terça-feira, 6 de agosto de 2013

Lençóis de Lama

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Lamacenta esta noite densa,
Empertigada a cama que me cobra,
-E me quebra-
Conto as voltas que voltam e a volta que me dobra,
Dobro-me até fechar-me em concha receptiva à tua presença,
Procuro-te na lama do teu desejo e em minha querença,
Teu corpo que se afasta beijando a lama que sobra,
Desliza até ao lodo repousado na indiferença,
-E lentamente se requebra-
Imiscui-se na lama que sua forma recobra,
Volta a ser lençol enlameado, nossa pertença!...

Repousa enlameada nossa Alma,
 Em enlameados lençóis de lama,
Uma voz enlameada que chama,
Adormece na madrugada calma,
     Com sonhos resvalados da cama!... 
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3 comentários:

  1. O poema me trouxe a questão do desejo, de desejos fortes, porém vistos como sujos. Um luta em lidar com os pensamentos desejantes e desejosos, que encobre o corpo também de desejo.

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  2. Sem perder a noção da realidade, “Lençóis de Lama” descreve o sentimentalismo na intenção de conviver com a beleza, e a sensibilidade, que geram a emoção e promovem o acolhimento.

    A cama. O sono. O lençol.

    A cama é símbolo do repouso e do prazer: seja quanto à palavra, enquanto expressão de liberdade; seja quanto ao desafio que o poema, enquanto meio de comunicação, exige. O sono representa a inconsciência, a saída do corpo, e outra vez, a liberdade com que as palavras ganham asas e voam sem interferência com a realidade do mundo. O lençol, objeto de carícia, tecido de pele, que cobre, amacia e embala, refúgio, ou fuga, processo de envolvimento e conquista poética.

    E a obra cumpre seu papel de provocar diferentes perguntas e respostas, até mesmo, as mais contraditórias possíveis. O poema arruma a cama, entoa o sono e amacia os dias, e estabelece com o leitor, não uma experiência, mas uma afinidade. O desejo de ser cama e sono. E tecido. Coberta. E o que é lama, também pode ser tema, poema, sentimento. E desejo. Amor. Muito amor. Ou, apenas o desejo de adormecer o sono, e devolver à cama, o estado de coma. Ainda assim, abrigo.


    Boa semana, A.

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  3. Tantas são as mesmas es camas onde se deitam
    que lá no fundo dos lençóis
    lamacentos brilham às voltas
    peixes de águas profundas
    que vêm à tona resvalados
    em forma de poema

    Abraço

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