quinta-feira, 6 de outubro de 2011

Prémio Nobel da Pás

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Esta criatura não é responsável pelo que faz,
É apenas mais um que se aproveita de um Hino!...
Assassinos assassinam um conveniente assassino.
Escolhido para ser manipulado fantoche contumaz,
Uma marioneta emaranhada numa política mordaz,
De mãos atadas por fios do outro reivindicado divino,
Não aquele a quem entregaram à dor do seu  Destino…
A estrela celeste protegida pela eterna câmara de gás,
Continua a disparar cravos na significação do peregrino,
Até que rios de sangue sejam mares deixados para trás!...

Se para chegar ao sangue alheio,
For preciso varrer inocentes pelo meio,
Serão legítimas vítimas da ganância tenaz,
Anti-semitas atravessadas no caminho do veio,
Danos colaterais que aprenderão como se faz,
A derradeira diáspora para o caminho da Paz!...

Não, esta criatura não pode ser acusado do que faz,
Porque recebeu a imunidade do Prémio Nobel da pás!...

Olho por olho e dente por dente,
Alguém assina a ordem assassina!...
Será o caos da Humanidade doente,
Espoliada de sua condição decente,
Só porque uma capitalista doutrina,
Escondida por uma criminosa neblina,
Revela-se afinal uma pura raça crente,
Do que parecia manifestação latente,
Que de inocente só tinha a cortina?!...

Não, esta criatura não pode ser culpado do que faz,
Pois antes de assassinar inimigos dos usurários em sua rotina,
Foi ilibado pelo, a si atribuído, Prémio Nobel da pás!...

…essas, com que se abrem as covas onde se enterra a verdadeira Paz!...

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1 comentário:

  1. Expressando na arte uma nova visão crítica de realidade, tanto social, quanto política e mesmo individual, d’Alma reafirma seu compromisso poético com a humanidade com o poema “Prémio Nobel da pás” e desafia o princípio da contradição estimulando a atitude crítica do leitor.

    Nenhuma promoção de um tratado de paz [“É apenas mais um que se aproveita de um Hino!...”] e se não há responsabilidade [“Esta criatura não é responsável pelo que faz,”], nem acusação [“Não, esta criatura não pode ser acusado do que faz,”], nem culpado [“Não, esta criatura não pode ser culpado do que faz,”], não há crime à tragédia que é de proporção programada [“Até que rios de sangue sejam mares deixados para trás!...”].

    Entretanto, é na imagem dos versos que transcendem a linguagem, que a angústia poética se instala [“Se para chegar ao sangue alheio, / For preciso varrer inocentes pelo meio,”] para explicar o que a hipótese, na reconciliação de seus contrários, não explica. A perplexidade da imagem é a própria perplexidade da realidade [“Olho por olho e dente por dente, /
    Alguém assina a ordem assassina!...”], que no exato momento de percepção, através da prática poética, deixa de ser singular, privilégio de uma cultura [“Só porque uma capitalista doutrina, / Escondida por uma criminosa neblina, / Revela-se afinal uma pura raça crente,”], para se tornar plural e contraditória: [“Do que parecia manifestação latente, / Que de inocente só tinha a cortina?!...”].

    Impunidade e inoperância, confluências de ordem poética que favorecem uma visão crítica ao leitor [“Porque recebeu a imunidade do Prémio Nobel da pás!...”], apontando a atitudes que dependem da nossa compreensão [“Pois antes de assassinar inimigos dos usurários em sua rotina, / Foi ilibado pelo, a si atribuído, Prémio Nobel da pás!...”], para alcançar seu sentido. Arte.

    O crime compensa [“…essas, com que se abrem as covas onde se enterra a verdadeira Paz!...”]. Restam as reticências. A poesia d’Alma também compensa.


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