.
.
.
Quando amamos os cravos que nos
libertaram,
E passamos mais de trinta anos sem os
regar,
Não podemos negar,
Nossa culpa pelos cravos que secaram,
E se culpamos aqueles que nos roubaram,
De sermos água a evaporar,
Somos
os culpados que não queremos culpar,
E a culpa já viúva,
Ainda antes de ser casada,
Assenta-nos como uma luva,
Essa que segurou o guarda-chuva,
Um guarda atento que regar não deixava,
O símbolo daquele cravo que secava,
E continuou secando,
Enquanto fomos regando,
O jardim de quem se governava,
Com o que nos ia roubando,
Legitimado pelos votos,
Dos devotos,
Que nos traidores foram votando!...
Agora choramos os ideais dos cravos
traídos,
Sobre o suave deboche-rosa dos trampolineiros,
Os laranjais continuam regados com votos de cordeiros,
Nas searas queimadas arderam foices e
martelos vencidos,
Ao mesmo tempo que um grupo menor de
parasitas indefinidos,
Continuam no centro das ilusões
prometendo água aos pobres carneiros,
Esses animaizitos que nem se importam de comer os cravos já
ressequidos!...
.
.
.