terça-feira, 20 de dezembro de 2011

Natal...(A)prenda

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Embrulhou a solidariedade,
Numa caixa de promessas florescentes,
Com as lágrimas sujas dos indigentes,
E enfeitou o evento com ventos de vaidade,
Polvilhados de reconhecida notoriedade,
Pela carteira competente;
Faltava o laço!...
Mas esse laço, nó cego de carinho,
 Era a prenda que fora da caixa ria baixinho!...

Quero prata,
Quero ouro e diamantes,
Beleza intacta,
Quero minha mulher e amantes,
Quero preguiça, sorte e admiração,
Escravos, concubinas, exaltação...
Quero o fim acabado no início como dantes,
Regredir na opção,
E gulosar a repetição,
Do sabor do meu poder,
Onde tudo voltará a ser,
A força de  minha razão!...
Então, até deus se prostrará,
Aos pés de tão poderosos eu;
Será eficaz a mensagem,
Para que me seja prestada vassalagem...
E tudo mudará!...
No esquecimento o que prometeu,
Haverá todos os dias um só natal,
E, -pobre infeliz, -não será o teu,
     Mas única e tão somente o meu!...

Há Almas assim!...
Almas tão cheias de nada,
Pesando universos de confusão,
Sobre a vontade da compreensão,
Que muito longe daquela Estrela,
Não trocando a avareza descarada,
Mergulham na vergonha roubada,
Nunca à pobreza estendendo a mão!...
 Há almas assim!...
A tropeçar no Natal indigente,
Pisando o Natal do mundo,
Ignorando o sentimento profundo,
De ser pai de um Jesus diferente,
Sendo igual ao de toda a gente,
A Esperança na imortalidade feliz,
Alimentada bem fundo,
    Por toda uma Alma nutriz!...

Mesmo o hipócrita
                                          refém,
Do egoísmo ausente de dor,
O desejo de um natalício calor,
Será sempre um apelo divino,
Que poderá converter o mal,
Na inocência de um menino,
      Nascido numa Noite de Natal!...

Olhos de luz cruzando a Natividade,
Como que enlaçando desejo e felicidade,
Numa volátil lágrima de cristal,
Talvez diluída na austeridade,
  De um brilho frágil de Natal!...

Ainda se encontra por aí,
Bem à nossa frente,
Um pouco de quem sorri,
No coação de muita gente,
Gente simples, simplesmente,
Tão simples por pouco ter,
Dando tanto gentilmente,
Tão gentis por assim ser,
Embrulhando todo o Amor,
Futuro que irá nascer,
Com a felicidade de ser Mãe,
Não só de seu filho, seu Senhor,
     Mas de todos os filhos também!...

Deus meu,
Ajudai-me a ver,
   Que sentido fazer!...
Guiai-me... um sinal fugaz,
Pelo estábulo à manjedoura,
Onde possa ser eu capaz,
Afagar macio feno abençoado,
O sabor da Esperança duradoura,
   O nascimento do verbo encarnado!...
Da cruz, no cântico, na bondade,
Pela tolerância, a piedade,
Mensageiro de Paz, Amor louvado!...

 Não!...
Não mereço tal privilégio,
Seria um sacrilégio,
Um pretensioso pecado,
De um pecador mil vezes arrependido,
Mil vezes repetido,
Ainda que mil vezes perdoado,
   E outras tantas decalcado!...

Ainda se encontra por aí,
A felicidade de ser Mãe,
Não só do filho, seu Senhor,
Mas de todos os filhos também...
A Esperança da mortalidade feliz,
Alimentando carinhoso Amor,
Por toda uma Alma nutriz,
Volátil lágrima de cristal,
Talvez já diluída no furor,
    De um fraterno brilho de Natal!...
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11 comentários:

  1. Tantas palavras bonitas num só poema, o difícil é tê-las em atitude. Natal deveria ser todos os dias, desde a hora que se abre o olho ao acordar, a hora que se fecha para dormir. Natal deveria ser com todos, sem preconceitos, sem julgamentos, sem ódios, sem falta de respeito.

    Amor e paz começam com pequenas atitudes, com um olhar de compreensão, com acolhida nos diversos momentos do dia, com menos prepotência, com mais respeito. No entanto é difícil, não é mesmo? Não é fácil.

    E assim, junto à voz do seu poema digo:
    "Deus meu,
    Ajudai-me a ver,
    Que sentido fazer!..."

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  2. Sou uma árvore de Natal diferente

    Um dia senti,
    Que a terra ardia.
    Pensei, ser eu
    Que estava febril,
    Delirante,
    Ou tinha mesmo acordado
    Atordoada,
    De uma noite mal dormida.
    O tempo era de Verão,
    O vento que soprava
    E a gente que passava.
    Grande era o alarido
    Que num instante
    Virou clamor e fundiu o espanto
    Em pranto de dor.
    Não estava febril, afinal,
    Nem mesmo mal acordada.
    Tudo ardia em meu redor
    Ao som de gemidos e estalidos
    Em tom de sinfonia gritada,
    E logo em cinzas eu via
    A minha terra,
    A minha gente,
    O meu adro
    E o meu terreiro…
    Holocausto em nome de nada.
    A dor foi passando
    Como a água do ribeiro
    Ao encontro da outra margem.
    Do meu chão,
    Erva verde, frágil e mansa
    Foi crescendo,
    Relembrando a cada instante
    A minha solidão,
    A negrura,
    Que em tom de amargura
    Se havia instalado
    Em todo o canto de mim.
    Sem ramos, nem folhas,
    Sem filhos, nem amigos
    Desistia da vida,
    Mesmo,
    Que o vento me açoitasse
    E as lágrimas teimassem
    Em saltar porta fora.
    O tempo foi passando
    Estirada naquele chão,
    Espreitava o dia acontecer,
    No desejo de me arrastar
    Para além do mar.

