quarta-feira, 29 de junho de 2011

Linhas


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...Do corpo deixou-lhe a maciez,
E uma enlouquecida sensação,
Do cúmplice saborear da ilusão,
Possuída pela sua vestida nudez,
Nas linhas despidas de sua mão!...

Essas linhas entrelaçadas de cio,
Revestidas de imensos fios de tesão,
É vida imortal de um eterno arrepio!...
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domingo, 26 de junho de 2011

Sabichão


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Há imenso amor na corporativa literatura organizada,
Lindos pavões nas entrelinhas visíveis das invisíveis linhas,
Há chaves mestras em informações de mágicas varinhas,
Pálidos copos de leite seguindo a cópia da cópia refinada,
Há um gelo azul no whisky eloquente da linha entrelinhada,
Cultura de sabichão vendida à leitura de gurus e adivinhas!...

Há um livro sem autor,
Sem folhas ou capa de couro,
Há linhas corrompidas com amor,
Nas entrelinhas de muito douto senhor,
Há Cultura que se prostitui a peso d’ouro,
Irresistível erário de insinuante tesouro,
Há obra alheia que paga o plagiador,
Incontestável património vindouro,
Há dádivas de incalculável valor!...

Às páginas tantas,
Na prosápia balofa de quem em si já não cabe,
Há muito saber de quem muito sabendo,
Mais do que aquilo que lê não sabe!...

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sexta-feira, 24 de junho de 2011

Fogueira


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Vejo na sépia do postal cinzento,
Vidraças estilhaçadas perdidas no tempo,
Vejo Pão fumegando, farinha e o fatigado moinho,
O Moer do trigo, milho e do centeio com delicado carinho,
Vejo o calor do fogo humano abafado em fornalhas de vento,
Dissipado fumo popular a fugir do cheiro a rosmaninho,
Vejo fogueiras varridas por alcatroeiros sem alento,
Pedras da calçada cobertas de esquecimento,
Vejo vizinhos a partir para longe do vizinho,
A recordação de um velho sozinho,
Nas cinzas de seu lamento!...

Sobre a fogueira esvoaçou uma saia rodada,
Rosmaninho ardia lento em calcinhas de renda,
Da sépia do tempo ainda ecoa uma gargalhada!...

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terça-feira, 21 de junho de 2011

Suicídio

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Tenso olhar sobre o elástico,
Do abismo esticado até ao limite,
Esfuminho morno em sombra de grafite,
Esvaindo-se num doce silêncio sarcástico,
Amor calmo de moldado adeus plástico,
Ceifado rabisco que a vida omite!...

Fénix em suas cinzas naufragadas,
Pairam sob suas penas desvanecidas,
Flutuando sobre as suas lágrimas suicidas,
Diáfano pecado de testemunhas derramadas,
Na própria tristeza das almas devassadas,
Pela Esperança morta de asas caídas!...

Vermelhos lagos,
Adormecidos em olhos vagos,
Jazem brancos e calmos,
A meia dúzia de palmos,
De vazios olhos abandonados!...
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domingo, 19 de junho de 2011

Cartas e Outros Destinos

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Procuro teu esotérico abandono ocultado,
Pisando tuas pérolas de rosas desfeitas,
As pegadas inebriantes que tu rejeitas,
Rasgados estigmas nas mãos marcado,
Entre leituras em teu livro marcado,
Esse dicionário fútil de linhas direitas,
Bíblia Sagrada de palavras desfeitas,
Amor traduzido de triste significado!...

Rios de Vida que das tuas mãos escorrem,
Vidas nas linhas que teu Destino gravou,
As mesmas linhas que a Vida consagrou,
Rumos de certezas escritas da desordem,
Incertezas de dentes ímpios que mordem,
Mãos mordidas por mãos que alimentou!...

Folhas de chá flutuando em ti,
Chávenas de ópio do teu ser que és,
Flutuas de ti no ventre de ventos e marés,
E te fundes na nuvem pintada que sorri,
Nuvem imaginada da imagem de si,
Qual céu escravo sob teus pés!...

Setenta e oito virgens adivinhas,
Sortes desejadas se assim o quiseres,
Mil homens desejados a desejar mil mulheres,
Quatro bordéis com catorze tentações miudinhas,
Dez infelizes marcadas por mentes mesquinhas,
Sobrando mais quatro figuras às quais aderes,
Vinte e uma putas prontas para trabalhar,
Um arlequim que te fará rir ou chorar,
Respeito do respeito que tu impuseres!...

