quarta-feira, 4 de janeiro de 2012

Lacr(i)sê-lo


.
.
.


Desprezara apostar toda a indiferença,
No papel castigado por carimbos arrependidos,
Pensando, ainda hoje, no que seu dinheiro pensa,
Deixou de pensar nas marcas carimbadas pela ofensa,
Por saber apostas perdidas na queda dos anjos já caídos,
Chancelados por estranhos sinetes dos sentimentos falidos,
Em distantes céus esmagados entre o lacre e a querença,
Dos baixos relevos por relevantes lacres derretidos!...

Ao segundo dia,
Caíra-lhe no esquecimento a falência do primeiro,
E do presente!...
Nem o coiro da capa queimada pelo ferro lhe doía,
Tal era a confiança no efeito do terceiro,
E ainda mais forte era o plágio da analgia,
Que a dor presente a outras conhecidas dores recorria,
    Selando a mentira dos dias com lacre verdadeiro!...

O terceiro dia é-lhe selo que não desiste,
Não sido uma segunda estampilha de tê-lo,
Como primeiro dia que adiante de si persiste,
Na teimosia de ser um tempo futuro de sê-lo,
    Sendo Futuro do Passado esquecido que resiste!...

Continuam a cuidar das feridas,
Vendendo-as ao mundo como cicatrizes,
Vivos sulcos de aparentes lágrimas infelizes,
     Por onde ainda correm pecados de mil vidas!...

.
.
.


1 comentário:

  1. Na palma da mão arde a sensibilidade da poesia d’Alma que é chão. Tudo se dá na imaginação e provocando reações e evocando sentimentos, o poema “Lacr(i)sê-lo” passa a ser um lugar de cisão para mim. Ou uma presença.

    Apesar de estabelecer um diálogo temporal, o fluxo do poema não atinge uma conexão com o presente, nem com o futuro. Carimbos, lacres e selos desvelam a verdade do passado que, sem perdas e danos, mas também sem lucro, não atingem o enunciado desejado. Ou necessário. Não há um passado virtuoso, nem um presente decadente. Nem vice-versa. Contam-se dias. Mas a soma é da subtração.

    Fecho aspas ao poema. A poesia sutura, ou sedimenta, minha ignorância e abrindo um caminho de possibilidades, minhas experiências sofrem o efeito poético. Deixo de viver a minha história para viver uma outra história, e em interação com o conhecimento que adquiro ganho uma nova dimensão que me permite seguir habitando meu mundo. E meu corpo.

    Não há inspiração sem respiração. Nem passado, nem presente, nem futuro. O selo do poema é do agora que escreve a poesia do sempre. Viva. Como a própria vida.


    ¬

    ResponderEliminar