quarta-feira, 11 de janeiro de 2012

Embriaguês Ectópica


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Ninguém soube explicar aquele emprenhanço,
E menos ainda o esgazeado sorriso simbólico,
A escorrer do cunilingus que apontava o tanso,
E o tanso refugiando-se desse caso tão insólito,
Via o caso afirmar ser um caso de teor alcoólico;
Um copo suspeito era esvaziado sem descanso,
Por uma garrafa que se oferecia ao espetanço,
    Abrindo o gargalo atrás do balcão melancólico!...

Um copo, uma garrafa e um garrafão,
Trocavam felátios à golada muito devagarinho,
Alguém se veio sobre uma conversa de violação,
Um fulano tal classificava o agressor de carrascão,
Enquanto  uma garrafa era esvaziada com carinho,
Já Sicrano de bandulho cheio se retirava de fininho,
Quando Beltrano disse com uma voz de borrachão:
-Cá pra mim quem a fodeu foi o vinho!...

Cus de garrafa ajudaram a ver,
A utopia de tão mau fígado abstinente,
E ajudavam a esconder o estado condizente,
Com a veia porta que à porta se deixou adormecer,
Fechada estava a porta ao que da tripa deveria converter,
Por causa de uma zanga com a hepática pouco competente,
Deixando a veia cava entregue ao descanso quase permanente,
     Enquanto garrafas e garrafões fodiam quem os andava a beber!...

Deu-se assim um popular caso de visível inchaço abdominal,
Classificada por todos os santos da santa tasca pouco católica,
De figadal emprenhanço concebido pela garrafa diabólica,
Que fora seduzindo aquele sedutor fígado virginal,
Acabando por dar à linguagem corporal,
 A voz de uma gravidez alcoólica!...

Na primeira ultrassonografia,
Logo pôde ver-se um pequeno princípio,
A mover-se entre o fígado degradante e a ironia,
Qualidade dúbia do estado degradado da ectopia,
   Na gestação passada de um alcoólico particípio!...
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segunda-feira, 9 de janeiro de 2012

Abandonadas




Sentir tua sombra instintiva,
Que minha luz apagada empalidece,
Impele-me à masturbação que acontece,
Numa cruel raiva infectada de leitura passiva,
Só tolerada por minha rejeitada maluqueira viva,
Que do teu indiferente Amor meu desejo padece!...

Sobrevoo velhos declives das antigas histórias benditas,
Busco esquecidas palavras abandonadas que me enganam,
Na forca estranha de entrelaçadas odisseias mal escritas,
Em cordas distorcidas de nossas mentiras restritas,
Cópias das cordas que as verdades esganam,
Escrevendo rabiscos dos quais se ufanam,
As cópias sábias de ignoradas eruditas!...

Meu prazer insatisfeito é incomensurável,
Sempre contínuo e para todo o sempre incompleto,
Meu desespero partilhado é um forte desejo circunspecto,
Perdido entre a memória em carne viva do teu sexo mutável,
E a morte do Amor por mim que em mim é dor insuportável,
Sepultada no orgasmo incompleto de um divórcio discreto!...

Moldo naus apodrecidas com páginas amantes,
Para navegar oceanos de palavras que me afogam,
E me salvam de orgulhosas vergonhas degradantes,
Em cada capítulo inacabado de solidões frustrantes,
Que sobre inconfessáveis troca de solidão dialogam,
Ensaiando prévios monólogos que as palavras rogam,
Aos pés de vivas mágoas de abandonos estonteantes!...

Sou agora uma cópia de palavras prostituídas,
Insinuantes nas esquinas de livros que ninguém lê,
Sou a palavras infectada de minhas estimadas feridas,
Alveolar morfina contrafeita de Afegãs papoilas destruídas,
Só não sei se sou o que não confesso ser da mulher que não se vê,
Por incrustada palavra que na cavidade de minha solidão fica à mercê,
Fechando-me no medo do abandono de abandonadas palavras amigas!...

