sábado, 8 de novembro de 2014

O Fazer Feliz da Mentira


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Abordavam a ansiedade do menino, delicadamente,
A bem de suas verdades que a mentira se não visse,
Sorriam doces ameaças, muito educadamente,
Pedindo que fosse educado e mentisse,
Ofereciam-se a quem se omitisse,
Ao mentir verdadeiramente,
Com a verdade aparente,
 E se da verdade fugisse,
Apenas seria diferente,
    Do muito que sentisse!...

O menino fora muito bem criado,
Por educadores pobres sem pobreza,
Sabe o verdadeiro valor de sua íntegra riqueza,
Senhores e senhoras querem-no na condição de comprado,
Prometem-lhe verdadeiros sorrisos e um passaporte acreditado,
Não lhe pedem que fraqueje aos olhos vendados da franqueza,
Nada custa mentir, se mentindo passar por bem educado,
  E faz feliz a velha verdade tratada com ligeireza!...

O menino fez-se o mesmo de si,
Cresceu com a verdade que não mudou,
É verdade que a verdade envelhece por aí,
E há velhas mentiras que nascem aqui e ali,
Perguntam à inocência que as censurou,
     Porque bate com a verdade e sorri!!!...
     Lá se foi perdendo a compostura,
Na descompostura que foi crescendo,
Fizeram-se templos de imaculada lisura,
Demitindo-se da verdade e, se porventura,
Nas costas largas dos outros se foram lendo,
Deixaram de ser costas ainda que as sendo,
Omitiram sua extensão em toda a largura,
    Do nada valer de que se foram valendo!...
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1 comentário:

  1. António Pina em “O Fazer Feliz da Mentira” finaliza a trajetória histórico-literária da sociedade, onde, às vezes, fica claro que tudo se transforma, exceto o Poema, em si, como uma desigualdade, outras vezes, como uma forma de ratificar a verdade, que, por mais transparente que seja, ou que aparente ser, não deixa de ser um grande mistério, por tão evidente, trajetória essa que priva a Poesia de ser sua própria depositária.

    A sintonia entre a forma e o conteúdo apresenta na dinâmica uma ‘proclamação de verdades’ ou uma confissão, enquanto materialização da liberdade dos versos. Entretanto, é pela metamorfose da aparência e da razão aliada à inocência, que o alicerce poético reflete as subversões do conhecimento, transformado pelo efeito enfático inserido no Poema e exercido pelo poder da ironia e outras formas de contradição, onde transparece a omissão, ou a mentira, dependendo do contexto, ou ainda, a verdade.

    Do ‘Menino ao Homem’, e na força da confissão capaz de iluminar caminhos e deflagrar os desvios do percurso com a manutenção de uma verdade sem nenhuma espécie de sombra ou dúvidas, apoiada e justificada pela única manobra pela qual a Poesia d’Alma resiste, e existe, a revelação.

    Consumida a aparência, ou a máscara, os sonhos. Ou a janela das muitas asas por onde o sonho é possível – e a verdade, como a única alternativa oportuna.


    Boa noite.

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