sábado, 14 de julho de 2018

Indiferença

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Indiferente,
Logo à nascença,
Da vida inconsciente,
O seu despertar aparente,
Em silêncio, destino e sentença,
Do seu próprio destino ausente,
Fortuna ou desdita, indiferença;
Fechado em si, se deixou ficar,
Num sono sereno, sem dormir,
Suspenso em seu voo sem voar,
Sem saber como o vento sentir,
Ou daquele estranho sono sair,
 Sem aprender a querer sonhar,
     Com o pranto ou um leve sorrir!...

E ali ficou,
Até que veio outra doença,
Doença indiferente que o abraçou,
Com ela veio a morte que quase o levou,
Nem a morte venceu sua indiferença,
     Indiferente, pouco lhe importou!...

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terça-feira, 3 de julho de 2018

Azar de Truta (Morte do Espírito da Pesca)

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Eu sou o rio,
Sou o pescador,
Eu sou quem me rio,
Do rio que se ri de mim,
Rio sem nascente, rio sem fim,
A transbordar de um cacifo vazio;
Cheiram as sujas águas a abafado bafio,
Aprisionadas num oceano de tratado fedor,
Há centenas de esfomeadas trutas ao dispor,
   Lançadas à fome por um pescador tardio!...
    
Acordaram as trutas muito cedo,
Dizem que algumas nem dormiram,
As trutas não sabem morrer de medo,
Morreram no cemitério onde caíram
Resignadas, entregam-se sem luta,
E muitas outras do rio saíram,
     Salvas pelo azar de truta!...

Há um pescador aborrecido,
Em sua pasmaceira absoluta,
    Do espírito da pesca desprovido!...

 

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sábado, 30 de junho de 2018

Haja um Pescador



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Haja um pescador,
Pescador esse que o há,
Verdadeiro da verdade salvador,
Salvador de peixes cheios de amor,
Que com eles, outros pescadores trará!...

Foi no rio mais profundo,
Com um anzol feito de nada,
Pescou o maior peixe do mundo,
   Mais ou menos uma tonelada;
Ainda hoje de madrugada,
Pescou um grande tubarão,
Um carapau e meio salmão,
Algumas postas de pescada,
Lá no riacho de toda a ilusão,
    Onde a estória foi congelada!...

Haja, haja quem,
Que aja com bom agir,
Porque haja o que houver,
Haja o que houver para vir,
Venha com o haver mais além,
Venha o que com o vier se obtém,
O erguer do pescador depois de cair,
Erguido por um prateado peixe a sorrir,
Acredite nesse peixe quem quiser;
Houve um pescador pescado,
-Houve-o, venha quem vier-
Que pescou dois rios de mar,
E ao ver um peixe se afogar,
    O salvou de morrer afogado!...

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quinta-feira, 28 de junho de 2018

Ladrões do que é Nosso

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Como já lhe tinham dito,
Muito bem dizia a minha Mãe,
Para os seus muito pobres botões,
Que até do que é nosso, também,
Temos de ser ladrões!...

É tudo muito bonito,
Quando do dito nada temos,
Mas basta ter um pouco do dito,
    Para que, pelo dito, nos lixemos!...

Do dito, nada há para ver,
Todos vêm o que ninguém vê,
Antes de ser visto, já deixou de ser,
     E tantos são os cegos sem saber porquê!...

A inveja custa dinheiro,
Dinheiro que ninguém quer,
Todos querem chegar primeiro,
  À sorte que pela inveja vier!...

Há quem morra de inveja,
Sem ver que já morreu,
Haja quem os veja,
    Como defeito seu!...

Dizia minha Mãe para os seus botões,
   Que até do que é nosso temos de ser ladrões!...

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