Voam alvéolas amarelas dos parágrafos descontinuados,
Esvoaçam intermitentes no rasto intermitente dos insectos,
Letras de caça abatidas nas palavras ímpares dos pares directos,
Que se refugiam na pele das palavras com diferentes significados,
Parecendo iguais na descrição das lágrimas de olhares encurralados,
Nos pastos da cabra que há em mim entre ovelhas de negros afectos!...

Continuo masturbando-me entre minha dedicada leitura,
Enquanto procuro o único orgasmo que nunca soube atingir,
Restando-me o prazer inacabado no incógnito final da procura!...
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sexta-feira, 6 de janeiro de 2012

...Tentação

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“ ...Nem Sol nem Lua,
Apenas esta ânsia de ser tua,
Mais para lá do amor e sonho meu,
Ser o desejo frutado no sonho teu,
Timidez de Eva vestida e Alma nua,
     Paraíso anoitecido que amanheceu!...”

A sombra iluminada de uma serpente,
Oscila entre o abraço hipnótico do luar,
E a sugestão do crepúsculo impaciente,
Veste neblinas nuas de fogo impudente,
Perto dos lábios no outro lado do mar,
Ateando os infernos que ardem no olhar,
Cegueira de incontrolável tesão insolente,
   Capaz de todos seus mares incendiar!...

...Nem lua nem Sol,
Tentação de maçã,
Canta pela manhã,
Cantar de rouxinol,
Isco híbrido e anzol,
No amor e na romã,
Anagrama e lençol,
Chá doce e hortelã,
A mar perdido...
                                        seu farol!

Alheio,
Ainda viu um seio,
Espreitar da seda macia,
Indiferente à outra mama vadia,
Nem sabe a sorte que tem estar fora do enleio,
Poupado ao embaraço e confusão  entre a noite e qualquer dia!...


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quarta-feira, 4 de janeiro de 2012

Lacr(i)sê-lo


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Desprezara apostar toda a indiferença,
No papel castigado por carimbos arrependidos,
Pensando, ainda hoje, no que seu dinheiro pensa,
Deixou de pensar nas marcas carimbadas pela ofensa,
Por saber apostas perdidas na queda dos anjos já caídos,
Chancelados por estranhos sinetes dos sentimentos falidos,
Em distantes céus esmagados entre o lacre e a querença,
Dos baixos relevos por relevantes lacres derretidos!...

Ao segundo dia,
Caíra-lhe no esquecimento a falência do primeiro,
E do presente!...
Nem o coiro da capa queimada pelo ferro lhe doía,
Tal era a confiança no efeito do terceiro,
E ainda mais forte era o plágio da analgia,
Que a dor presente a outras conhecidas dores recorria,
    Selando a mentira dos dias com lacre verdadeiro!...

O terceiro dia é-lhe selo que não desiste,
Não sido uma segunda estampilha de tê-lo,
Como primeiro dia que adiante de si persiste,
Na teimosia de ser um tempo futuro de sê-lo,
    Sendo Futuro do Passado esquecido que resiste!...

Continuam a cuidar das feridas,
Vendendo-as ao mundo como cicatrizes,
Vivos sulcos de aparentes lágrimas infelizes,
     Por onde ainda correm pecados de mil vidas!...

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domingo, 1 de janeiro de 2012

... em Vão!

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...Olho em frente,
E tento não enlear-me na ilusão,
De acreditar que tudo será em vão,
E em vão seja a ilusão do Sol nascente,
Que nasce em meu olhar poente,
    Luz e Calor de minha razão!...
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sexta-feira, 30 de dezembro de 2011

Anos Novos


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No entrar e sair,
Trás o vai-e-vem o vir,
Penetrando em novos anos,
Podem não ser desejos mundanos,
Talvez uma velha esperança de sentir,
A ideia fixa nos novos prazeres humanos,
Depois de mais um velho ano se ir,
E com ele levar seus velhos danos,
Causados por duros dias profanos,
Esses filhos dos meses ansiosos por sentir,
O estreito das semanas que se dispõem a abrir,
Relaxando as pregas de futuros menos tiranos,
Ainda que possuídos por sedutores insanos,
Sempre dispostos a deixarem-se introduzir!...

