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Impassível boca tranquila,
Fechada por um subtil contorno,
Beijo apagado, nem quente nem morno,
Esconde-se debaixo do batom que cintila,
Desinteresse nem tépido nem frio da
pupila,
À vista de olhos tristes por causado transtorno!...
Há estrelas vivas a latejar sobre a
língua latente,
Divagam entre o céu ansiado e o palato
ansioso,
Curva-se uma suave linha ao desejo
ardente,
Desabrocham úmidas bocas suavemente,
Florescem lábios num toque carinhoso,
Cedem línguas ao beijo envolvente!...
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A boca fala. A boca pede. A boca revela. A boca apela. A boca, no Poema d’Alma, reclama o direito pelo beijo, ou por outra língua dentro da boca. Tato, visão e paladar mesclam-se entre a poesia oral, sensivelmente convidativa, de movimento e de devolução à espontaneidade perdida devido à mecanização da boca em detrimento de um beijo negado. Por detrás dos lábios fechados e sombrios, há uma boca a morrer de indiferença. Ou de desejo. E o Poema tem gosto de boca aberta com fome de um beijo. Um ritual de volúpia, onde a poesia, além de privilegiar o sabor, também alimenta, senão a fome, a ilusão.
ResponderEliminarE não é disso que também vivemos? Ou imaginamos viver? E muito mais que qualquer outra coisa, estamos sempre em busca de continuidade. Ou de uma leitura que atinja nossos sentidos e atrevesse nossa pele, e seja carne e sangue, ou desejo, dor ou prazer. Uma transferência para algum lugar que não precisa ser nosso, mas que nos deixe à vontade quando nele.
É o que acontece com “Esboço até ao Beijo”. De um traço, original, o encontro, pela complementaridade das línguas, e na poesia, a fusão: Arte Final.
Boa semana, A.