sábado, 8 de março de 2014

Aspirando...


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Vejo-me no chão e no ar,
Pairo sobre o retorno de ficar só,
Ténue de mim desta frágil vida a levitar,
Leve, leve…leve a luz que me ilumina o pensar,
Vejo-me ínfima partícula respirada num universo de pó,
    Sou aspirador aspirado com pouco ou nada do muito a aspirar!...

Sou tão terra quanto a minha certeza de ser o retorno à poeira,
Sigo os borbotos sobre as falsas tábuas de flutuante soalho,
Há tufos de lã que aspiram ir além da pata da cadeira,
Sinto-me que aspiro algo e sento-me à sua beira,
Cai levemente um fio do meu cabelo grisalho,
Aspiro a ideia de ser um velho carvalho,
  Aspiro o cabelo e a cinza da lareira!...

Arrasto palavras acumuladas,
Junto-as sem cuidado a um canto,
Formam-se frases para meu espanto,
Imperfeitas com aspirações desinspiradas,
Varro do pensamento ideias desfragmentadas,
Aspiro novos fragmentos que levitam por encanto,
Sem borbotos atraídos por sujas palavras empoeiradas,
São todas elas parte de um tema,
Aspirações e inspirações aspiradas,
   São aspirador que aspira ser Poema!...
    

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2 comentários:

  1. A limpeza por aspiração se rotinizou, o espanto virou diversão, e o pó ganhou forma de Poesia. Conjugando atribuição doméstica e inspiração, o Poema “Aspirando...” nasce da procura de dar forma à expressão sobre o sentimento, a nível para reflexão, que pode ser, individual e também social.

    Comparada ao ato em si, a partir da observação de uma cena do cotidiano, sua leitura se quer simples. Porém, é do rigor poético o ‘respirar inspiração’, cuja aspiração é uma constante da Poesia d’Alma, e se identifica com a simplicidade seguindo um princípio de busca e encontro, que se dá pela revelação [limpeza].

    A cada novo Poema de António Pina parece dizer desta revelação, e que tem ligação com a iluminação, e, ao mesmo tempo, reafirmar a necessidade de continuidade da busca, ou da procura da luz. Nesse poema, os conflitos são provisoriamente iluminados pelo verbo limpar, mas longe de serem superados definitivamente. Daí, o movimento, o caminho, e o encontro com a depuração.

    As partes do todo se complementam além de uma opção, insatisfeita, do conjunto e se misturam [terra / poeira], sem se diferenciar. Uma indistinção que só a Poesia pode favorecer, e dela, a reconciliação com os fragmentos [Palavras / Frases / Tema / Versos / Poema] reflete a experiência e estabelece a expressão responsável pela imagem que se forma e que se mescla com o tom narrativo da descrição da cena [“Varro do pensamento ideias desfragmentadas,”]. E quanta organização!

    Outra vez, o caminho. E a luz da Poesia. Iluminado, e depurado, o Poema. E um fazer poético dos mais belos!


    Bom domingo, d'Alma.

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  2. Ainda não cheguei a esta perfeição

    mas aspiro

    partículas
    em verso tresmalhadas

    Abraço

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