisia...

    Bjs,

    Carli

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  2. Algumas tem mais facilidade em manipular as palavras, escritas, faladas, em mentiras, em hipocrisias, em falsidades. E fazem muito bem.

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  3. Curioso, ao ler o seu poema, senti que é precisamente isso o que se passa nos blogues e nas redes sociais.
    Quando alguém pretende uma visita, corre a comentar os seguidores, elogiando ou não.
    Sinceramente, é uma forma de estar neste meio com a qual não compactuo, assim como não compactuo em dizer mal, só porque sim , ou porque me apetece.
    Todos os dias se vêem dezenas de identificações, na tentativa de forçar o comentário. Confesso que já dei para esse peditório , mas hoje não. No entanto, é importante não medir tudo pela mesma bitola. Há que saber diferenciar a hipocrisia, da gentileza e dos afectos, também possíveis de construir neste mundo virtual.
    Sem hipocrisia e sem querer comentário de volta, gostei do seu poema:

    Abraço poético e o meu desejo de uma Santa Páscoa para si e para os seus!

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  4. DOM DOCE

    a reciprocidade
    tem esse dom
    doce de/

    fazer
    o que se

    queira / querer
    Assim

    DOCE MODO

    partilhar
    o ar inspirado
    nu

    num beijo
    longo

    bem reciproco
    Mim

    Sem a palavra "nu" Mim estaria a represar a respiração?
    A poesia é tudo o que sabemos e não sabemos.
    Comentá-la entala qualquer comentador…
    "A reciprocidade", achei que devia comentar, feito está!

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  5. Provido de um significado rigoroso, d’Alma, no discurso de suas emoções mediadas por uma razão meticulosa, compactua tema com realidade atual, e marca um novo desafio à esfera social, porque até para comentar “Reciprocidade” é preciso ter cautela. E moderação. Pouco de comedimento e muita, muita atenção.

    Um dedo à verdade, ou as duas mãos com todos os seus dedos, e a propriedade da formulação de juízos morais, nunca, nunca, moralistas, antes revolucionários, como uma reação natural a um meio onde o que prevalece é a troca de elogios e a falsa modéstia, sobressaindo a hipocrisia. Sátira e sentença convergem, e o poema é de consciência observadora e crítica, ou mesmo seletiva, de uma suposta rede socialmente organizada em escambos. E muitos são os macacos, e as macaquices...

    E se, a cada um, é dado o direito da confissão, ou da consciência libertadora, o que fica em mim é a sensação estranha, e bastante desconcertante, de que, o fato de ignorar alguns sinais, ou muitos, ou todos, e ter seguido adiante indiferente à reciprocidade, ou não, de uma leitura que me movimenta, e me desperta, pode ter sido seriamente prejudicada em seu valor moral. E tanto quanto, emocional. Portanto, se houve uma mensagem a ser enviada, ou decifrada, desfaz-se o enigma, e acuso o recebimento. E sigo perseguindo a leitura, e o comentário, que em algum momento vão representar a liberdade, a minha liberdade de ler e comentar, não o quê o poema disse em suas imagens, ou metáforas, mas aquilo que eu li, aceitei como verdade absoluta e transformei numa imensa poesia para mim e para a minha vida. E não seria este o objetivo de um escritor? Ou de um Poeta? Comover e mover?! E se uma vez dito, ou assumido, por um leitor ou muitos, teria então a veracidade desse sentimento comprometida?? E com quê intenção? Pelo oportunismo?!! Mas qual, afinal?

    E fecho aspas, sem antes mesmo de abri-las.

    Palavras como “lindo, maravilhoso, gostei muito”, entre outras, também suspeitas de vazias, e tão silenciosas porque nada dizem, prometem a hipocrisia que prevalece como “Lindas, as palavras que mentem!...”.
    E a poesia se faz diferente e diferencial. Se alguns de seus comentários, ou comentadores, ou não... bem, aí é do macaquinho que se faz história e do seu rabo, ignorado na linha de uma ferrovia.


    Boa tarde A.

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