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Dizem que sou uma zundape de 60 e tal,
Com um cano de escape escancarado,
Que ressono para onde estiver virado,
Mas, será que alguém me pode levar a mal,
Por minha opinião não poder ser mais desigual,
Quando afirmo a certeza de não ter ressonado?!...
Como é possível não ser possível dormir ao pé de mim,
E até juram que quando eu adormeço é só para os acordar,
Vão mais longe e afirmam que nem em sonhos irão concordar,
Comigo... só porque durmo uma santa noite até ao fim,
Ainda não entendi porque tanto bocejam eles assim,
E insistem nessa teoria sonolenta de conspirar,
Se eu tão perto de mim não me ouço ressonar?!!...
Não há ninguém,
Mais perto de mim do que eu,
Meu sono dorme comigo também,
Sou dele e quando me embala é meu,
Não esse embalo nos braços de Morfeu,
Que é sonho acordado de alguém!...
Só estranho esta sensação,
Quando estou muito perto de adormecer,
Sobressalta-me um rápido ronco de estremecer,
Que quase me desperta e leva a respiração!!!!...
Estremunhado procuro a causa dessa razão,
Procuro na cama culpados para me esclarecer,
Mas em vão...
A meu lado ainda ouço minha esposa dizer:
-Assim não pode ser!!!!!!...
E adormeço!...
A leveza cômica de “Ressonar” é irresistível. D’Alma desce do palco, e, através da intimidade revelada de uma cena familiar, desfaz-se do mito, ou do Poeta, para ser simplesmente um homem, que, além de sofrer pelas demandas sociais, além do romantismo desmedido, do amor à humanidade e da habilidade com os versos, também sabe ri de si mesmo e provocar o riso, desfrutando da sensibilidade humorística, sem incorrer na vulgaridade.
ResponderEliminarAdmirável arte somada ao talento e à elegância de um fazer poético de uma fonte inesgotável de sabedoria e inesperada beleza.
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Boa semana, A.
Me fez rir. Me vi no seu texto, no ronco, na apnéia. Fiz um exame do sono e descobri que quase não durmo.
ResponderEliminarBem interessante falar deste ser real.
A roncopatia é chata Poeta!... Diversas são as causas e cada caso é um caso… mas na verdade não há harmonia que resista quando a outra cara metade ressona e não nos deixa pregar olho... geralmente costuma funcionar ( mas não se tem como garantido), o método tradicional da cotovelada e o grito já cheio e farto “Vira-te!!!”
ResponderEliminarBons sonhos ainda assim...
Abraço daqui...
Muito bom...Identifica com humor e um pedaço de fantástico o que muitos sofredores desta, se pudermos chamar patologia, gostariam nos transmitir. Nunca encontrei tão delicada e poética forma de mostrar o sofrimento incompreensível daquele que sem saber e querer faz também sofrer... Se me permitir, gostaria de afixar na minha zona de trabalho (devidamente identificado o autor) este seu poema que acho extraordinário.
ResponderEliminarBom sono.