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Em minha boca impoluta,
Onde minha língua se articula em pureza,
Movem-se muitas palavras filhas da puta,
E muita alegria bem disfarçada de
tristeza,
Que minha consciência, essa tristeza refuta!...
Comovem-me as minhas palavras urdidas,
Cheias de beleza miserável e comoventes,
Falam de sofrimento, ai como são
sofridas,
Palavras sempre irresistíveis e
influentes;
Muitas, as tenho escondidas entre dentes,
As de regozijo, dou-as como
desaparecidas,
Todos eu entristeço,
Por qualquer preço,
Observo o silêncio das lágrimas
comovidas,
Prémio que mereço!...
Em minha boca impoluta,
Há uma pérfida língua, quase divina,
Que tece palavras de índole muito fina,
Dá forma macia aos ouvidos de quem
escuta,
É nas palavras que entredentes se esconde
a surdina,
Muito puros
parecem os genes das palavras filhas da puta!...
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