sexta-feira, 3 de junho de 2011

O Erguer da Queda


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A queda do arlequim mirabolante,
Que, divertido, nos fez rebentar de cansaço,
É gargalhada que ergueu o circo a outro palhaço,
Gritando, agora, vogais roucas de uma consoante,
Que rasgam as goelas de um histrião hesitante,
Derivando entre a revolta e o frágil ameaço,
De partir seus pés de barro degradante!...

Todos se riram da anunciada desgraça,
Todos choraram chalaças de tanto rir,
E esse palhaço ainda nos ameaça,
Com o palhaço que está para vir!...

Muitos morrerão de riso,
Muitos palhaços rirão até morrer,
E poucos compreenderão o aviso!...

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1 comentário:

  1. O discurso poético, cúmplice do discurso político do cidadão, se efetiva no clamor d’Alma, e, juntos, procedem da realidade político-social às vésperas das eleições em Portugal com o poema “O Erguer da Queda”.

    No palco, um picadeiro. A cena e os personagens. Os palhaços e a palhaçada. Na plateia, a curiosidade pelo desfecho. Mantendo a seriedade da cena, ou do espetáculo, a comicidade da tragédia [“A queda do arlequim mirabolante, / Que, divertido, nos fez rebentar de cansaço,”] eleva a linguagem política ao gesto social [“É gargalhada que ergueu o circo a outro palhaço,”].

    As acrobacias políticas [“De partir seus pés de barro degradante!...”], diferentemente do recurso linguístico que teve sua origem no fato e condiciona sua razão na ação, são muitas. As aparências enganam, algumas, ou todas as intenções políticas, também. Para alcançar a poesia d’Alma é necessário romper com as camadas mais superficiais do poema, misturar-se entre os versos e atentar às contradições que suscitam das estrofes [“Todos se riram da anunciada desgraça, / Todos choraram chalaças de tanto rir,”] que se interligam e dialogam.

    Politicamente atuante, o fazer poético, tanto quanto o caráter, segue em linha reta. Livre de qualquer obstáculo cumpre com seu papel social na comunicação, permitindo que cada um mantenha sua opção na unidade [“Muitos morrerão de riso, / Muitos palhaços rirão até morrer,”]. Na totalidade estimula a produção expressiva associada ao seu objetivo crítico e inscreve sua chama ao verso “E poucos compreenderão o aviso!...”.

    [Aplausos]


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