quinta-feira, 4 de agosto de 2016

Apresuntação

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Eu sou a vossa porca esperança,
 Apresunto-vos meus amigos suínos,
Meus amigos, são deles, amigos genuínos,
Dignos lobos de sua santa e farta confiança,
Apresunto-vos meus irmãos divinos,
   Deuses da vossa governança!...

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sábado, 30 de julho de 2016

Eterno Amamento Admirável

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Aquele momento que todos julgavam impossível,
Mãe improvável que, pela primeira vez, amamenta,
A bênção do coração, milagre do amor e a placenta,
Tempo imóvel em torno da felicidade indescritível,
   Ninado de admirável ternura em câmara lenta!...

E o tempo, nele perdido,
Dele mesmo se esqueceu,
Enternecido,
Do momento seguinte esquecido,
À eternidade improvável se deu;
E a mãe improvável,
Desenhada num sorriso admirável,
Amamentando o filho seu,
   Para sempre insaciável!...
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quinta-feira, 28 de julho de 2016

Margem - Espuma da Nostalgia

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Contemplava aquele rio com uma só margem,
Sentado à beira do outro lado, uma miragem,
Mesmo lado da outra margem que era só uma
Por ali acima, a água entre margem nenhuma,
Corria debaixo de nenhuma sucinta passagem,
      Ponte, talvez, que unia as margens de espuma!...

Deitou-se no movimento transparente do leito,
Sob transparência de uma lágrima de nostalgia,
Fez-se rio, fez-se a margem firme em seu peito,
 E ponte atravessada sobre o rio que percorria!..
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segunda-feira, 25 de julho de 2016

Doce Vinho de Rosas Brancas

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Vossos néctares de castas francas,
Gratuitos vícios de fragrâncias mil,
Transformaram-se em água vil,
    Leve vinho de rosas brancas!...

Nasceste rosa,
Cresceste entre vinhas,
Foste uma videira graciosa,
Quiseste ser poética prosa,
Poema nas entrelinhas,
    Poesia silenciosa!...

Cuidaste de todos os jardins,
Colheste as tuas uvas saborosas,
Esmagaste-as e fizeste-as ditosas,
Confundiste vinhas com jardins,
Em teus roseirais deste festins,
    Jardins de brancas rosas!...

Acabaram as rosas no fundo de um copo vazio,
Sem uma gota d´água que lhes matasse a sede,
Embranqueceu o fígado num branco jardim frio,
   Rosas ébrias, entre brancas pétalas e a parede!...


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quarta-feira, 20 de julho de 2016

Vazio Abismal

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O abismo faz-se entre os nossos desvios,
Faz-se alma inerte no vão do nosso peito,
Escurecem penhascos no vazio imperfeito,
É interminável a queda de corações vazios,
    Perdidos no abismo solitário do vazio leito!...

A queda interminável,
Talvez o vazio abismal,
A desistência e o mal,
O medo inconfessável,
     O vazio da queda final!...

Houvesse um pouco de amor,
Que nos concedesse o favor,
De ensinar-nos a amar,
E aprender a ensinar,
A ver o Criador,
    E amor criar!...
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terça-feira, 19 de julho de 2016

A Paz da Consciência em Guerra

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Na guerra como nunca se viu,
Os deuses fazem guerra contra Deus,
A vida é derrotada como nunca se sentiu,
É o triunfo da morte e o adeus!...
Adeus… adeus…
Adeus deuses e Deus,
Até nunca mais ver,
Oh, crentes e ateus,
Já nada custa morrer,
Vivem os vivos por viver,
   Indiferentes à morte dos seus!...

Por cada vida milagrosa,
 Pelo admirável milagre da vida,
É a lenta morte, mais ambiciosa,
Antecipa-se à vida muito vagarosa,
    E triunfa sobre a esperança perdida!...

Que raio de vida é a tua,
    Tu que temes viver uma vida sem medo?!...
Levantas-te, de madrugada, muito cedo,
Cedo, sais da tua imunda consciência nua,
Como se te procurasses no lixo da rua,
    Lixo que te reveste sem segredo!...

Houve uma guerra que todos viram,
Há uma guerra que ninguém vê,
Está, da morte, a vida à mercê,
De ver, já os olhos desistiram,
    E ninguém confessa porquê!...

