quinta-feira, 2 de junho de 2011

Tão... ironia

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…Tão estafado de tudo,
Tão mudo!..
Tão vazio do que não dou,
Tão aprendiz de meu estudo!...
Tão farto do lugar onde não estou,
Tão cheio do nada que te dou,
Tão certo de mim, sobretudo…
Tão irónico que sou!...

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2 comentários:

  1. Entre o cansaço e a urgência, o verso corrido. A poesia. E o poema “Tão... ironia” refresca e incendeia a tela d’Alma.

    Podemos rir de nossas angústias. Ou podemos chorar. Podemos até desesperarmo-nos, ou podemos ignorar. Muitas são as formas e o modo como podemos expressar nossos sentimentos. Sejam eles de amor, de paixão, de saudade, de revolta, ou simplesmente de cansaço. Há quem grite. Há quem fale baixo. Há quem chore. Há até quem silencie. Há quem durma. Há quem perca o sono. Há quem camufle. Há quem não. Há quem escreva cartas. E há quem escreva poemas. Difícil, porém, quem torne a ironia um aspecto preponderante de sua obra poética, enquanto ironiza seu próprio cansaço, ou do outro, com requinte à comunicação estética no seu modo de ser e de se afirmar perante o uniVerso.

    A poesia d’Alma tem dessas coisas. E muito mais.

    Afirmativo no todo e negativo nas partes, apesar do primeiro verso [“…Tão estafado de tudo,”] ser contrário o bastante para negar, a auto-ironia está no fato de que o cansaço é a solução, não a explicação. Desfeito o susto, ou a impressão, a confirmação: “Tão mudo,”.

    Não há intenção de contestar a temática, mas se considerarmos a produção poética baseada na virtude, automaticamente estaremos contradizendo-a [“Tão vazio do que não dou,”], embora não saiba dizer com precisão a quê. Ou a saiba, e não queira. Afinal quem de nós não gostaria de poder dizer: “Tão aprendiz do meu estudo!...”? Seria um mérito apenas para uma camada restrita da humanidade? Se fosse, que critérios seriam adotados para determinar os privilegiados? A sagacidade? A beleza? Ou apenas a determinação d’Alma, que não foi irônica o bastante com relação ao sujeito, mas sim, à sua ação, cujo sentido é elevado através da serenidade do verso?

    Na criação poética, a oração e a razão. Uma doutrina estética. Os versos [“Tão farto do lugar onde não estou” / “Tão cheio do nada que te dou,”] marcam os paradoxos de múltiplas faces: ‘onde não estou é lugar que me cansa’ e ‘o que não te dou me preenche’. E não duvidamos da sinceridade [“Tão certo de mim, sobretudo…”] da confissão, imagem ou reflexo.

    No fim do poema [“Tão irónico que sou!...”] o caráter desfaz qualquer dúvida quanto à veracidade da temática e é motivo de surpresa. Qualidade da criatividade poética.

    Não é fácil ser verso e reverso no vide verso da poesia d’Alma. Não é fácil, mas é simples.


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    Bom fim de semana, A.

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  2. tão, tão...

    gostei dos trocadilhos... que fazem sentido.

    uma boa semana!

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