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Embrulhou a solidariedade,
Numa caixa de promessas florescentes,
Com as lágrimas sujas dos indigentes,
E enfeitou o evento com ventos de vaidade,
Polvilhados de reconhecida notoriedade,
Pela carteira competente;
Faltava o laço!...
Mas esse laço, nó cego de carinho,
Era a prenda que fora da caixa ria baixinho!...
Quero prata,
Quero ouro e diamantes,
Beleza intacta,
Quero minha mulher e amantes,
Quero preguiça, sorte e admiração,
Escravos, concubinas, exaltação...
Quero o fim acabado no início como dantes,
Regredir na opção,
E gulosar a repetição,
Do sabor do meu poder,
Onde tudo voltará a ser,
A força de minha razão!...
Então, até deus se prostrará,
Aos pés de tão poderosos eu;
Será eficaz a mensagem,
Para que me seja prestada vassalagem...
E tudo mudará!...
No esquecimento o que prometeu,
Haverá todos os dias um só natal,
E, -pobre infeliz, -não será o teu,
Mas única e tão somente o meu!...
Há Almas assim!...
Almas tão cheias de nada,
Pesando universos de confusão,
Sobre a vontade da compreensão,
Que muito longe daquela Estrela,
Não trocando a avareza descarada,
Mergulham na vergonha roubada,
Nunca à pobreza estendendo a mão!...
A tropeçar no Natal indigente,
Pisando o Natal do mundo,
Ignorando o sentimento profundo,
De ser pai de um Jesus diferente,
Sendo igual ao de toda a gente,
A Esperança na imortalidade feliz,
Alimentada bem fundo,
Por toda uma Alma nutriz!...
Mesmo o hipócrita
refém,
refém,
Do egoísmo ausente de dor,
O desejo de um natalício calor,
Será sempre um apelo divino,
Que poderá converter o mal,
Na inocência de um menino,
Nascido numa Noite de Natal!...
Olhos de luz cruzando a Natividade,
Olhos de luz cruzando a Natividade,
Como que enlaçando desejo e felicidade,
Numa volátil lágrima de cristal,
Talvez diluída na austeridade,
De um brilho frágil de Natal!...
Ainda se encontra por aí,
Bem à nossa frente,
Um pouco de quem sorri,
No coação de muita gente,
Gente simples, simplesmente,
Tão simples por pouco ter,
Dando tanto gentilmente,
Tão gentis por assim ser,
Embrulhando todo o Amor,
Futuro que irá nascer,
Com a felicidade de ser Mãe,
Não só de seu filho, seu Senhor,
Mas de todos os filhos também!...
Deus meu,
Ajudai-me a ver,
Que sentido fazer!...
Guiai-me... um sinal fugaz,
Pelo estábulo à manjedoura,
Onde possa ser eu capaz,
Afagar macio feno abençoado,
O sabor da Esperança duradoura,
O nascimento do verbo encarnado!...
Da cruz, no cântico, na bondade,
Pela tolerância, a piedade,
Mensageiro de Paz, Amor louvado!...
Não mereço tal privilégio,
Seria um sacrilégio,
Um pretensioso pecado,
De um pecador mil vezes arrependido,
Mil vezes repetido,
Ainda que mil vezes perdoado,
E outras tantas decalcado!...
Ainda se encontra por aí,
A felicidade de ser Mãe,
Não só do filho, seu Senhor,
Mas de todos os filhos também...
A Esperança da mortalidade feliz,
Alimentando carinhoso Amor,
Por toda uma Alma nutriz,
Volátil lágrima de cristal,
Talvez já diluída no furor,
De um fraterno brilho de Natal!...
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Tantas palavras bonitas num só poema, o difícil é tê-las em atitude. Natal deveria ser todos os dias, desde a hora que se abre o olho ao acordar, a hora que se fecha para dormir. Natal deveria ser com todos, sem preconceitos, sem julgamentos, sem ódios, sem falta de respeito.
ResponderEliminarAmor e paz começam com pequenas atitudes, com um olhar de compreensão, com acolhida nos diversos momentos do dia, com menos prepotência, com mais respeito. No entanto é difícil, não é mesmo? Não é fácil.
E assim, junto à voz do seu poema digo:
"Deus meu,
Ajudai-me a ver,
Que sentido fazer!..."
Sou uma árvore de Natal diferente
ResponderEliminarUm dia senti,
Que a terra ardia.
Pensei, ser eu
Que estava febril,
Delirante,
Ou tinha mesmo acordado
Atordoada,
De uma noite mal dormida.
O tempo era de Verão,
O vento que soprava
E a gente que passava.
Grande era o alarido
Que num instante
Virou clamor e fundiu o espanto
Em pranto de dor.
Não estava febril, afinal,
Nem mesmo mal acordada.
Tudo ardia em meu redor
Ao som de gemidos e estalidos
Em tom de sinfonia gritada,
E logo em cinzas eu via
A minha terra,
A minha gente,
O meu adro
E o meu terreiro…
Holocausto em nome de nada.
A dor foi passando
Como a água do ribeiro
Ao encontro da outra margem.
Do meu chão,
Erva verde, frágil e mansa
Foi crescendo,
Relembrando a cada instante
A minha solidão,
A negrura,
Que em tom de amargura
Se havia instalado
Em todo o canto de mim.
