quarta-feira, 16 de agosto de 2017

Do Calor do Gelo ao Degelo da Verdade

.
.
.
Nada!..
Nada é o que parece,
Nada é do que parecia,
Nada, do que eu quisesse,
Por mais que sábio se soubesse,
Pouco mais foi do nada que dizia,
E tudo se ficaria pelo que dissesse,
    Até à relatividade de um certo dia!...

Do frio à fria morte do frio global,
Dos icebergs ao congelado pesadelo,
 Do degelo do Sol ao inferno do gelo total,
Das queimaduras geladas ao frio apelo,
Do fogo que derrete na antártida bocal,
Até aos glaciares da palavra diagonal,
     Conservada no mais sólido gelo!...

Aftas e outras úlceras bocais,
A frieza do calor e a febre infernal,
A doença secular dos nossos ancestrais,
Convencer os aviões a amarar nos cais,
Conseguir pôr um barco num voo colossal,
E antes que que o mundo se aperceba do ritual,
Fenómenos inconcebíveis de manipuladores globais,
Ditam a queda de cada mundo, a queda mundial,
Depois do princípio das verdades mais irreais,
Gelo e fogo de existência transcendental,
    Sem contestações fundamentais!...

Tudo arde sem arder,
Sem arder tudo vai ardendo,
Queima-se a verdade sem saber,
   E sem saber vai a verdade morrendo;
Como se a mentira ao degelar,
  Em vez de líquida se tornar,
   Na mentira fosse fervendo,
      Para logo se evaporar!...
.
.

.

    

domingo, 6 de agosto de 2017

As Bêberas...

.
.
.
        Amigos…    
Gosto mais de bêberas do que figos,
Grandes, brancas ou mais escuras,
Alongadas e maduras,
Gosto de palpá-las,
Quase esmagá-las,
Madurar cada bêbera verde de amarguras,
Acariciá-las!...
Amigos…
Imaginem a figueira de todos os perigos,
Bêberas doces de maduras, sem abrigos,
Sem línguas que lambam suas doçuras,
Bêberas quentes, ansiosas por ternuras,
Penduradas em seus verdes castigos,
Como se fossem docemente impuras,
Nascidas em figueiras de mendigos!...

Pingos de mel, tão doces são,
Doces são as rachas de figos lampos,
A figueira deu frutos de prazer a Adão,
   Bêberas de prazer com doces encantos!...

Eva, a primeira puta em vez de freira,
Deu a bêbera ao primeiro que homem que apareceu,
Não escondeu a madura bêbera da sua verde figueira,
Deu sua folha a Adão que o seu fruto escondeu!...

Amigos…
Comam bêberas,
   Não comam cus de figos!...
.
.


.


domingo, 30 de julho de 2017

"E"... "A"...

.
.
.
… e quando a mentira se apega,
Transforma-se numa verdadeira praga,
Que os olhos dos seus apegados cega,
     E a verdade dos seus olhos apaga!...

Só eu já nasci cego,
E por mais que a mentira me traga,
     A nada dela me apego!...
.
.
.


quinta-feira, 27 de julho de 2017

Gelo do Fogo Posto

.
.
.
É tão fácil culpar as chamas,
Pelo fogo que te vai consumindo,
É tão fácil ser livro feito de lindas flamas,
Livro que vai ardendo nesse fogo que amas,
Sem frases que, ardendo, fossem luzindo,
Por cada página que te vai consumindo,
    Ao abrigo do fogo que tanto clamas!...

É tanto o calor,
É insuportável o frio sem rosto,
São tão tristes as cinzas frias do amor,
  São tantos os corações vítimas de fogo posto!...
.
.

.

  

quarta-feira, 19 de julho de 2017

Como Podes...?!

.
.
.
Como podes julgar-me?!...
Julgar minha Fé expurgada,
Livre das tuas doutrinárias razões,
Que obedece ao canibalismo das comunhões,
Sem razão nem razoável clemência comungada,
Apenas temente à obrigação das cegas adorações,
Da configuração dos homens em suas prisões,
Configurados em cada palavra configurada,
Como se tua palavra fosse sagrada,
        Em teu juízo de divinas privações?!...

Como julgas, julgar-me?...
Julgando como aquele que te julga,
Esse que te obriga a escravizar-me,
E toda a liberdade da fé promulga,
    E da fé decreta libertar-me?!...

Como podes castigar-me,
Se nunca foste castigado?!...
Como podes reconhecer a razão,
Se a razão é um elo quebrado,
Na corrente da manipulação,
Inquebrável, sem nação,
O poder do enviado,
Imposição do diabo,
    Excomunhão?!...

