quarta-feira, 11 de maio de 2016

Lágrimas da Luz

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Chorava uma criança na bancada,
Ao ver o seu Benfica que perdia,
A seu lado, a família desesperada,
Abraçava-a e também entristecia;
O inferno, uma lágrima encantada,
Chorava pelas bancadas e escorria,
Chegou aos olhos de quem corria,
Espalhou-se com uma fé danada,
    Fez uma criança chorar de alegria!...

Entre lágrimas e algum desconsolo,
Explodiu uma gloriosa Luz em festa,
Depois do primeiro, o segundo golo,
   Ao adversário nada mais lhe resta!...

É o Inferno da Luz, um glorioso manto,
Encarnando em todas as nossas glórias,
São um manto das gloriosas memórias,
Palavras invencíveis em nosso canto,
   Ecos cantados pelas nossas victórias!...

As crianças vão continuar a chorar,
Libertando suas lágrimas de felicidade,
Por verem o Gloriosos Benfica ganhar,
São Benfiquistas para a eternidade!..
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terça-feira, 10 de maio de 2016

52 - Passado da Vida Eterna

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Fui eu nascer neste estranho dia,
Nasceu este dia no dia que teve de ser,
Fui eu acreditar nesta Europa de alegria,
E logo vi a alegria desta Europa fenecer,
Foi pela morte que a vida fui temer,
   Nesta Europa a deixar-se morrer!...

Tantos anos de tão poucos,
Tão poucos de tantos anos,
Vivemos tão pouco por tão loucos,
Loucos por tantos enganos,
Pensamos ouvir gritos humanos,
    E, desumanos, somos tão moucos!...

Olho para o passado,
Perco-me neste futuro,
Sou presente pouco seguro,
Ausente deste maldito fado,
Que morreu e foi enterrado,
Pelo poder mais obscuro,
     Sempre assegurado!...

Pró diabo, estes cinquenta e dois,
Mais estes ares de Primavera moderna,
O futuro ficou lá atrás, para depois,
     No passado da vida eterna!...
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sexta-feira, 6 de maio de 2016

Sol Indiferente

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Como é possível a este Sol indiferente,
Conseguir queimar minha sombria solidão,
Ou aquecer meu sangue, outrora quente,
Por onde te perdias até ao meu coração,
Correndo em liberdade omnipresente,
Presente naquele latejar de paixão,
Se, por mim, eu te fiz ausente,
E, tão silenciosamente,
    Se foi a emoção?!...

 Tão só, o sol em sua solitude,
Longe da noite triste e fria, ardendo,
Arde por dentro, em toda a sua plenitude,
Aproxima-se da minha solitária quietude,
Longe do Sol, nu de tudo, tremendo,
E é o sol que me veste, doendo,
Reveste-me de fria infinitude,
     E de calor vai entristecendo!...

Como foi possível anoitecer,
Em nossos olhos tão radiantes?!...
   Porque volta o Sol ao amanhecer,
Tão abrasador como o era antes,
Se adormecemos tão distantes,
Tão longe de arrefecer?!...
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domingo, 1 de maio de 2016

Incomparável

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Beijam, diamantes, o ouro do diadema,
Beijam-se as pedras preciosas também,
Nenhuma palavra é de riqueza suprema,
Rica é a palavra que todo o amor contém,
A poesia engrandece-se de tão pequena,
Todos os versos de amor num só poema,
    Toda a riqueza numa só palavra… Mãe!...

Poderia comparar-te à mais bela flor,
Queria falar de toda a tua beleza,
Falar de ti é falar de amor,
E toda a pureza,
Que flor alguma tem,
És a mais cândida certeza,
Do amor que sabes dar tão bem,
Nossa indiferença é a tua única dor,
Teu único sofrimento é a nossa frieza,
Somos filhas de quem um filha única tem,
Filhas tão tuas e de mais ninguém,
Proteges-nos com fervor,
    Com teu amor de Mãe!...

Mas, somos tão filhos da mãe,
Tão filhos da mãe que não nos criou,
Nossos filhos, de nós, ficam tão aquém,
Criamos nossos filhos que se criam com desdém,
     E os filhos que devíamos ter sido, a ingratidão nos levou!...

Hoje, sou Mãe,
Fui filha e filha sempre serei,
Sou uma filha do amor, também,
    Meu amor que de ti pouco sei!...
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segunda-feira, 25 de abril de 2016

Decência da Memória

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Escravo feliz de minha consciência,
Essa consciência que já fora minha,
Eu a perdera ao perder a decência,
Paguei com a minha imoral falência,
A quem a sua consciência não tinha,
   E me vendeu toda a sua demência!...

Sem esforço, caminho sem vontade,
Nas entranhas de um louco labirinto,
Cada saída é este bloqueio que sinto,
A saída é o retorno à impossibilidade,
E continuo a deambular sem instinto,
   Sem ser encontrado pela liberdade!...

A memória permanece indiferente,
É a nova reminiscência sem passado,
Como um escravo, infeliz condenado,
De sua vazia infelicidade inconsciente,
Prisioneiro que sua prisão não sente,
Sem sua memória de ter sido beijado
    E dos lábios que o beijaram, ausente!...

Falam-me de uma mortalha escarlate,
Onde enrolei pétalas de cravos ressequidos,
Dizem que me encontraram entre fumos perdidos,
Esfumavam-se os olhos lúcidos que assistiam ao debate,
Segredam-me a loucura silenciosa dos cravos comprometidos,
    E da necessidade da minha memória para o patriótico resgate!...

Ouço um tiro,
A corrida começou,
A memória e um suspiro,
Uma pomba vermelha suspirou,
Há um ar novo que eu respiro,
 Livre de um formatado retiro,
    Minha decência voltou!...