Há anos que não deixam saudade,
Deixando apenas a trampa dos dias evacuados,
Há fogo das horas vizinhas de descarada vontade,
Gozando cada minuto de saboreada ansiedade,
E outros anos vizinhos meigamente untados,
Por segundos que segundo os safados,
     Permitem entradas com suavidade!...

Ano novo Vida nova,
Tesão de anos melhores,
Por trás são postos à prova,
    Deixando levar atrás anos piores!...
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quarta-feira, 28 de dezembro de 2011

Passagem...

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Pressinto abrenúncios em teus medos,
Arrebatados pelos agoiros de Satanás,
Esconjuras dos teus possessos segredos,
Com ais de água-benta que o medo te trás,
Rezas ao teu sacro temor para que te vás,
E que logo regresses dos teus degredos,
    A modos que teu medo se faça mordaz!...

Fizeste do teu peito sagrado sacrário,
Onde guardaste pecados escondidos,
Talhados no fogo carnal do teu diário,
Folhas caídas da carne de teu relicário,
Desfolhado sobre os teus temores caídos,
Teu chão de amores virados ao contrário,
    Sangue enclausurado a destempos idos!...

Não viste passar apenas o tempo,
Anos que o vento não te soube mostrar,
Não quiseste ver a brisa daquele momento,
Chamas de velas apagadas por teu tormento,
    Que para sempre te haveriam de iluminar!...

Procuras o tempo perdido,
Na saída do fim de todos os anos,
Mas...
Para mal dos teus enganos,
Quando encontras mais um dia vencido,
Tudo termina no princípio de mais um ano fingido!...
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segunda-feira, 26 de dezembro de 2011

Votos... de Espuma

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Como foi Natal,
Tempo de hipocrisia e coisa e tal,
Ofereci por aí mãos cheias de nada,
E outras de coisa nenhuma...
Todos sabem que a crise é só uma,
Qualquer coisinha que nos foi rapinada...
Imaginaram-se o melhor espumante
                                                                             e a espuma,
Explosão de um fazer de conta petulante,
Feito de efeitos em feitios de fachada,
Celebrados pela agitação desejada,
Da nossa sede que se esfuma,
Salivando a palavra embriagada,
Na cuspidela que se acostuma,
À boca que a sinceridade desarruma,
No despacho de mais uma Natividade celebrada!...

Já ninguém valoriza a crise de valores,
Na preguiça desta sociedade desumanizada,
    Desvalorizada por quem jamais morrerá de Amores!...
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terça-feira, 20 de dezembro de 2011

Natal...(A)prenda

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Embrulhou a solidariedade,
Numa caixa de promessas florescentes,
Com as lágrimas sujas dos indigentes,
E enfeitou o evento com ventos de vaidade,
Polvilhados de reconhecida notoriedade,
Pela carteira competente;
Faltava o laço!...
Mas esse laço, nó cego de carinho,
 Era a prenda que fora da caixa ria baixinho!...

Quero prata,
Quero ouro e diamantes,
Beleza intacta,
Quero minha mulher e amantes,
Quero preguiça, sorte e admiração,
Escravos, concubinas, exaltação...
Quero o fim acabado no início como dantes,
Regredir na opção,
E gulosar a repetição,
Do sabor do meu poder,
Onde tudo voltará a ser,
A força de  minha razão!...
Então, até deus se prostrará,
Aos pés de tão poderosos eu;
Será eficaz a mensagem,
Para que me seja prestada vassalagem...
E tudo mudará!...
No esquecimento o que prometeu,
Haverá todos os dias um só natal,
E, -pobre infeliz, -não será o teu,
     Mas única e tão somente o meu!...