Ouro lunar de ofuscado brilho,
Oferta imposta de tão medrosa e ingrata,
Comprada no ritual da felicidade ilusória,
Retrocesso à inocência infantil do sarilho,
Ao ajoelhar no perdão do Cristo de prata,
Adeus à esperança de conquista inglória!...

Encontrei tua Paz num jardim abandonado,
Sobre pétalas de rosas intactas e renascidas,
Meu sorriso rasgou teu largo sorriso conciliado,
Com as mais alegres tristezas de todas as vidas!...

Esse dicionário útil que da Vida germina,
É Livro da Vida que a ilusão não ensina!...

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quinta-feira, 16 de junho de 2011

Amor é... (+I de + III)...

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Giz branco erudito,
Cinzel De escultura primitiva,
É emoção de cal viva,
Queimando corações de granito,
É fogo de singular perspectiva,
É o mito,
Princípio do infinito,
Fim sem alternativa,
Pedra definitiva,
Silêncio aflito,
Incrustado no grito!

Amor?!...
Sem chegar a tanto,
É mais do que tal,
É veneno nas veias,
É açúcar no sal,
Uma mosca a tecer teias,
Aranhas de pedra e amantes de cal!...

O verbo sonhador,
Das palavras erodidas,
Pelo frio das almas perdidas,
Perdidas de amor!...

E o Amor é…

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terça-feira, 14 de junho de 2011

Amor é... ( Poema III de III+I )

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Amor?!...
Eu amo o vinho!...
Bebo um copo,
 Bebo dois,
 Bebo três,
Envinagrados, retintos e carrascões,
Feito à martelada, vomitado de borrachões,
Nele me afogo trinta e quatro dias por mês,
Não me importo com opiniões,
Entorno um garrafão de uma vez…
Nele sou tudo que me apetece,
Bebo quanto vinho aparece!...

Só minha sede não bebo,
Só minha sede não bebe!...

Eu amo a cerveja!...
Bebo uma, duas, três,
Bebo quanta cerveja houver,
Afogo-me em aguardente,
Bebo quanto álcool vier,
Bebo sôfrego repetidamente,
Seja o que Deus quiser!...

Só minha sede não bebo,
Só minha sede não bebe!...

Bebo do cálice que se segue,
Meu amor que não durará,
Fito a caneca que beijarei,
E minha sede se apaixonará,
Mas a sede, essa não matarei,
Minha sede que sobreviverá!...

Só não resiste minha sede,
Na água pura de cristal,
Água fresca que não vejo,
Água fresca que não há,
Água fresca que eu desejo,
Amor louco que me matará!...

Só minha sede não bebe,
Só minha sede não bebo!


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Amor é... ( Poema II de III+I )

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Complacente com a placenta,
Que não assenta,
Em minha silhueta acentuada?!...
Não!...
Tenho uma placenta em ti,
Aguardando minha consciência de mim,
Que eu amarei até ao fim!...
Amo amar-me,
Amo-me mais ao que podes dar-me,
Amo demasiado no espelho as medidas certas,
Para poder amar o amor que despertas!...

Será amor verdadeiro,
Isto que sinto pelo dinheiro?!...
Como amar-te se não vais existir,
Amar-te, decisão minha tomada?!...
Como?!...
Amar-te se não pudeste resistir,
Amar a condenação de “coisa” rejeitada!...

Meu amor sou eu oferecendo agenesia,
A liberdade conquistada,
Noite após noite, dia após dia!...

Como amar-te, se o Amor que restou,
Se regenera por cada prazer que dou?!...

Amor sou eu e minha Liberdade,
É a minha livre independência,
Acima de qualquer verdade!...

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segunda-feira, 13 de junho de 2011

Amor é... ( Poema I de III+I )

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Noite após noite,
Dia após dia,
Perdida por ti no seio de coisa nenhuma,
Noite após noite,
Sem dias após dias escondidos a levedar,
Noites após noites!...
Amor!...
Numa queda sem fim,
Até te encontrar,
Até esquecer-me de mim,
Não após não,
Sim após sim,
Apenas Amor,
Sem dor,
Apenas coração!...

Amor é viver,
Saber como o fazer,
Amor sou eu,
Este esbelto corpo que é meu,
É a força do querer,
À submissão do meu poder que pensas ser teu!...

Amor é Conquistar, trair, matar…
É o Ser!...
Amor é morrer!...
É desistir de mim, é… Amar!...
É sentir sem sentido,
Sacrificar teu mundo,
Esquecer um amigo!...