    Um dia,
    Um outro dia…
    O chão estremeceu.
    Do céu, uma fresta de luz
    Incandesceu,
    E não sei mesmo
    O que me aconteceu.
    Senti mãos,
    Escutei vozes,
    E fiz viagem até esta paragem.
    E aqui estou eu!
    Nesta sala iluminada,
    Neste sítio ajeitado no abraço,
    Neste canto todo feito de ternura.
    Continuo feia e queimada,
    Ressequida e enquistada,
    Não mo lembrem, …sei bem.
    Mesmo sem ramos, nem folhas,
    Mesmo tendo perdido o vigor
    E a robustez doutros tempos,
    Neste espaço tão mimado
    E com laços brancos enfeitada,
    Sinto-me noiva, amante
    Deste tempo de Natal.
    Saibam de mim!
    Escutem a voz do meu coração,
    Olhem bem em meu redor…
    E mesmo que a noite seja fria
    Não há maior alegria
    Do que aquela
    Que a minha alma canta.
    De braços queimados,
    E toda vestida de branco,
    Oh gente de Campos,
    Oh gente desta terra
    Bem-haja!
    Obrigada.

    Natal de 2011
    Poema de Maria José Areal

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  3. Um poema e uma prenda. Uma oração poética como expressão de fé e reação contestadora, abrangendo desde a crítica a determinados posicionamentos sociais à importância dos valores humanitários, à esperança e à fraternidade. Assim, movido por sua sensibilidade e sua responsabilidade social, d’Alma faz de “Natal... (A)prenda” mais que um verbo a ser conjugado no presente, ou um poema a ser lido, mas uma prenda numa lição que nos dá a conhecer um homem religioso e um exemplo de vida a ser seguido. Porque nem só de metodologia vive a ‘Alma’. A poesia acontece na fé inspiradora, e pela fé, se manifesta [“Numa volátil lágrima de cristal, / Talvez diluída na austeridade, / De um brilho frágil de Natal!...”].

    A dinâmica é dos joelhos curvados à arte intensificada dos versos como expressão sublime no diálogo com Deus [“Deus meu, / Ajudai-me a ver, / Que sentido fazer!...”]. Seu conteúdo imaginário é a própria realidade da reflexão de seu contexto social e histórico [“Ainda que mil vezes perdoado, / E outras tantas decalcado!...”] e somos intimidados a participar da compreensão entre arte e compromisso. Individual e coletivo [“A felicidade de ser Mãe, / Não só do filho, seu Senhor, / Mas de todos os filhos também...”].

    Como leitora nunca sei se o conhecimento que adquiri à aplicação de seu discurso que, ao falar por si, também fala por mim, é da razão ou do coração. Não tenho como fugir, às vezes dói, o que não quer dizer que não seja necessário. Como (A)prendiz sei do brilho da ‘estrela guia’ que me é luz e chama. Para tanto, abro meu presente e desfruto desse privilégio [“De um fraterno brilho de Natal!...”].

    Obrigada, d’Alma.


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  4. Excelente

    Tudo pelo melhor
    neste Inverno descontente

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  5. Há sempre um bom motivo para voltar aqui e reler um poema.

    Hoje, entretanto, é por um sorriso recebido durante um procedimento de cuidados, e que faço questão de compartilhá-lo com d'Alma, porque foi movida pelo poema "Natal..." que me inspirei a desafiar a lei da gravidade, e, bem sucedida, tive condições de proporcionar a alguém um conforto que já não acreditava ser possível.

    É da poesia a vida, e do sorriso, compartilhado. É essa a importância que seus poemas têm na minha vida e à vida de quem convive comigo. Por nós duas, agora, obrigada, d'Alma.


    ¬

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  6. Obrigado pela visita e comentário. Belíssimo poema!
    Te desejo um ótimo Natal.
    Benno

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  7. Belíssimo poema, muito reflexivo e consciente.
    É um lugar comum, mas é verdade: os que menos podem são os mais solidários e desprendidos.
    Deveríamos fazer, o melhor possível, por reter as mensagens deste poema e praticá-las no nosso quotidiano.
    Obrigado pela mensagem de Natal, que retribuo desejando-lhe um NATAL FELIZ e um ANO NOVO mensageiro de melhores dias para todos nós.
    J

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  8. Feliz Natal, António!
    As maiores felicidades para o novo ano de 2012.
    Quero aqui publicamente, agradecer a forma dedicada com que trata a minha poesia. Obrigada.
    Um beijinho.

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  9. DEIXO um "nó cego de carinho"...e o desejo, sincero, de que tudo , mas tudo corra pelo melhor... (tu sabes)!
    Beijo
    em azul
    BShell

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  10. *
    Gostei !
    *
    o meu regresso
    tem asas da boa vaga
    esquecendo a onda amarga
    tão triste no seu quebrar,
    porém é belo o seu trovar
    ecos fortes e salgados
    de Paz, meus votos sagrados
    que aqui deixo, bem expresso !

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