Excomunhão!...
Como podes excomungar-me,
Excluir a minha Fé do Caminho,
Se sinto nosso Deus convidar-me,
    Para comer o Pão, beber o Vinho?!...
Ele é a fome que está a tomar-me,
É a sede que quer saciar-me,
É o murmúrio de carinho,
Que me alivia do teu espinho,
O teu julgamento de crucificar-me,
    Só porque julgas eu acreditar sozinho!...

Como podes libertar-me da minha liberdade,
Sem enclausurar a minha esperança em Deus,
Se não tens lugar à mesa da divina verdade,
    Onde não senta a crença de amigos ateus,
        Amigos teus sem dó nem piedade?!...

Como não é possível julgares-te,
Como podes não castigares-te,
Não excomungares-te,
  Ou libertares-te?!...
.
.
.
   




   

sábado, 15 de julho de 2017

Sorriso e o Silêncio


.
.
.

O silêncio, já farto de viver,
Em seu silêncio vai vivendo,
Vive em silêncio até morrer,
    E em silêncio vai morrendo!...

Em silêncio avança a morte,
Em silêncio esvanece a vida,
O silêncio faz-se mais forte,
   No silêncio da cor perdida!...

O traço, o desenho, o sorriso,
A linha e o silêncio, partindo,
Desmaio do silêncio indeciso;

Talvez volte o sorriso, luzindo,
Talvez volte o silêncio preciso,
     Que em silêncio volta sorrindo!...



.
.
.

quarta-feira, 5 de julho de 2017

Muito Fala Quem...

.
.
.
Fala muito aquele que muito fala,
Fala vazio do que em si não cabe,
Fala muito aquele que não se cala,
    Demais fala quem de  pouco sabe!...

Muito fala, esse que de si não fala,
Muito fala esse que fala do alheio,
Muito fala esse quem por si se cala,
     Muito fala esse que de si está cheio!...

Demais fala e diz nada ter a dizer,
Quem a ninguém fala do que deve,
 Muito fala a palavra sem honra ter;

Pouco fala quem nada tem a temer,
Quem fala com sua consciência leve,

     Nada fala por a ninguém nada dever!...
.
.


.

  

quarta-feira, 28 de junho de 2017

O Triunfo do Burro

.
.
.

Quando um animal,
Assume seus tiques racionais,
Confunde-se entre seus iguais,
E a igualdade mental,
De uma diferença normal,
  Diferente em todos os animais!...

Quando um burro,
Á margem de uma elite social,
Assumindo um comportamento anormal,
Confrange-se por seu defeito casmurro,
Ao querer fazer-se fenómeno verbal,
Não consegue esconder seu visual,
E mostra em seu íntimo, o surro;
É o cheiro da natureza essencial,
A sabedoria da burrice natural,
Desafiando um inteligente murro,
     Ou um coice de outro burro igual!...

Quando um animal,
Que opôs sua sombra à minha passagem,
Se quis contrapor entre meu foco principal,
E a intenção do teor de minha mensagem,
Decidindo defender a fraternidade integral,
Soltou da boca um coice colossal,
Oferecendo-me uma enorme vantagem,
Sobre a enormidade maior da sua abordagem,
    Antecipação do asinino comportamento habitual!...

Então, quando estava eu prontinho,
Para fotografar o que minha alma via naquele ser,
Surgiu entre as grandes orelhas espetadas do animalzinho,
Um afoito sarilho colado à sombra de um homenzinho,
Que lá do alto dos seus bicos de pés atreveu a esclarecer,
O imperativo da fotografia à sua autorização obedecer,
Esbugalhando, ao burro, os seus castanhos olhinhos,
      Que soltou um zurrar de perfeito entender!...

-Ouça lá, -dirigiu-se-me o homenzinho com ligeireza,
Você pediu autorização para fotografar-me, e ao jumento?...
Ao que eu respondi no momento:
-Caro amigo, eu não pretendo fotografar sua esperteza,
Mas, apenas a inteligência do burro e o seu lamento,
     Por ter um dono com tão néscia subtileza!...

Há criatura que vendo na burrice alheia,
Um tesouro que, na burrice deles, acham não ser seu,
Fecham os olhos à sua burrice, da que cada qual se rodeia,
Agradecendo a burrice que, parecendo-lhes leve, os arreia,
E os derreia com a burrice própria do próprio sandeu,
   Que, pela cobiça de burro toda a burrice granjeia!...

Zurram os burros sorrateiros,
Dos outros burros mais espertos,
Que, ao julgarem ter os olhos abertos,
     Carregam os burros verdadeiros!...
.
.

.

