sábado, 8 de dezembro de 2012

Entre Aspas Poéticas



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Descreviam-se os sempre presentes desertores,
De fiéis atraiçoados por estranhos poemas desconhecidos,
Revoltavam-se com suas entranhas os senhores doutores,
E entranhavam-se na certeza dos destinados a deprimidos,
Sempre entregues aos estoicos versos já por demais batidos,
Dados à luz pelo tão saber sentir o ser-se pai e seus autores,
Para serem lidos por universitários graus de risíveis valores,
    Imitados por limitados poetas por tão ridículos mal paridos!...

Queixavam-se na fila da frente, sem noção, os desertores,
Das traições ingratas sobre as suas abreviaturas doutoradas,
Como se suas preces por versos houvessem sido abandonadas,
E tudo que resta são ensurdecedores murmúrios dos clamores,
Corvejados pelos redundantes ventos de trovas mal clamadas,
    Às orelhas moucas de onde vai escorrendo a cera dos rumores!...

Escrevem-se poemas escanzelados entredentes,
Mordidos por bocas desdentadas de esfomeadas prosas,
Agarram-se a todos os espinhos meigos com unhas e dentes,
E em sua teimosia de tão cega já enfadonha por tantos precedentes,
   Banham-se em mistelas poéticas como se fossem água de rosas!...

Porque, meu pretenso poeta, te arrastas,
 Para as tuas prosas tão longe, longe de mim,
 Se és parte de poemas aparte partindo do fim,
      Sem a rima dos poetas concebidos entre aspas?!...
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2 comentários:

  1. O que num primeiro momento parece ser um valor afirmado, ou pelo menos suspeito, é negado pela enunciação, e a própria metáfora das aspas já é motivo de curiosidade, porque me sugere que desconfie das afirmações que estão por vir.

    Sempre aos pares, as aspas, ou “servem para isolar palavras, trecho de frases, frases e expressões; ou indicar a reprodução literal de uma oração, de um período e, até mesmo, de um texto”.

    Aqui, entretanto, “Entre Aspas Poéticas”, independente do espetáculo oferecido aos olhos, a Poesia é encontro. Ela não separa. Pelo contrário, agrega. Um encontro que implica numa contenção ou numa recusa. A recusa da submissão de sentimentos, como se o entorno da paisagem dependesse, e depende, da ordenação dos objetos inertes, permeáveis aos sentidos e à manipulação dos gestos. Ou das palavras. Dos versos. Do ritmo, da linguagem e da harmonia. Assumindo várias formas e tonalidades sem perder sua função crítica, e como oposta de desertora, ou traidora, a poesia d’Alma preserva como uma de suas características principais, a fidelidade poética, no movimento, na ação, no dever, no compromisso e na responsabilidade de comover, ou entusiasmar, envolver, incomodar, ou tirar do sossego.

    E depois, a viagem.

    E a paisagem perfumada. Mesmo quando o dedo sangra ou faz sangrar poemas que me calam a voz, a pele, sempre a pele, arrepia, porque o que está na sensibilidade e na consciência é o seu mundo interior, e naquele instante o que sinto, é meu. Por direito de posse. Ou nosso.

    O poema, ou sua elocução, refletem sobre um novo conceito da literatura, confirmando seu valor. Sem dúvida que é digno de elogios, e o principal deles é o fato de ser, entre muitos, e todos, o único que faz das palavras versos sem aspas, no máximo um parêntese, ou dois, e nesse caso, apenas para realçar uma resposta que já sabemos qual, e mesmo assim, necessária até como lembrança à memória dos dias de sombra. Ou sem chama.

    [A respeito do arrepio... recentemente tive a oportunidade de levar minha filha e uma amiga a um Musical, e durante o espetáculo, por estar sentada entre as duas, por várias vezes fui atravessada por seus braços, dizendo uma para outra: olha como estou arrepiada. Saí de lá encantada, pela surpresa, não do arrepio, mas da coragem em se mostrar sensível à arte que as moverem.]

    Porque é esse movimento que possibilita o encontro, ou o reencontro a nós mesmos, ao nosso lugar, sobre nossos limites e identidades, mas também, e principalmente, à responsabilidade do autor.

    Na clareza sem trivialidades e na coragem do Poeta, sem aspas, que arrebata quem o lê.




    E se me permite, por não ser usual, concluo por dizer que é um dos mais belos poemas que já li.

    Boa semana A.

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  2. Não sei se gosto mais dos poemas se dos comentários, destes este será. Não para fazer concorrência aos versos, nem para os cortejar, apenas para ter penas de ave em voo de pássaro passando sem pressa, migrando até este blog e blog! Ovei, desovei... uma coisa destas. Abraço.

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