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Vamos queimar o Abril dos cravos
aldrabões,
Aspirar as cinzas do nosso futuro que ardeu,
Lembras-te da Liberdade que nos prometeu?!...
Vamos agradecer aos geniais crânios sabichões,
Mastigá-los com molares de nossas desilusões,
Há ossos debaixo da carne que alguém comeu,
Vamos reduzir a cinzas os impérios de ladrões,
E reaver o que é nosso desse muito que é teu!...
Vamos queimar um velho cavaco já queimado,
Incendiá-lo com os espinhos secos dos
silvados,
Aproveitemos para assar um coelho subornado,
Vamos temperá-lo com a fome dos
atraiçoados,
Afogar as mentiras em vinho d’alhos enfastiados,
Até que o cheiro dos cravos se tenha
evaporado,
E o silêncio das armas de Abril se tenha calado!...
Vamos lá saborear as cinzas quentes dos
coelhos,
Dar aos cães vadios a carne com sabor a
traição,
Ensinar princípios de Humanidade aos
rapazelhos,
Vamos reduzir a cinzas os presidenciais
conselhos,
Dobrar-lhes seus joelhos sobre as mesas sem pão,
Mostrar-lhes apenas a metade de tanta ingratidão,
Vamos quadricular-lhes as rótulas lisas dos joelhos,
Fazê-los engolir o pó das tábuas de nosso caixão!...
Fazê-los engolir o pó das tábuas de nosso caixão!...
Para onde vão nossos filhos que tanto amamos?!...
Emigram assim de braços confiados à Esperança,
À espera de encontrar noutro País uma lembrança,
Deixada cá para trás na tristeza com que
ficamos,
Como se os carinhos do País que deles
lembramos,
Sejam apenas cinzas que nos impelem à vingança?!...
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Há quem não queira ver,
Um velho cavaco a arder?!...
Vamos?!...
Vamos?!...
Dar-lhe a oportunidade,
Do sentido da utilidade,
Ensinar-lhe o que fazer,
Como assar com vontade,
Um coelho de meia idade,
Cego por tanto poder!...
Depois do coelho comido,
O vento do povo leva as cinzas de cavaco,
E substituímos os cravos que se têm escondido!...
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