quarta-feira, 8 de junho de 2011

Imperfeito Hermafrodita




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Deslizando entre precisos raios de sol,
Ao longo do afiado fio frio da navalha,
Barbeia-se a calma de um caracol!...

Ao longo do fio da mesma navalha,
Espreguiça-se a serenidade de outro caracol,
Na direcção oposta entre raios de Sol!...

Imóveis, no meio exacto do frio da navalha,
Dorme a tranquilidade de um e outro caracol,
Cortando-se da noite, um escondido raio de sol,
Adormece no fio perfeito da lâmina que falha!...

Um corte viscoso escorre ao longo do fio,
Perfeição lenta da lenta morte do cio!...

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2 comentários:

  1. Perfeito!!!

    resta-me deixar-lhe

    Um Beijinho
    da
    Assiria

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  2. Premeditadamente posicionado, “Imperfeito Hermafrodita” é poema que caminha entre linha e direção, fio e foco, num jogo de duplo movimento aparentemente contraditório.

    A renovação dos temas no processo artístico na evolução da arte d’Alma não se esgota. O uniVerso é diVerso. E encantador. Num só golpe não caminharemos ao encontro nem do meio, nem do fim. No máximo de encontro a um deles. Temos de puxar diferentes fios e cruzá-los entre si, caminhando entre linha e percepção, imagem visual e poética. O que está latente na poesia é a via no fio da faca: entre alto e baixo, ou noite e dia [“Deslizando entre precisos raios de sol, / Ao longo do afiado fio frio da navalha,”].

    A paisagem e os protagonistas. E a biologia. Durante o dia preferem o anonimato e à noite, a reprodução e a alimentação. Sob o prisma da poesia, a imagem reflete a posição: de frente para a fronte. As duas extremidades apontam direções distintas. No meio do percurso [“Imóveis, no meio exacto do frio da navalha,”] a surpresa e os versos encontram-se para unir suas extremidades com sinônimos e antônimos, respectivamente: calma e serenidade; dia e noite.

    D’Alma beira o que não é expressivo e explora a sensibilidade acenando à placa de trânsito [“Dorme a tranquilidade de um e outro caracol,”]. Através dos símbolos e dos sinais [“Cortando-se da noite, um escondido raio de sol,”], atravessamos o fio [“Adormece no fio perfeito da lâmina que falha!...”]. Ilesos. Avançamos.

    A metáfora não é zoológica. É circunstancial. O conceito não é fim da reta da poesia. O fio do poema, ou da faca, encontra-se na cisão do hermafroditismo caracterizado pelo espaço de tempo em que ele se manifesta e no resultado esperado. “Um corte viscoso escorre ao longo do fio, / Perfeição lenta da morte do cio!...” e a teoria dos condicionantes: se escorrega não corta, se não corta não sangra, se não sangra, não há desejo. Se não há desejo...

    Optar pelo caminho secundário, ou pela trilha capaz de multiplicar as possibilidades de significação é proporcional à experiência poética. A reflexão. Se não há caminho, há os caminhantes e a esses, a poesia, d’Alma.

    Caminhemos, então.

    ¬
    Bom fim de semana, A.

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