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terça-feira, 4 de outubro de 2016

Entre o Bojo e o Gargalo

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No bojo de uma garrafa,
Sem substância, mas placebo,
Repousam olhares que eu percebo,
Estreitaram-se pelo gargalo, numa estafa,
Não sabem que dali já ninguém os safa,
   Mas, do bojo, só vêm o que eu bebo!...

Nadam dentro do que beberam,
Fora do que bamboleiam, no bojo,
Cores vomitadas do que comeram,
Cativeiro de vidro onde nasceram,
      E olham para o que bebo com nojo!...

Esbelto e sadio,
Passou pelo gargalo,
Passou o estreito do vadio,
Dentro do bojo, forma-se um halo,
Evapora-se o vinho bebido com regalo,
E à medida que o bojo se enche de vazio,
Enche-se o bandulho com um vapor sombrio;
Ainda pareceu vir à tona uma cura de intervalo,
Depressa se afundou entre sorvos e o extravio,
Onde se alimentava de um ou outro exalo,
     E se saciou com a fome e o fastio!...

Quis Deus virar a garrafa ao contrário,
Lá deslizou pelo gargalo, até ao bandulho,
Mas, por mal contadas contas do seu rosário,
Já seu fígado era de muito vinho um sacrário,
Tão tamanho do bojo inchado e sem orgulho,
   Ao abandono no bojo da vida, fim solitário!...
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segunda-feira, 25 de julho de 2016

Doce Vinho de Rosas Brancas

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Vossos néctares de castas francas,
Gratuitos vícios de fragrâncias mil,
Transformaram-se em água vil,
    Leve vinho de rosas brancas!...

Nasceste rosa,
Cresceste entre vinhas,
Foste uma videira graciosa,
Quiseste ser poética prosa,
Poema nas entrelinhas,
    Poesia silenciosa!...

Cuidaste de todos os jardins,
Colheste as tuas uvas saborosas,
Esmagaste-as e fizeste-as ditosas,
Confundiste vinhas com jardins,
Em teus roseirais deste festins,
    Jardins de brancas rosas!...

Acabaram as rosas no fundo de um copo vazio,
Sem uma gota d´água que lhes matasse a sede,
Embranqueceu o fígado num branco jardim frio,
   Rosas ébrias, entre brancas pétalas e a parede!...


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