quarta-feira, 28 de dezembro de 2011

Passagem...

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Pressinto abrenúncios em teus medos,
Arrebatados pelos agoiros de Satanás,
Esconjuras dos teus possessos segredos,
Com ais de água-benta que o medo te trás,
Rezas ao teu sacro temor para que te vás,
E que logo regresses dos teus degredos,
    A modos que teu medo se faça mordaz!...

Fizeste do teu peito sagrado sacrário,
Onde guardaste pecados escondidos,
Talhados no fogo carnal do teu diário,
Folhas caídas da carne de teu relicário,
Desfolhado sobre os teus temores caídos,
Teu chão de amores virados ao contrário,
    Sangue enclausurado a destempos idos!...

Não viste passar apenas o tempo,
Anos que o vento não te soube mostrar,
Não quiseste ver a brisa daquele momento,
Chamas de velas apagadas por teu tormento,
    Que para sempre te haveriam de iluminar!...

Procuras o tempo perdido,
Na saída do fim de todos os anos,
Mas...
Para mal dos teus enganos,
Quando encontras mais um dia vencido,
Tudo termina no princípio de mais um ano fingido!...
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4 comentários:

  1. Sua poesia é sempre bela e forte.

    Gosto muito...

    Beijos e bom ano.

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  2. Poema de beleza forte e bela. Uma « Passagem» diferente, com muita verdade pelo meio. Amei.
    Bem haja, pelas palavras deixadas no meu blog. Não adormeci...
    Abraço amigo.

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  3. Sempre que leio os poemas d’Alma, a impressão que tenho é que estou dentro deles. Suas imagens transportam-me para seu uniVerso e seus versos conduzem-me no percurso que, de desconhecido, torna-se familiar. Não é uma questão de elogiar o que não cabe num elogio. É questão de assumir a poesia d’Alma na minha vida como um caminho. Um farol a acender sensações, e essas, reflexões.

    Pode parecer repetitivo, é repetitivo. Mas há poemas e temáticas que têm um significado especial para mim. E há palavras que dificilmente alcançam a dimensão de meus sentimentos, do carinho e do respeito pela poesia d’Alma.

    “Passagem...” é um desses poemas. Seu tema deixa de ser social para ser pessoal. Íntimo. Minha leitura é feita após uma viagem, e curiosamente eu a faço como se continuasse a fazer parte dela. Da viagem. Da paisagem, vislumbro imagens que me causam náuseas. E dor. Penso em fugir dela. Não tenho como. Querendo ou não, faço parte dessa viagem. Como leitora e como passageira.

    Há poemas que são extremamente dolorosos. A dor tem sua causa. Às vezes sem causa aparente. Mas é da poesia o alívio. É em busca desse alívio que venho. Que fico. Que insisto. Que sei, sou também criticada. Não me importo. Nunca me importo. O que ganho compensa qualquer constrangimento. E ganho tanto que vezes há que me pego falando sozinha, rindo sozinha, aplicando à minha realidade um verso que guardei e que me serviu de inspiração, não à poesia, porque isso eu não sei fazer, mas à vida que me chama à razão e exige que eu dê conta dela.

    É assim. Não sei desde quando. Não sei como começou. Mas fato que é assim. E não há aqui qualquer interesse senão o do prazer da simples leitura. Ao meu modo e à medida exata do que sou e de quem sou.

    E se, por acaso, como hoje, como agora, se não encontro palavras que justifiquem minha permanência, tenho o poder de hibernar. Em off, minhas decisões me apontarão uma saída. Tenho certeza de que em algum momento vou aprender a desfrutar o melhor dessa paisagem.

    O bilhete é de ida, sem volta. O poema segue e eu fico, com a poesia.

    Boa Viagem, d'Alma.


    ¬

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  4. Que somos nó, pobres mortais...poetas ou actores, pobres fingidores, da vida e dos dias enganosos de mais um ano.Possamos nós, em nome de algo supremo,quebrar amarras e vivenciar paisagens q nos deleitem a alma. Bj

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