sábado, 22 de junho de 2013

Vazio dos Trapos

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Áridos olhos, aqueles,
Deserto de trapos do tempo sacudidos,
Evaporar-se em vida já não vêm, eles,
Espelhos cobertos de trapos!...
Cerzidos os velhos remendos, neles,
Tropeçados pespontos no tempo caídos,
Recuo nos farrapos do viço descosidos,
Cosidos os olhos por cílios deles!...
Espelhos cobertos de trapos!...

Emurchecem secos, os ditos, em fiapos,
Descosendo-se o limite, rasgando se vai,
O rasgado pedaço da língua cosida se cai,
Palavras se costuram na língua de trapos,
    O ser o que foi que naquilo que é se trai!..

…como se uma toalha do mais puro linho,
Não passasse de um envelhecido retalho,
Tão só é ser toda a solidão num pedacinho,
Aberto é o ponto retalhado pelo bandalho…
Irreflectidos no ser, sem o ser, os farrapos,
Remendados a sós, os títulos prostituídos,
   Áridos são os espelhos cobertos de trapos!...

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quarta-feira, 19 de junho de 2013

Gargalhadas...


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Como saber,
Como sentir e entender,
As gargalhadas que ouvimos,
Tão silenciosas do que sentimos,
Oposto sentir oposto ao contradizer,
Se nos damos às lágrimas quando rimos,
     E nos entregamos ao riso sem nos apetecer?!...

Todas as gargalhadas vão rindo por oposição,
Opõem-se ao louco do riso que ri de tanto rir,
Riem-se ao contrário do contrário de mentir,
Gargalhadas loucas formadas sem expressão,
Em feiras despidas de siso,
Vestidas de tão louco riso,
Trinam-se esganiçadas em riso que as vai despir,
Deliram com o delírio que delira com a opressão,
Gargalham na esperança da gargalhada as vestir,
 Aí vão estridentes e loucas à procura de servidão,
Servem-se de suas gargalhadas com sofreguidão,
  Para gargalhar da loucura que louca as vai servir,
e…
São bem servidas de improviso,
Gargalhadas de corpo presente,
Ecoam em loucura e sem aviso,
Esvoaçando num voo impreciso,
     A voar numa sanidade aparente!...

Cai um silêncio triste sobre a gargalhada calada,
Silencia-se cabisbaixa a sapiência com amargura,
Exala um último suspiro numa revolta amalucada
Desvanece-se culta a voz numa última gargalhada,
Sente-se na pele o arrepio da realidade mais dura,
Rasgam-se seus velhos lábios sábios numa risada,
    Gargalha-se de si a gargalhada louca sem cultura!...
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