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Contemplavam em silêncio suas mãos
macias,
Pendentes nos cruzamentos pálidos das linhas,
Em cada traçado haviam encruzilhadas vazias,
Que incapazes de impedir o desalento dos
dias,
Escondiam-se em silêncio como almas
sozinhas,
Caídas a um canto dos olhos de noites
vizinhas,
Ali ficavam nas rasas conjeturas das
melhorias,
E extenuante trespassar das horas mesquinhas!...
Trabalhava sem descanso no sentido
figurado,
Fincando-se na única imagem do seu
trabalho,
Aprisionada em suas mãos de homem
fatigado,
Abatido na desonra de ser mais um espantalho,
Por ter sido despedido com todo o
enxovalho,
Pelo novo tempo do mais moderno predicado,
Que o fez sentir ser uma carta fora do
baralho,
Às mãos de um jogo pelo qual foi segregado!...
Se a vossa fome teimais em não deixar
matar,
Aceitem-se como os cúmplices de vossa morte,
Talvez vossa tão grande culpa não vos
importe;
Não são os outros sempre mais fáceis de
acusar,
Apontados pelos vossos dedos de fraco
recorte,
Vergados às vossas mãos mortas por trabalhar?!...
Abrem-se as vossas mãos para vossa culpa
calar,
Mostrando os calos já escoados no
desemprego,
Há despedimentos que cruzam linhas sem
medo,
Enquanto os desempregados incapazes de
lutar,
Estendem a sua mão torpe por tanto se queixar,
Dos seus calos perdidos apontados a dedo!...
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Se vossa merecida fome matá-la não
deixam,
Nem alimentam o desejo de por ela algo
fazer,
Então, quantos desses vossos calos se
queixam,
Se dos
queixumes da morte não quereis saber?!...
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