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Há saliências de outra vida,
Suspensas na vertigem de meus pesadelos,
Sonho que sou cor apressada a escorrer de
meus cabelos,
E deixo tingir-me por brancos
intermináveis!...
Há saliências de outra vida,
A fugir ao próximo voo a que me dou,
Sonho ser pena arrancada do pássaro que
sou,
E sou a leveza de braços insustentáveis!...
Há saliências de outra vida,
Afundadas em parte incerta de meus
apelos,
Sonho afogar-me e sendo água que algures se
escoou,
Flutuo no vapor submerso de entoações
frágeis!...
Há saliências de outra vida,
Nas palavras inaudíveis de um invisível
diálogo,
Sonho-me entre vários em perfeito
monólogo,
Com permissão para discordar do prólogo,
E, consoante meu sonho análogo,
Sonho ser vogal de mim!...
Há saliências de outra vida,
Saliências sem fim,
No fim do começo da vida que reencarnou,
Sonho que sou Alma de entrada,
Do sonho, sonho de saída,
E entro até à saliência,
Da outra vida pela saliente demência…
Sonha-me o sonho que sou tudo e nada,
Do nada da saliência escondida,
Sonho que sou carro e estrada,
E outra vez saliência,
Rio furioso e terna jangada,
Rio desencontrado da margem perdida…
Sonho que sou corrente sonhada,
Prova diluída,
Promessa quebrada,
Fé cega e científica minudência!...
Sou vida do sonho que sou,
Porção de minha existência,
E de outra,
Sou outra vida e...
A própria Saliência!...
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