segunda-feira, 3 de outubro de 2011

Maisena

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… malícia da cúmplice brisa,
Benditos seios sensuais ao frio,
Nas fartas copas de seda leve e lisa,
Mamilos involuntários…  arrepio!...

Desatinado pelos arrebitadinhos que vi,
Experimentei o fresco consultório da psicologia,
Espaço cúbico de uma circular quadratura bem fria,
Aumentou-se-me o desatino com o calafrio que senti,
Mais desatinei com o que entre minhas pernas encolhia!...

Pós de Édipo libertam a libido fechada na lata de leite condensado,
Mães voluntárias protegem seus filhotes entre seus quilos de maisena,
As embalagens que mães escondem nos enlatados peitos de amor desconcentrado,
Salvam olhos lânguidos vestidos de indiferença diante do sexo indefinido por transformado,
Anjos sopram óvulos de silicone nas trompas de Falópio e a carne é imagem obscena!...

Um par de ternuras penduradas no chão,
Caiu e espelhou-se no duplo reflexo do imaginário,
Espalharam-se Mamilos aborrecidos do desejo diário,
Endurecem no rosado desejo da sagrada tentação,
Num sofá desanda o assento da obsessão,
Parede erguida no sentido contrário!...

Uma mulher fresca entra na psicologia do consultório,
As mãos da mente são a língua de um exame obrigatório,
Uma brisa refresca o psicólogo asfixiado no calor,
Tanta frescura deve ser tratada com fervor,
Penetra a caneta no útero do  relatório!...
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2 comentários:

  1. ... será que o relatório

    vai a despacho do Coelho?
    Cuidado ele anda à solta

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  2. Um olhar crítico à desconstrução dos dogmas da psicanálise freudiana e “Maisena” traz na marca do amido de milho a substituição do aleitamento materno, no poema que corresponde à fusão poética entre Psicanálise e Poesia, com temática na libido e no tabu, e alternando literatura com arte, através da imaginação derivada da sensibilidade poética, a realidade artística assimila-se à realidade concreta.

    A Literatura:
    Símbolo da feminilidade, os seios representam tanto fonte de vida e alimento [amamentação], quanto fonte prazer e sensualidade [sexualidade]: “… malícia da cúmplice brisa, / Benditos seios sensuais ao frio,”. A ereção do mamilo pode ocorrer durante a amamentação, mas também pode ser uma resposta a um estímulo sexual, ou ainda, causada pela baixa temperatura [“Mamilos involuntários… arrepio!...”].

    O medo do tabu do incesto está relacionado com a amamentação, a diferença entre a maternidade planejada da não-planejada, ou, voluntária da involuntária, é decisiva no aleitamento materno [“Pós de Édipo libertam a libido fechada na lata de leite condensado, / Mães voluntárias protegem seus filhotes entre seus quilos de maisena,”]. As técnicas não devem ser desprezadas, caso contrário, promovem o desmame precoce [“Anjos sopram óvulos de silicone nas trompas de Falópio e a carne é imagem obscena!...”].

    O wallpaper:
    O divã da psicanálise facilita o relaxamento e representa a entrega à análise, ao conhecimento de si mesmo.

    A Poesia:
    Atingindo a vida psíquica e social da mulher, os seios têm um valor cultural. Não há comprovação científica de que a amamentação é responsável pela flacidez da mamas, mas a própria constituição anatômica de cada mulher e a alteração que ocorre durante a gravidez [“Um par de ternuras penduradas no chão, / Caiu e espelhou-se no duplo reflexo do imaginário,”]. Com a insatisfação, o comprometimento da libido [“Espalharam-se Mamilos aborrecidos do desejo diário, / Endurecem no rosado desejo da sagrada tentação,”], e, como alternativa, o tratamento psicanalítico. A mobília como estratégia infere significado e efeito de vilão [“Num sofá desanda o assento da obsessão, / Parede erguida no sentido contrário!...”], na revelação dos implícitos, a poética é explícita e expressiva.

    Articulando psicanálise com poesia [“Uma mulher fresca entra na psicologia do consultório,”], a metáfora é chama ao verso que não prescinde da hipocrisia, [“As mãos da mente são a língua de um exame obrigatório,”], para uma criatividade poética ousada [“Uma brisa refresca o psicólogo asfixiado no calor, / Tanta frescura deve ser tratada com fervor,”]. Se a língua está para o exame clínico, a mama está para o exame psicanalítico. No laudo, a autoconsciência literária reage à realidade: “Penetra a caneta no útero do relatório!...”.

    E assim, como há mães que obrigam seus filhos a comer, há também aquelas que, porque os amam lhes oferecem o alimento, e ainda há a poesia que nos alimenta. A Alma. A experiência não é clínica, mas a poesia d’Alma, sim.


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    Obs.: É importante ressaltar que Freud era um judeu ateu e apesar de toda a sua cultura psicanalítica, ele não se livrou de sua miséria interior.

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