.
.
.
Com um dos pés na cova,
E outro meio desenterrado,
Enterra-se o velho reformado,
Acompanhado pela léria da trova,
Verso em fuga do vento acovardado,
Medo que não passa e se renova!....
Chegados os dias da negação,
Trazem a tristeza e a depressão,
E toda a vontade incrível de rir;
Chora-se nela uma muda nação,
Mamuda e nunca farta de servir,
É sua a mama acabada de mungir,
Serve versos em plena deserção,
À
trova do medo em concepção!...
Com um pé na cova que cavou,
Cava sua cova cavada à espera,
Já
nas covas o poeta desespera,
Espera a espada que atraiçoou,
Enterrado no muro que venera,
Junto à coragem que desertou!...
Veio mais um e já são três pés,
A mesma cova e três escavados,
Acabados num profundo revés,
Dentro
da cova dos enterrados,
Lideram escavações de lés-a-lés,
Cavam sete mares os encovados,
Lideram espuma dos revoltados,
Vão-se na cova das novas marés!...
É a última trova dos covardes que passam,
Como os ventos matreiros que fogem de um País,
Velhos versos em fuga que muitos poemas desgraçam,
Neste País de falsos poetas que de poetas
se disfarçam,
E cantam o roubo de uma trova a um Portugal infeliz!...
.
.
.