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sexta-feira, 1 de março de 2013

Nabos


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Um nabo já sem terra nos dentes,
Enterrou os olhos no seu pequeno quintal,
Quando outro nabo divulgou pequenas sementes,
Entre as pequenas mentes do seu nabal,
Choveram promessas;
Entrementes,
Na superfície lisa dos crentes,
E submersão das eiras,
Expostas a um sol desigual,
Que aquecia círculos de peneiras,
      Outro sol cozia nabos de Portugal!...

Ninguém viu os ventos,
Nas sementes prescritas,
Nem invernos violentos,
Antes dos frios cinzentos,
     Das primaveras malditas!...

Fizeram-se bonecos de neve,
Para morrerem de frio,
Há um desaparecido no nevoeiro,
Á procura da morte pelo que não deve,
Sem encontrar a cor do dinheiro;
Derretem bonecos e sorrio,
Vejo um desaguar leve,
    Nas lágrimas do pranto…
                                                          E rio…!

Que deus me perdoe!...

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sexta-feira, 28 de dezembro de 2012

...muito Fina

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Não bastou,
A pele coberta por um ano muito pobre,
Transparente de tão sombria que foi a cortina,
Pele de nossa sombra que muita carne rasgou,
Muito fina,
Desse ano que ninguém inveja,
Por mais perto que de outro ano se esteja,
Próximos de pensamentos em dissipar a neblina,
Dessa densidade anual da memória que não se deseja,
Muito fina!...
Vergamo-nos por algo que não nos dobre,
E regressamos à fetal posição que nos cobre,
Procurando descobrir uma proteção quase divina,
Que nos descobre,
A implorar que vos proteja,
De outro ano tão mau que não nos seja,
Igual à mesma espessa rotina,
Muito fina!...
De tão ténue foi o sobreviver,
Sem ter o que ter,
Como livrar-se dessa sina,
Assassina nova ordem de ser,
 Às ordens de um novo amanhecer,
Prometido por rastejantes poderes de rapina,
Vendedores de modernos sóis ao anoitecer,
Especiosa verve de aparente suster,
Muito fina!...
Essa linha que deu a conhecer,
Prestímanos capazes de iludir um país,
Na certeza de dizer como quem diz,
O que não diz sobre o vir a sofrer,
Às mãos da privada morfina,
Que ri da incurável cicatriz,
Muito fina!...
Mas profunda como a morte;
Se ao menos os pobres tivessem essa sorte,
De morrer,
De acreditar,
De viver,
Se ao menos se partilhasse a mesma doutrina,
De adivinhar,
Sentir-se forte,
Talvez poder imaginar,
Que os sacrifícios irão resultar,
Mas o sangue continua escorrendo do corte,
E ainda que o sentimento de perda pouco importe,
Não bastará o rigor da mecânica disciplina,
Para que a justiça se vá consumar,
Porque ainda mais forte do que se imagina,
É a voz da revolta esperada do verbo gritar,
Sublevando-se…
Muito Fina!...

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Cai o pano,
De um ano caído,
Sobre os trapos do velho ano,
  Tão triste pelo novo ano prometido,
Nua esperança entre retalhos erguido,
Nova pele à medida do mesmo engano,
De esconder a Alma no corpo despido!...



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domingo, 16 de dezembro de 2012

Alienados

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Alienaram a razão de sermos,
Alma livre em expandido brio,
Insurgem-se outros alienados,
Abusando dos mesmos termos,
Sabemo-los opostos ilimitados,
Na direção de iguais atentados,
Ao encontro de estados ermos,
O estado cego de os querermos,
No próprio interesse sem o brio,
Egoísmo livre aos mais votados,
Por escolha nua oferecida ao frio,
Fria vitória do norte e global trio,
Incógnita de outros interessados,
Esses incógnitos sem o sabermos,
Imensuráveis desígnios avaliados,
Por ditadores de ignotos estados,
Em democrático estado sem brio,
Pisando patriotismos explorados,
De vampiros com tal sangue frio,
Que em espiral de total desvario,
   Alienam seus filhos já alienados!...

Todos juntos, todos iguais,
Opõem-se à oposição oposta,
Todos bem dispostos à mesma bosta,
De serem a mesma grande merda dos demais,
Promovidos à mesma trampa com que foram feitos seus pais,
Legado de gerações herdeiras da incógnita proposta,
Em enigma afiado por criminosos punhais,
Assassinos de perguntas sem resposta!...

Cada Homem arrancou um punhal,
Das costas de outro Homem apunhalado,
Todos os Homens se ergueram de seu castigo brutal,
Sangraram injustiças até aos gritos de um jornal,
  Aí arderam as palavras do poder alienado!...

Os rios espremidos vão secando,
No sopé arruinado dos montes,
Vão ruindo vértebras das pontes,
Sob parasitas que vão arruinando,
A redenção dos que vão pecando,
Pecado inocente sem horizontes,
Que fora de si se vão fechando!...

*

E nesses horizontes bem fechados,
Há um horizonte que se vai aproximando,
Para alienar o sangue dos alienados!...


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