Amor é conquista a qualquer custo,
É o desprezo pelo Amor de quem Ama,
Por mais que te pareça injusto!...

Amor é..

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sábado, 11 de junho de 2011

Da Orgia ao Avesso


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Veio um eunuco, um pederasta e um proxeneta,
E um galopim abrindo caminho a toque de sineta,
Todos eles tendo na testa bordados de emulação,
Esvoaçavam na leveza de uma airosa borboleta,
Prometendo muito prazer em caudais de dulcidão,
Tentador remédio santo para males do coração,
Carne mal passada em vez da habitual punheta!...

Enquanto o castrado guardava o harém,
O proxeneta conferia doze putas mal contadas,
Deitando contas à vida de contas mal paradas,
Aguardava um cu impaciente sua vez também,
Ficando das esfomeadas escolhas muito aquém,
Vaginas de outras vaginas por elas enrabichadas!...

Lá continuava o garoto badalando o chocalho,
Com um olho vesgo na puta e outro no vergalho,
Belas esposas do rei eram tentações das arábias,
Sempre guardadas eram cartas fora do baralho,
Trunfos maiores de arriscadas sequências sábias;
Mas… porque não jogar uma cartada?!...
-O eunuco algum prazer há-de ter,
Sem seu badalo, mulheres não podia comer!...
Arriscando, o jovem, uma atrevida jogada,
Seduziu o guardião da tentadora mulherada,
Prometendo por ele algo fazer,
Mas…
O sodomita trejeitando doméstica enciumada,
Numa estranha abordagem capciosa,
Intrometeu sua sodomizante língua gulosa,
Propondo uma sensual orgia combinada,
Sem a vaginal concubina de meretriz horrorosa!...

Já doze línguas trabalhavam nos clitóris do harém,
Sentindo línguas do deserto em seus clitóris também,
Quando o chulo desconfiando do número que viu,
Mandou tudo para as putas que as pariu,
Castigou a primeira fêmea em pleno orgasmo,
Que entrelaçada em todo aquele entusiasmo,
Nem a pancada sentiu,
E, vindo-se violentamente num longo espasmo,
De outros espasmos de prazer não desistiu,
Humilhando o reles homenzinho,
Que, cego pelo ódio do seu interesse mesquinho,
Em vez de uma das suas doze putas sem lei,
Agredira a mais bela das esposas do rei!!!!...
Com cinco dedos bem fustigados na seda da face delicada,
E um olho todo negrinho por conta da agressão,
Perdeu o proxeneta o traseiro tesão,
Ganhando uma certeza adivinhada,
De arrepiar fortes machões de vida obstinada,
Capões inatos de falhada circuncisão,
Falo castrado pela cimitarra de um eunuco capão,
Castigada vida por reles vida castigada!...

Entretanto,
O corpulento e castrado guardião,
Confundido por um insuspeito plano inocente,
Deliciava-se com o garoto atrevido,
Que lhe sussurrando papilas húmidas no ouvido,
Estava ansioso pelo seu paradisíaco presente,
Irresistíveis mulheres ardendo em sangue quente,
Prontas para foderem um galopim atrevido!...

E tudo corria bem;
O eunuco entre suspiros vibrava,
O garotelho em putas e outras mulheres pensava,
E, não havendo mais homens, também,
Avançaram as putas livres de quem as aprisionava,
Para satisfazerem seus desejos de mulher libertada,
Enquanto espreitava na sombra o harém,
Arrepiado de desejo, com medo, porém,
Já que seu guarda ainda as guardava!...

O rapazote já não tocava a sineta,
Com doze putas que lhe ofereciam,
Substituindo a sensaborona punheta,
O bacanal era um céu de outro planeta,
Onde quase todos os sentidos se perdiam,
Pela passagem em chamas de um cometa,
Que incendiara a alma de um estranho poeta!...

Escreveu a testemunha sobre este triângulo ordinário,
Descrevendo em acta o sentimento perdulário,
De um eunuco que virou proxeneta meigo,
Um proxeneta que deu em guardião solidário,
Doze putas escondidas da lei,
Transformaram-se no harém do rei,
E rainhas que mudaram seu vocabulário;
Quanto ao jovem leigo,
Esse aprendiz de fraco peido,
É príncipe da criadagem grei,
Literatelho de fraco povo literário!...

Há quem não sendo, seja o que é,
Sendo que não é o que quer ser,
Parecendo não ser São Tomé,
Ainda que não vendo… o crer!...
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