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As nuvens do que nos parece,
A nuvem que se é e não se desfaz,
A chuva que dos olhos não acontece,
O olhar enevoado que ficou para trás,
Uma nuvem que se foi e não foi capaz,
De chover em quem por ela se desse,
A lágrima que por amor se merece,
Lágrimas de uma nuvem fugaz!...
Nadaram as palavras, a muito custo,
Perfeitas, num mar de preciosa epopeia,
Sobre a pala heroica, ainda flutua uma
panaceia,
Cura para todos os males deste mundo
injusto,
Flutuam palavras à deriva, na deriva
Europeia,
Deixou-se desviar o antigo Portugal
robusto,
Do rumo histórico traçado em seu busto,
E tudo que resta é um mar de areia,
Nos olhos
cegos por cada susto!...
Nadam os Camões modernos,
Nadam os Camões modernos,
Em piscinas de marfim e águas reais,
São reis de uma realidade sem invernos,
Tão real é a realidade dos velhos ais,
Que regressaram velhos demais,
Carregados pelos infernos,
De
nuvens infernais!...
Nuvens negras, esmagadoras,
Nuvens negras, esmagadoras,
Prenhes de medo esmagador,
Nuvens densas, ameaçadoras,
Dão à escuridão, noites de dor,
Ressuscita Luís de Camões,
Sem pena nem palavrões,
Ressuscita o terrível Adamastor,
Mostrengo de Pessoa e castrador,
De homens e de bravos corações,
De homens e de bravos corações,
Feitos de muito medo e sem valor,
Transgénicos sem colhões!...
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