quarta-feira, 5 de outubro de 2011

Lucy in the Sofa Without Diamondes

.
.
.

Colhidos no sofá,
No conforto em que nos amamos,
Provo fungos mágicos das ideias que cultivamos,
Cioso da minha certeza na certeza de que não há,
Esfiapo alucinações em esfumado fiapo que sobrará,
Fio muito fino amarrado às dúvidas que despojamos,
Visão alucinada dependente do que não se verá!...

Crescem cogumelos em coleantes sofás mundanos,
Zig-zag envenenado entre nuvens de luz confusas,
Metamorfose psicadélica em raios de traições difusas,
Poeira leve que flutua na órbita do teu corpo celeste,
Arcada orbital tua de minhas ténues visões oclusas,
Formadas de teu corpo que delas por mim se despe,
Amanita ressuscitante da vida que por ti se veste,
Conforto no aconchego fraco de vistas obtusas,
Alucinatório de improvisada cama agreste!...

Aludas solarizadas em frascos de mil cores,
Nadam intermitentes em filtros de asas casuais,
Desaparecem no desencontro de mil neons brumais,
Afogados voos comprimidos na descompressão de mil amores,
Alucinando prólogos finais em assinados sofás pensadores,
Personalizando efeito vertiginoso no ciúme dos sinais,
Singular refúgio acolhedor, analgésico de mil dores,
Susceptíveis trips de mordazes despeitos fatais!...

Só, em nossa fria cama de triste solidão imensa,
Recolhes-te em concha de pérola solitária abandonada,
Implodes teus gritos silenciados por tua dor intensa,
Bebes tuas lágrimas imerecidas de imerecidas ofensas,
Aumenta a certeza da minha sede de dúvida revoltada,
Encho-me na fome de ti por tua ausência subordinada,
Imenso amor aflitivo que teu amor aflitivo não dispensa,
Exíguo conforto recostado no medo de tua sentença,
Esse sofá nosso, noites frias de minha madrugada!...

Lágrimas solarizadas sob copas de laminadas alucinações,
Filtros tingidores de nossa Alma que novas cores abomina,
Procuram brandas brancuras de lençóis que a clareza reanima,
Rasgando adrenalinas míopes de conseguidas ilusões,
Mistérios desvendados na consciência dos corações,
Irresistível tentação prismal que por ambos se anima!...

Lágrima triste que nosso choro não chora,
Escorre em nosso sofá negro que me recebe,
Análise deturpada afogando quem de si bebe,
Alaga tua almofada enchida com sonhos doutrora,
Só não mancha os lençóis que nosso Amor vigora!...




Quando pensares que um sofá é cama segura de acolhimento,
Capaz de apaziguar o venenoso cogumelo fodido que te devora,
Sentirás numa só noite a verdade de teu verdadeiro sentimento!...

.
.
.








3 comentários:

  1. “Lucy in the Sofa Without Diamondes” é um poema cuja imaginação transcende a criatividade e alcança a fantasia através dos efeitos alucinógenos do cogumelo, resultando num coquetel de excessos onde o principal ingrediente do recurso linguístico d’Alma se destaca: a poesia didática.

    Concluídas as sensações que descreve a trajetória da droga [“Provo fungos mágicos das ideias que cultivamos,”], entre elas, distorção visual [“Visão alucinada dependente do que não se verá!...”], euforia [“Zig-zag envenenado entre nuvens de luz confusas”], sinestesia ou mistura de sensações [“Aludas solarizadas em frascos de mil cores,”], o fim do delírio é de efeito deletério [“Só, em nossa fria cama de triste solidão imensa, / Recolhes-te em concha de pérola solitária abandonada,”].

    No mesmo lar, mobílias e ambientes [“Só, em nossa fria cama de triste solidão imensa,” e “Esse sofá nosso, noites frias de minha madrugada!...”] divergem entre si para abrigar um amor que é recíproco, convergindo à melancolia poética [“Lágrima triste que nosso choro não chora, / Escorre em nosso sofá negro que me recebe,”] causada pela perda, o sofrimento alcança seu ponto supremo [“Análise deturpada afogando quem de si bebe, / Alaga tua almofada enchida com sonhos doutrora,”]. Mas há a certeza de ser provisório: “Só não mancha os lençóis que nosso Amor vigora!...”.

    O vício, independente de ser prazer ou fuga da realidade, num momento cede lugar à realidade, e nesse momento, não há quem duvide, a poesia d’Alma imita a vida e promove a busca pela consciência. E sendo ela poética ou não, inspira à admiração [“Sentirás numa só noite a verdade de teu verdadeiro sentimento!...”].


    ¬

    ResponderEliminar
  2. Implodimos nossos gritos....bebemos nossas lágrimas e sim, é fodido esse "cogumelo" que nos devora...aos poucos...devagar...
    Por isso me recolho em concha (sem pérola) solitária e triste...e assim aguardo ...espero...

    Um beijo
    BShell

    ResponderEliminar
  3. Comentei...mas devo ter dito "asneira"!
    Bj
    BShell

    ResponderEliminar