    

segunda-feira, 26 de junho de 2017

Pirografia das Lacunas

.
.
.
Como uma cicatriz de amor jurada no veio das lacunas,
Essa jura omnipresente de um amor, por amor embargado,
Silêncio consentido das marcas de um segredo amargurado,
Que na silenciosa sombra rasgava a débil mágoa fendida,
Cicatrizando a dor que, por amor, era de si escondida,
    Na aparente solidão escondida ao mesmo amor castigado!...

Não podendo mostrar todo o amor que pelo sol sentia,
Mostrava-se vazia de luz nos dias onde o sol o escondia,
Despida de sua sombra rebelde que a tristeza costurou,
Com agulhas tristes do coração que, enternecido, cerzia,
Incandescendo silêncios que o destino na alma ponteou,
Picotando o anelar sem dedal que, desprotegido, sangrou,
Trespassado pela agulha distante que o sangue expungia,
    Escorrendo-o sobre a tesoura que a sua felicidade cortou!...

Sabendo mostrar o segredo que, por amor, sentia,
Resguardando-se numa reserva de paz melancólica,
Comemorava cada momento com felicidade simbólica,
Não deixando que amor mentido, soubesse que mentia,
Ao revelar o amor de gradadas noites, pela luz do seu dia,
   Luz celestial possuída pelo desejo de uma paixão diabólica!...

No desencontro das horas pirogravava breves momentos,
Queimando a carne com instantes de tórridos sentimentos,
Delineando contornos na injustiça de incendiadas lacunas,
Cinzas de omissões desfragmentadas em vários elementos,
Separados entre si, à distância aprazível de mãos oportunas,
Que, gravando cornucópias triunfantes de humanas fortunas,
Cicatrizam doces emendas distantes com poéticos segmentos,
    Incendiando de liberdade, a loucura de secretos movimentos!...

Agulhas incandescentes flutuam sobre oceanos de salvação,
Gravam águas salgadas com a fervura de um amor impossível,
Salgando prazeres que emergem da profunda distância sensível,
Pelas lágrimas que se afogam entre o sal que queima de sedução,
Ateando o fogo que aceita, no frio insensível do prazer em negação,
    Desencontrado das horas onde a diferença é igualdade incompatível!...

Porque a agulha que atravessa o coração é incandescente,
Ainda que a desigualdade pareça o frio de uma luz mais visível,
    Complementam-se nas semelhanças da verdade de quem mente!...
.
.


.

sexta-feira, 23 de junho de 2017

Fogo de Árvores ao Vento

.
.
.

Todas as árvores do mundo de todos os montes mais altos,
Amantes do vento que todas as árvores, sem ciúmes, amava,
Murmuravam histórias de cinza que o vento quente soprava,
Falando da morte de todas as florestas em todos os planaltos,
E da respiração dos homens, queimada em inumanos assaltos,
Perpetrados por um assassino que seu próprio filho matava!...

Árvores, por breves momentos de luto, em agonia,
Entre brumas de traição e o inferno que as consumia,
Choravam lágrimas de cinza ao ver o seu amante, o vento,
Soprando o amor que transformava numa infernal ventania,
Daquele amante que, pelo amor de suas amantes sedento,
Continuava a amá-las tanto, quanto do fogo era o sustento,
  Sem compreender que, por tanto amor, ambos destruiria!...

Há um código gravado numa misteriosa linguagem, à parte,
Que o post-scriptun da NASA só induz aos públicos ladrões,
Descodifica a imortalidade no frio sem escrúpulos de Marte,
Conservando os genes intactos para escolhidas ressurreições,
Àqueles que destruíram planetas azuis e seus verdes pulmões,
   Exibindo seus crimes em ricas galerias, como a mais bela arte!...

Depósitos inflamáveis de comerciais intentos mesquinhos,
Trespassam a feição dos ventos que rasgam céus queimados,
E metáforas negras serrando veios nos anéis de valiosos pinhos,
Com fumo negro da energia renovada entre fogos cruzados,
Que assinam de cruz secretos contratos de olhos fechados,
Sobre rescaldos recortados no tição dos caminhos!...

Por todas as árvores inocentes do mundo,
Há mundos estranhos de gigantes ventoinhas,
Cobrindo os altos montes de um vazio profundo,
Despojados do seu respirar humano e fecundo;
Falam de mágicas varinhas,
Com poderes nobres de rainhas,
Mas são os reis de poder rotundo,
  Donos da morte das andorinhas!...

Há cada vez mais Primaveras de luto intenso,
Há ventos nascidos assim, para serem amantes,
Oferecendo verdes sopros de afagos estonteantes,
Às verdes árvores nos altos montes e ao contra senso,
Das ventoinhas, essas substituintes do arvoredo imenso,
Que fora amado pelo vento em todos os instantes!...
.
.
.