.
.
.
Já ninguém leva a mal,
Quando o pobre mendigo,
Carregando a pobreza consigo,
Jura ter sido figura presidencial,
Aquando presidente de Portugal,
E até podia ter enriquecido!...
Mas não!...
Seu enorme coração,
De tão generoso altruísmo,
Fez-se do maior simbolismo,
Entregou-se à solidária doação,
Filantropia católica por vocação,
Combatente do capitalismo!...
-Eu já fui presidente!...
Declara o pobre sem abrigo,
Sempre longe do seu umbigo,
Cicatriz nobre do pobre diferente
Dono da verdade quando mente,
Cereal rico com joio confundido!...
-Foi presidente, sim senhor!...
Confirma com tristeza a Maria,
A outra face de seu rico amor,
Discípula do seu rico professor,
Sua mendiga e fiel companhia,
Voluntário sacrifício à carestia,
Pobre pedinte de igual valor!...
Pesem embora os cínicos deslizes,
Não querem parecer coitadinhos,
São pobrezinhos mas são felizes!...
.
.
.
.
.
.
A esmola dada à sorte merecida de um Povo,
Sebastianismo milagroso de pobres Portugueses,
A quem a Democracia pouco trouxe de novo!...
.
.
.
Quando a poesia como prática social deixa de lado a particularidade do escritor sem a intenção de sensibilização à miséria e, através do talento poético, se rende à interpretação de um uniVerso coletivo retratando com irônica comicidade a declaração de um presidente da República e promove uma ampliação do ato da leitura, ela desencadeia novas posturas que exigem do leitor sua participação ativa tanto no processo literário quanto na sociedade, e somos, então, convocados a abrir novos caminhos, caminhando lado a lado com o fazer poético, e construindo e reconstruindo o poema a cada verso, lutamos com ele.
ResponderEliminar¬
deviam estes presidentes ter vergonha
ResponderEliminara revolução também está na poesia
Abraço
LauraAlberto