domingo, 19 de junho de 2011

Cartas e Outros Destinos

.
.
.

Procuro teu esotérico abandono ocultado,
Pisando tuas pérolas de rosas desfeitas,
As pegadas inebriantes que tu rejeitas,
Rasgados estigmas nas mãos marcado,
Entre leituras em teu livro marcado,
Esse dicionário fútil de linhas direitas,
Bíblia Sagrada de palavras desfeitas,
Amor traduzido de triste significado!...

Rios de Vida que das tuas mãos escorrem,
Vidas nas linhas que teu Destino gravou,
As mesmas linhas que a Vida consagrou,
Rumos de certezas escritas da desordem,
Incertezas de dentes ímpios que mordem,
Mãos mordidas por mãos que alimentou!...

Folhas de chá flutuando em ti,
Chávenas de ópio do teu ser que és,
Flutuas de ti no ventre de ventos e marés,
E te fundes na nuvem pintada que sorri,
Nuvem imaginada da imagem de si,
Qual céu escravo sob teus pés!...

Setenta e oito virgens adivinhas,
Sortes desejadas se assim o quiseres,
Mil homens desejados a desejar mil mulheres,
Quatro bordéis com catorze tentações miudinhas,
Dez infelizes marcadas por mentes mesquinhas,
Sobrando mais quatro figuras às quais aderes,
Vinte e uma putas prontas para trabalhar,
Um arlequim que te fará rir ou chorar,
Respeito do respeito que tu impuseres!...

Ouro lunar de ofuscado brilho,
Oferta imposta de tão medrosa e ingrata,
Comprada no ritual da felicidade ilusória,
Retrocesso à inocência infantil do sarilho,
Ao ajoelhar no perdão do Cristo de prata,
Adeus à esperança de conquista inglória!...

Encontrei tua Paz num jardim abandonado,
Sobre pétalas de rosas intactas e renascidas,
Meu sorriso rasgou teu largo sorriso conciliado,
Com as mais alegres tristezas de todas as vidas!...

Esse dicionário útil que da Vida germina,
É Livro da Vida que a ilusão não ensina!...

.
.
.


3 comentários:

  1. ...folhas avulsas que a sorte não dissemina.

    Bom domingo.

    ResponderEliminar
  2. Entre o esoterismo e a religiosidade, a procura e o encontro, a adivinhação e as convicções, o poema “Carta e Outros Destinos” inova pela produção temática originada na atividade intelectual repleta de intuições.

    As estrofes estão ligadas por uma progressão de ação contínua e afluindo para o mesmo fim [“Procuro teu esotérico abandono ocultado, / Pisando tuas pérolas de rosas desfeitas,”], mas o fluxo da vida é imprevisível [“Encontrei tua Paz num jardim abandonado, / Sobre pétalas de rosas intactas e renascidas,”].

    As cartas não adivinham [“Vidas nas linhas que o Destino gravou, / As mesmas linhas que a Vida consagrou,”]. A história é de anunciação [“Folhas de chá flutuando em ti, / Chávenas de ópio do teu ser que és,”]. A experiência poética também [“Nuvem imaginada da imagem de si, / Qual céu escravo sob teus pés!...”]. O verso, assim como a imagem que se forma, tem efeito desesperador e incomoda a realidade baseada na hipótese. Ou no seu contrário.

    A estrofe representa o baralho [“Setenta e oito virgens adivinhas,”] completo de Tarot, poeticamente desmembrados: “Quatro bordéis com catorze tentações miudinhas, / Dez infelizes marcadas por mentes mesquinhas, / Sobrando mais quatro figuras às quais aderes, / Vinte e uma putas prontas para trabalhar”. Mas é a personagem principal quem define a grande jogada [“Um arlequim que te fará rir ou chorar, / Respeito do respeito que tu impuseres!...”].

    A lua, não sendo objeto dos apaixonados, e dos apaixonantes, demonstrando uma tensão entre revelar e ocultar [“Ouro lunar de ofuscado brilho, / Oferta imposta de tão medrosa e ingrata,”], obriga-nos a questionar sobre que aspecto o verso predomina. A dúvida desfaz-se na convicção [“Comprada no ritual da felicidade ilusória,”] sobre o ônus e o bônus dos relacionamentos. Nenhuma religião, nenhuma fé, nenhuma feitiçaria muda o cenário [“O adeus à esperança de conquista inglória!...”]. Nem as cartas, nem os jogos de adivinhações.

    Certos, o passado [“Dicionário fútil de linhas direitas,”], o presente [“Esse dicionário útil que da Vida germina,”] e o futuro [“É Livro da Vida que a ilusão não ensina!...”], confirmam.

    E o agora explica: Ao contrário de algumas, ou muitas almas errantes, seduzidas pela ilusão do mundo facilmente previsto pelas cartas, ou pelo destino, d’Alma não erra pelos caminhos do mundo sensível.

    Passado e presente justificam o futuro. O mérito e o demérito também.


    ¬

    ResponderEliminar
  3. Caro POETA;
    Interessante carta, num magnífico poema de grande qualidade que, com toda a certeza chegará a todos os destinos.
    Parabéns.
    Abraço.

    ResponderEliminar