Sem ramos, nem folhas,
Sem filhos, nem amigos
Desistia da vida,
Mesmo,
Que o vento me açoitasse
E as lágrimas teimassem
Em saltar porta fora.
O tempo foi passando
Estirada naquele chão,
Espreitava o dia acontecer,
No desejo de me arrastar
Para além do mar.
Um dia,
Um outro dia…
O chão estremeceu.
Do céu, uma fresta de luz
Incandesceu,
E não sei mesmo
O que me aconteceu.
Senti mãos,
Escutei vozes,
E fiz viagem até esta paragem.
E aqui estou eu!
Nesta sala iluminada,
Neste sítio ajeitado no abraço,
Neste canto todo feito de ternura.
Continuo feia e queimada,
Ressequida e enquistada,
Não mo lembrem, …sei bem.
Mesmo sem ramos, nem folhas,
Mesmo tendo perdido o vigor
E a robustez doutros tempos,
Neste espaço tão mimado
E com laços brancos enfeitada,
Sinto-me noiva, amante
Deste tempo de Natal.
Saibam de mim!
Escutem a voz do meu coração,
Olhem bem em meu redor…
E mesmo que a noite seja fria
Não há maior alegria
Do que aquela
Que a minha alma canta.
De braços queimados,
E toda vestida de branco,
Oh gente de Campos,
Oh gente desta terra
Bem-haja!
Obrigada.
Natal de 2011
Poema de Maria José Areal
Fantástico!
ResponderEliminarBom Natal.
Um poema e uma prenda. Uma oração poética como expressão de fé e reação contestadora, abrangendo desde a crítica a determinados posicionamentos sociais à importância dos valores humanitários, à esperança e à fraternidade. Assim, movido por sua sensibilidade e sua responsabilidade social, d’Alma faz de “Natal... (A)prenda” mais que um verbo a ser conjugado no presente, ou um poema a ser lido, mas uma prenda numa lição que nos dá a conhecer um homem religioso e um exemplo de vida a ser seguido. Porque nem só de metodologia vive a ‘Alma’. A poesia acontece na fé inspiradora, e pela fé, se manifesta [“Numa volátil lágrima de cristal, / Talvez diluída na austeridade, / De um brilho frágil de Natal!...”].
ResponderEliminarA dinâmica é dos joelhos curvados à arte intensificada dos versos como expressão sublime no diálogo com Deus [“Deus meu, / Ajudai-me a ver, / Que sentido fazer!...”]. Seu conteúdo imaginário é a própria realidade da reflexão de seu contexto social e histórico [“Ainda que mil vezes perdoado, / E outras tantas decalcado!...”] e somos intimidados a participar da compreensão entre arte e compromisso. Individual e coletivo [“A felicidade de ser Mãe, / Não só do filho, seu Senhor, / Mas de todos os filhos também...”].
Como leitora nunca sei se o conhecimento que adquiri à aplicação de seu discurso que, ao falar por si, também fala por mim, é da razão ou do coração. Não tenho como fugir, às vezes dói, o que não quer dizer que não seja necessário. Como (A)prendiz sei do brilho da ‘estrela guia’ que me é luz e chama. Para tanto, abro meu presente e desfruto desse privilégio [“De um fraterno brilho de Natal!...”].
Obrigada, d’Alma.
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Excelente
ResponderEliminarTudo pelo melhor
neste Inverno descontente
Há sempre um bom motivo para voltar aqui e reler um poema.
ResponderEliminarHoje, entretanto, é por um sorriso recebido durante um procedimento de cuidados, e que faço questão de compartilhá-lo com d'Alma, porque foi movida pelo poema "Natal..." que me inspirei a desafiar a lei da gravidade, e, bem sucedida, tive condições de proporcionar a alguém um conforto que já não acreditava ser possível.
É da poesia a vida, e do sorriso, compartilhado. É essa a importância que seus poemas têm na minha vida e à vida de quem convive comigo. Por nós duas, agora, obrigada, d'Alma.
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Obrigado pela visita e comentário. Belíssimo poema!
ResponderEliminarTe desejo um ótimo Natal.
Benno
Belíssimo poema, muito reflexivo e consciente.
ResponderEliminarÉ um lugar comum, mas é verdade: os que menos podem são os mais solidários e desprendidos.
Deveríamos fazer, o melhor possível, por reter as mensagens deste poema e praticá-las no nosso quotidiano.
Obrigado pela mensagem de Natal, que retribuo desejando-lhe um NATAL FELIZ e um ANO NOVO mensageiro de melhores dias para todos nós.
J
Feliz Natal, António!
ResponderEliminarAs maiores felicidades para o novo ano de 2012.
Quero aqui publicamente, agradecer a forma dedicada com que trata a minha poesia. Obrigada.
Um beijinho.
DEIXO um "nó cego de carinho"...e o desejo, sincero, de que tudo , mas tudo corra pelo melhor... (tu sabes)!
ResponderEliminarBeijo
em azul
BShell
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ResponderEliminarGostei !
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o meu regresso
tem asas da boa vaga
esquecendo a onda amarga
tão triste no seu quebrar,
porém é belo o seu trovar
ecos fortes e salgados
de Paz, meus votos sagrados
que aqui deixo, bem expresso !