domingo, 16 de dezembro de 2012

Alienados

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Alienaram a razão de sermos,
Alma livre em expandido brio,
Insurgem-se outros alienados,
Abusando dos mesmos termos,
Sabemo-los opostos ilimitados,
Na direção de iguais atentados,
Ao encontro de estados ermos,
O estado cego de os querermos,
No próprio interesse sem o brio,
Egoísmo livre aos mais votados,
Por escolha nua oferecida ao frio,
Fria vitória do norte e global trio,
Incógnita de outros interessados,
Esses incógnitos sem o sabermos,
Imensuráveis desígnios avaliados,
Por ditadores de ignotos estados,
Em democrático estado sem brio,
Pisando patriotismos explorados,
De vampiros com tal sangue frio,
Que em espiral de total desvario,
   Alienam seus filhos já alienados!...

Todos juntos, todos iguais,
Opõem-se à oposição oposta,
Todos bem dispostos à mesma bosta,
De serem a mesma grande merda dos demais,
Promovidos à mesma trampa com que foram feitos seus pais,
Legado de gerações herdeiras da incógnita proposta,
Em enigma afiado por criminosos punhais,
Assassinos de perguntas sem resposta!...

Cada Homem arrancou um punhal,
Das costas de outro Homem apunhalado,
Todos os Homens se ergueram de seu castigo brutal,
Sangraram injustiças até aos gritos de um jornal,
  Aí arderam as palavras do poder alienado!...

Os rios espremidos vão secando,
No sopé arruinado dos montes,
Vão ruindo vértebras das pontes,
Sob parasitas que vão arruinando,
A redenção dos que vão pecando,
Pecado inocente sem horizontes,
Que fora de si se vão fechando!...

*

E nesses horizontes bem fechados,
Há um horizonte que se vai aproximando,
Para alienar o sangue dos alienados!...


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2 comentários:

  1. A política ao sabor e saber das palavras em suas lavras poéticas.
    Boa semana! Abraço

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  2. A metalinguagem de “Alienados” é instigante. Comentar esse poema é entrar no uniVerso das letras e das imagens, língua e linguagem. No primeiro instante não sabia onde era meu lugar no poema. Ou, se pelo menos havia um lugar para mim. Violentamente poético, a leitura enraizou-se na carne, sugou o sangue, expôs a ferida. E de algum modo, me condenou à solidão. Ou à alienação.

    A expectativa daquele ‘eu dentro de mim’, me deixou em pânico, e por ser tão sensível que até a mais legítima indiferença se rende. Já aprendi, e natural pela convivência com seus poemas, a retirar de cada um deles uma lição, de vida e de pele, que suas temáticas transformaram-se num lugar de questionamento, de certezas e de incertezas, na busca por aquilo que é essencial e me torna humana. Ou mais humana e menos mecânica.

    Passado o susto, retorno à minha leitura com deslumbramento, agradecida pela surpresa, desse estado, onde a realidade e a alienação se esbarram com a razão e com os versos – realidade e poesia.

    A tela negra à disposição do título de aparente facilidade, distrai o olhar. A influência com o conceito não podia ser mais próxima, desde que não fosse o meu, ou o nosso sangue. A visão, por mais ilustrativa que seja, é real. E é essa a imagem que A. nos obriga a enxergar através das metáforas.

    Sua sensibilidade literária com relação aos dramas sociais faz de cada estrofe um registro poético da história. O mundo avança. O poema também. Não apenas pela Arte que ganha a dimensão da crítica, mas pelo estado contestatório da alienação. E no fundo, tal qual a democracia que nos é apresentada, é um amanhã escrito com o hoje de ontem. Quando seria necessário, e urgente, acreditar que também podemos avançar, e, ao escrever um final diferente com aquele horizonte, ser bem mais que uma imagem alienada.

    E agora sei que o poema dói porque agride o intelecto. E como dói.

    Boa semana A.

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