terça-feira, 5 de fevereiro de 2013

Leve, Leve...

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Tão leve o que de mim te leva,
E me enleva,
Em torno da uma leve centelha nua,
Leve e quente que de ti me leva,
E te enleva,
Em torno de minha nudez que é tua!..

Tão leve,
A carícia de nossa quietude,
Na leveza do sonho sem fim,
Que leve te beija a virtude,
Ainda tão leve…
Na plenitude,
Do desejo tão ávido de mim!...

Tão leve…
Tão intenso este leve voar,
Confinado com o recolhimento,
Leve, leve…
O prazer de te libertar,
Para amar,
Cada leve momento!...

Tão leve…
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sexta-feira, 1 de fevereiro de 2013

Direito Invaginado

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Fecundez de semente primordial,
Germinada na bainha de preservativo invaginado,
Rasga os lábios sobrepostos da membrana geracional,
Que sugam os coágulos brancos ao primórdio espiritual,
Dos corações rasgados entre sangue vivo derramado,
Sobre a inumanidade prenhe de amor coagulado,
    Na Paz morta por consentimento convencional!...

Milhões de planos plenos de vida,
São preservados em preservativos sem saída,
Preserva-se a triste morte do humano imperfeito,
Em laboratórios onde às cobaias de pleno direito,
É imposto o único direito de ver instituída,
     A Esperança que lhes fenece no peito!...

Cortaram-te as unhas afiadas,
À entrada do preservativo azul-celeste,
Sem tempo para perceber o mal que fizeste,
Ainda viste outras famílias escravizadas,
   No colonizador hexágono a Leste!...


E aqui estamos entre pregas de seis paredes semitizadas,
Erguidas com sangue de humanos imperfeitos e arame farpado,
    Amordaçados até à indiferença de nossas vidas invaginadas!...

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segunda-feira, 28 de janeiro de 2013

Mesmice & Tédio

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Chamava-se mesmice,
Tinha o hábito de não saber porque corria,
Ao encontro do filho único da senhora rotina;
Costume, amigo rotineiro que sempre a perseguia,
Em tão sua habitual sujeição de inflexível monotonia,
Era um marasmo enfadonho de indobrável esquina,
Sempre à espera que a mesma de sempre o visse,
E antes que do mesmo modo escapulisse,
De igual modo traçava sua sina,
     No percurso que o seguisse!...

Num dia aos demais igual,
Mesmice fora vítima de assédio,
O amor à primeira vista foi consensual,
Decidiram-se pelo normalmente usual,
Se casar era o costumeiro remédio,
    Viveria para morrer de tédio!...

Ainda hoje não sabe porque corre,
Na certeza dessa incessante rotina,
     De saber que nesse labirinto morre!..
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quarta-feira, 23 de janeiro de 2013

Saliências

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Há saliências de outra vida,
Suspensas na vertigem de meus pesadelos,
Sonho que sou cor apressada a escorrer de meus cabelos,
E deixo tingir-me por brancos intermináveis!...
Há saliências de outra vida,
A fugir ao próximo voo a que me dou,
Sonho ser pena arrancada do pássaro que sou,
E sou a leveza de braços insustentáveis!...
Há saliências de outra vida,
Afundadas em parte incerta de meus apelos,
Sonho afogar-me e sendo água que algures se escoou,
Flutuo no vapor submerso de entoações frágeis!...
Há saliências de outra vida,
Nas palavras inaudíveis de um invisível diálogo,
Sonho-me entre vários em perfeito monólogo,
Com permissão para discordar do prólogo,
E, consoante meu sonho análogo,
Sonho ser vogal de mim!...
Há saliências de outra vida,
Saliências sem fim,
No fim do começo da vida que reencarnou,
Sonho que sou Alma de entrada,
Do sonho, sonho de saída,
E entro até à saliência,
Da outra vida pela saliente demência…
Sonha-me o sonho que sou tudo e nada,
Do nada da saliência escondida,
Sonho que sou carro e estrada,
E outra vez saliência,
Rio furioso e terna jangada,
Rio desencontrado da margem perdida…
Sonho que sou corrente sonhada,
Prova diluída,
Promessa quebrada,
Fé cega e científica minudência!...
Sou vida do sonho que sou,
Porção de minha existência,
E de outra,
Sou outra vida e...
    A própria Saliência!...


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