Ainda não te despeças,
A morte ainda vem a caminho,
Ainda estás vivo, não o esqueças,
 Vive a Vida, ainda devagarinho!...
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sábado, 16 de julho de 2016

Formigas de Deus

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Procurava no céu da sua esperança,
Um rosto de Deus que o pudesse ajudar,
O diabo da carestia levara-lhe a bonança,
Esquecera tudo, sobrara uma lembrança,
A liberdade dos pássaros e seu livre voar,
Procurando no céu asas para se libertar,
Não via sob os passos seus, a matança,
Das formigas que esmagava ao caminhar,
Talvez fosse sua pura inocência de criança,
   Ou a inocência das formigas com mais azar!...

E se o céu cair em cima da cabeça?!...
É preciso estar, ao céu, atento,
Antes que o azul do céu escureça,
E o resto do céu seja levado pelo vento;
Talvez o vento traga uma espiga dourada,
Que o mesmo vento, do céu carregou,
Houve um grão que caiu e o sol dourou,
E uma formiga obstinada,
Que o sol e o grão dourado carregava,
Mas, o medo, vindo do céu tudo esmagou,
    Esmagando o olhar que formigas, esmagava!...

Não estará Deus demasiado distante,
    Tão longe dos caminhos das formigas?!...
Somos searas e grãos de todas as espigas,
Deus vê um grão a outro grão semelhante,
Somos insetos que esmagam e, não obstante,
    Esmagamos formigas que consideramos amigas!...


Todos procuram Deus quando precisam,
Têm-se dentro de si e Deus em suas barrigas,
     E não vêm as pequenas formigas que pisam!...

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quinta-feira, 14 de julho de 2016

O Idiota que Sobra

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Na festa, a insensatez nunca se esgota,
Embriagada por luas, é queimada por sóis,
Em cada festeiro há um bêbado e patriota,
Brinda-se o último cêntimo aos heróis,
As gralhas cantam como rouxinóis,
    Sobrou apenas um sóbrio idiota!...

O povo escolhe quem o mata,
Paga a quem o apague do sofrimento,
E lhe tatue na alma uma vida abstracta,
A percepção da vida não é imediata,
A tatuagem vai desaparecendo,
Tudo à volta vai morrendo,
E pressente-se a derrota;
Há um povo em desbragada risota,
Na analgesia da festa, não vai sofrendo,
    Sobrou apenas a dor de um idiota!...


Chegou o dia seguinte,
Dia de todo o feliz Patriota,
Vestia a bandeira de contribuinte,
Ontem valia tudo, hoje é um pedinte;
Da festa e dos heróis já quase nada se nota,
   Há mais idiotas e sobrou apenas um idiota!...


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quarta-feira, 6 de julho de 2016

Brinde Suicida

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Na essência da vida,
O não riscar a Vida da essência,
É o melhor risco à alma prometida,
Quando a promessa é cumprida,
   Pela paz da consciência!...

Brinde-se à vida calhorda,
Aperte-se, de um só golpe, a gravata,
No velho poço há a tentativa que recorda,
Que a água mais limpa não mata;
Não se desista, ainda,
Cuidado ou o nó corredio se desata,
Beba-se o doce veneno da morte mais linda,
Baixem-se os braços à puta da vida tão ingrata,
    E, finalmente, é com desalento que se brinda!...

“Meu descorçoado amigo suicida,
Que vives com a corda ao pescoço,
Serve-te dessa corda sem alvoroço,
Bebe um trago de missão cumprida,
Afogada na escuridão de um poço,
   E brinda à morte conseguida!...

Bebe o veneno de um só trago,
Que nem uma gota seja perdida,
      E todo o teu desamor será pago!…”


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segunda-feira, 4 de julho de 2016

Liturgia da Sombra... às Trevas

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Testículos sem semente,
Em versículos definitivos,
Faz-se deus quem mente,
   Por uns estéreis motivos!...

Inclusos, os substantivos,
Em exclusão substancial,
Sujeitados aos adjectivos,
   Da incontinência verbal!...

As palavras emudecem,
A bíblia sacode-se do pó,
 Dos anjos que escurecem;

E as liturgias amanhecem,
Ensombram quem está só,
    Demónios que reaparecem!..
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