terça-feira, 21 de junho de 2011

Suicídio

.
.
.

Tenso olhar sobre o elástico,
Do abismo esticado até ao limite,
Esfuminho morno em sombra de grafite,
Esvaindo-se num doce silêncio sarcástico,
Amor calmo de moldado adeus plástico,
Ceifado rabisco que a vida omite!...

Fénix em suas cinzas naufragadas,
Pairam sob suas penas desvanecidas,
Flutuando sobre as suas lágrimas suicidas,
Diáfano pecado de testemunhas derramadas,
Na própria tristeza das almas devassadas,
Pela Esperança morta de asas caídas!...

Vermelhos lagos,
Adormecidos em olhos vagos,
Jazem brancos e calmos,
A meia dúzia de palmos,
De vazios olhos abandonados!...
.
.
.




1 comentário:

  1. Para além da poesia banhada de sangue e lágrimas, o poema “Suicídio” corresponde à imagem de um quadro insólito, na história que é de morte premeditada, e por isso mesmo inovadora.

    O primeiro olhar mostra o óbvio. O segundo o poema. Mas é no terceiro olhar, repuxado pelo elástico da tensão que habita nos versos [“Tenso o olhar sobre o elástico, / Do abismo esticado até o limite,”], e alongados ao máximo, que nos entregamos à expressão poética das figuras de linguagem que delineiam o quadro. Entre a realidade e a ficção, as tintas [“Esvaindo-se num doce silêncio sarcástico,”]. A aceitação do sofrimento [“Amor calmo de moldado adeus plástico,”] enquanto parte do crescimento e do conhecimento é agente de transformação, não de morte [“Ceifado rabisco que a Vida omite!...”]. Ou de fim anunciado.

    A leveza. Enquanto a fênix [“Fénix em suas cinzas naufragadas, / Pairam sob suas penas desvanecidas,”], símbolo do renascimento, da ressurreição e da esperança, é capaz de renascer das próprias cinzas, a estrofe floresce da oposição à subjetividade rumo à objetividade que reside na razão. Poética e não poética. Da cegueira relativa [“Diáfano pecado de testemunhas derramadas,”] que conduz à vitimização [“Na própria tristeza das almas devassadas,”], o fim. Não provisório, ou promissor: “Pela Esperança morta de asas caídas!...”.

    A harmonia. A arte dos detalhes [“Vermelhos lagos, / Adormecidos em olhos vagos,”]. A pintura e a poesia, imagem e palavra escrita, em versos, rimas e sentimentos, descrevem o desfecho da cena, imortalizando a agonia [“Jazem brancos e calmos,”] e esboçando a penumbra das almas em completo abandono [“De vazios olhos abandonados!...”].

    O poema não morre. Não há lição. Mas há aprendizagem. O amor à vida é o medo da morte.


    ¬

    ResponderEliminar