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quarta-feira, 20 de abril de 2016

Salutares Bofetadas (A herança dos covardes)

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Prometera um par de salutares bofetadas,
Uma herança de todas as ditaduras vencidas,
Por herdeiros das democracias conquistadas,
   Expressão livre das liberdades conseguidas!...

Tão dura fora a dureza da dita que perdura,
Dura ditadura que do nada dito, tudo ditava,
Ditava a dita, um ruidoso silêncio que ficava,
     E nada se dissesse dos homens com bravura!...

Desertores castrados, pelo medo arvorados,
Homenzinhos que nunca partiram e voltaram,
Para se arvorarem com os heróis que ficaram;

São a dita, da dura e velha senhora, herdados,
Herdeiros de doutos juízes e inúteis advogados,
Que os filhos legítimos do povo condenaram!...
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sábado, 16 de abril de 2016

Olhos de Primavera

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Esta chuva que não para de cair,
Dos olhos onde urzes florescem,
São saudades do que está por vir,
    Dias que nos olhos amanhecem!...

Caem lágrimas mansas e serenas,
Das nuvens que embranquecem,
Foram pombas de brancas penas,
    As nuvens que não se esquecem!...

Teus olhos de violeta pranteados,
Espreguiçam-se sobre a verdura,
Agora olhos de sonhos azulados;

 Sol e o sorriso, dois raios dourados,
Suave azul do céu e a tua brancura,
    Primavera em teus olhos aliviados!...

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terça-feira, 12 de abril de 2016

Culto (O Outro Mundo)


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O flash e os olhos cegos,
Olhar em ruínas terrestres,
A humanidade dos mestres
As peças perdidas de legos,
Os artefatos extraterrestres,
Construções e alguns pregos,
     Inocência e amoras silvestres!...

A luz que na luz se apaga,
A penumbra e a cegueira,
Os fanatismos e a asneira,
Silêncio das trevas e a saga,
A consciência sempre vaga,
A mentira sempre ligeira,
Alguma verdade aziaga,
De um mundo inteiro,
A vida pelo dinheiro,
     E a morte que afaga!...

A sombra das pirâmides invertidas,
O Sol no olhar das sombras perdidas,
O Sol despido a perder-se na noite nua,
A virgindade perdida, abandonada na rua,
O fulgor das consciências corrompidas,
A sombra da sombra de muitas vidas,
Os uivos selvagens dedicados à lua,
A crueza fria das almas vencidas,
O calor das lágrimas vertidas,
O sabor da verdade crua,
A luz que se perpetua,
      Das sombras sentidas!...

O eclipse do olhar,
O apocalipse dos credos religiosos,
Os olhos caídos sobre Deus a chorar,
As lágrimas de Deus a transbordar,
A fúria dos mares tenebrosos,
Os crentes cautelosos,
Deuses a mendigar,
Ricos poderosos,
O poder de salvar,
Nos olhares luminosos,
E a morte que avança devagar,
Lenta, muito lenta, sem se apressar,
Tão lenta se arrasta entre momentos preciosos,
Enquanto dorme a justiça à sombra dos vagarosos,
Que, mal a morte deles se aproxima, apreçam-se a acordar,
Á luz dos seus desejos, despem o mundo e cobrem-se, lustrosos,
Despidos de toda a humanidade e esperança de Amar!...

Os olhos de quem de nenhum olhar se liberta,
O olho de milhares de olhos que tudo observam,
Olhos nervosos de pirâmides que não se enervam,
Pedra sobre pedra à volta do coração que se aperta,
Coração empedernido em agonia na alma deserta,
      De escravos dos que todas as verdades acervam!...

Lâminas muito frias de irresistível perfume,
Perfume frio envolto no mais secreto lume,
Lume fechado em doce gelo muito quente,
O fogo afiado no inferno de cada frio gume,
Ardendo até ao frio coração contundente,
Entre as paredes de fogo até ao cume,
O semear da morte e da semente,
Semear a morte que se assume,
E prolifera-se vivamente,
Sem um queixume,
Do obediente,
   O costume!...

Fechamos os olhos desnecessários,
Sem qualquer necessidade de os ter,
Inúteis, esses nossos olhos ordinários,
   Que nunca outros olhos quiseram ver!...




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terça-feira, 29 de março de 2016

Hera de uma Era e a Luz

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Arriscando entre a luz em perigo,
Entregou-se à luz ténue da fresta,
Não era a fresta um cómodo abrigo,
Era o caminho que caminhava consigo,
Caminhos entre uma iluminada floresta,
Onde as árvores cresciam em festa,
   Natureza de um costume antigo!...

Espreitou a luz que a espreitava,
Trepou com a luz dos seus sonhos,
Entre trevas e pesadelos medonhos,
E o medo que atrás dela desmedrava;
Enfim, a luz e todos os rostos risonhos,
Não se despedira dos rostos tristonhos,
    Era tanta a luz que os sonhos iluminava!...
Uma luz imensa,
A vida expandida das fontes,
Lembrou-se da fresta, viu pontes,
Abriu suas folhas viçosas à recompensa,
Cresceu rapidamente até novos horizontes,
Até sentir um corte que a deixou suspensa,
Na luz que dela se ia esvaindo!...
Ainda sentiu suas folhas caindo,
Caía nas trevas ao corte da foice fria,
Era o sonho que pela fresta se ia,
O fim da única Primavera,
Triste fim de mais uma Era,
A liberdade em agonia,
Era a luz que morria,
Como quem espera,
O que sempre quisera,
    À luz livre de cada dia!...



“Todos os pecados são enterrados vivos,
Sepultados sem pecado, para viver in Natura,
Vivem alimentados pelos mais puros motivos,
    Das flores que crescem em cada sepultura!...”
  
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