Há Almas assim!...
Almas tão cheias de nada,
Pesando universos de confusão,
Sobre a vontade da compreensão,
Que muito longe daquela Estrela,
Não trocando a avareza descarada,
Mergulham na vergonha roubada,
Nunca à pobreza estendendo a mão!...
 Há almas assim!...
A tropeçar no Natal indigente,
Pisando o Natal do mundo,
Ignorando o sentimento profundo,
De ser pai de um Jesus diferente,
Sendo igual ao de toda a gente,
A Esperança na imortalidade feliz,
Alimentada bem fundo,
    Por toda uma Alma nutriz!...

Mesmo o hipócrita
                                          refém,
Do egoísmo ausente de dor,
O desejo de um natalício calor,
Será sempre um apelo divino,
Que poderá converter o mal,
Na inocência de um menino,
      Nascido numa Noite de Natal!...

Olhos de luz cruzando a Natividade,
Como que enlaçando desejo e felicidade,
Numa volátil lágrima de cristal,
Talvez diluída na austeridade,
  De um brilho frágil de Natal!...

Ainda se encontra por aí,
Bem à nossa frente,
Um pouco de quem sorri,
No coação de muita gente,
Gente simples, simplesmente,
Tão simples por pouco ter,
Dando tanto gentilmente,
Tão gentis por assim ser,
Embrulhando todo o Amor,
Futuro que irá nascer,
Com a felicidade de ser Mãe,
Não só de seu filho, seu Senhor,
     Mas de todos os filhos também!...

Deus meu,
Ajudai-me a ver,
   Que sentido fazer!...
Guiai-me... um sinal fugaz,
Pelo estábulo à manjedoura,
Onde possa ser eu capaz,
Afagar macio feno abençoado,
O sabor da Esperança duradoura,
   O nascimento do verbo encarnado!...
Da cruz, no cântico, na bondade,
Pela tolerância, a piedade,
Mensageiro de Paz, Amor louvado!...

 Não!...
Não mereço tal privilégio,
Seria um sacrilégio,
Um pretensioso pecado,
De um pecador mil vezes arrependido,
Mil vezes repetido,
Ainda que mil vezes perdoado,
   E outras tantas decalcado!...

Ainda se encontra por aí,
A felicidade de ser Mãe,
Não só do filho, seu Senhor,
Mas de todos os filhos também...
A Esperança da mortalidade feliz,
Alimentando carinhoso Amor,
Por toda uma Alma nutriz,
Volátil lágrima de cristal,
Talvez já diluída no furor,
    De um fraterno brilho de Natal!...
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segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

Pai natal

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O Inverno pressente-se muito perto...
Partilhemos algum desse nosso  calor,
Pese embora, nos achemos , decerto,
Íntimos arrefecidos deste peito aberto,
Expostos à neve branca de muita dor,
Disfarçada de um vermelho impostor,
Esse quase santo demasiado esperto,
Bonachão dos pais donos de riqueza,
Padrasto por mimo de mães coberto,
Pai natal cheio de negro e frio interior,
Esquecido dos pobres com fria crueza,
Deixando embrulhos vazios à pobreza,
Sonho de todos os dias com fé e fervor,
Inocência colorida de um crer sonhador,
Sincera crença acarinhada com a certeza,
De receber daquele mentiroso senhor,
A única prenda da inocência indefesa,
O simples desejo de receber só Amor!...

Afinal, o diabo desse barbudo muito lindo,
Trás coca-colas cheias de desejos consumados,
Pelo suor dos  verdadeiros Pais que foi consumindo,
Entra no coração aliciado a rir e da tristeza sai rindo,
E tudo que que dá é nada aos pobres coitados!...

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Algures um menino pobrezinho,
Ri embrulhado num calor de felicidade,
Abraçado por Pais felizes cheios de carinho!...
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