quarta-feira, 4 de abril de 2012

Geosmina



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Virgens pingos atrevidos,
Tremem ao ser recebidos,
Entre os seios sequiosos,
Beijam-se nervosos,
Beijos tremidos,
Beijos aleivosos,
Secos lábios traídos,
Por leves pingos ansiosos,
    Que secam nos brilhos perdidos!...

Lê-se leve a pele reescrita na poeira,
Lavrada pelas letras da palavra sedenta,
Bebe dos poemas toda a sede verdadeira,
Em cada triste página que secando lamenta,
Ser o lado mais seco de uma página poeirenta,
     A secar no outro lado de uma folha mensageira!...

Entre os cabelos de chuva e o vento que a penteia,
Silêncios nostálgicos contemplam o sol no outro lado,
Todas as centelhas de luz já dão brilho ao significado,
Como se o sentido da lágrima que a si se presenteia,
Só se fizesse para que se faça o olhar onde se leia,
O cheiro da terra revolvida no corpo inebriado!...

Desabafa-se a terra molhada,
Ergue-se fresca com o cheiro,
A geosmina de corpo ligeiro,
Banho da Alma enlameada,
Adivinha-se folha abraçada,
E beijo de fiel companheiro,
Reescrito na página rasgada,
   De um perfeito livro inteiro!...
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domingo, 1 de abril de 2012

Mentira...

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Dentro do teu vislumbre que te mira,
Desmaia uma fraca verdade enganada,
Iludida pelos olhos oscilantes da mentira,
Indecisos entre aquele teu olhar que ruíra,
   E o amplo horizonte de tua vista arruinada!...

Teus olhos cansados vão continuar a mentir,
Aos olhos teus tão cheios de um olhar insano,
A verdade que te mente não é causa de dano,
Nem teus olhos que te olham vão saber fingir,
Que não vêm a tua verdade que estás a omitir,
   Mentirosos olhares de tua cegueira e engano!...

A verdade é que por muito que não tentes,
O espelho que te mostra o avesso da verdade,
Ilumina-te com os reflexos de tua cega vaidade,
    Reflectida na mentira do engano que desmentes!...

Julgo, sem falsa ironia,
Não enganar-te nem estar enganado,
    Ao dizer que talvez seja este o teu dia!...



  Parabéns!...
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terça-feira, 27 de março de 2012

Tempo...

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O fim do tempo que nosso tempo de mãos abertas aguardou,
Como se de um tempo de todos os tempos nosso tempo se tratasse,
Por cada tempo que no tempo passou e parado no tempo aguardasse,
Aguardando naquele tempo o tratado que pelo tempo o tempo tratou,
Acordo temporário gravado na Esperança que no tempo perdido gravou,
   Esperanças temporãs do tempo na espera que o tempo se fecundasse!...

E o tempo que sempre passa,
Passa por não ser o tempo pelo qual teu desejo passou,
Passando por ser tempo escondido de nova Esperança traída,
Não passa de adiado tempo passado por momentos de fé vencida,
Vencendo os mesmos momentos que o tempo de ti e por ti se guardou,
Guardando teu resguardado tempo que no tempo certo do tempo se libertou,
   Voando nas asas do tempo em adejado voo sobre tua hora prometida!...

Mas tudo que do tempo resta é a silenciosa profecia caída em graça,
   Desgraçada na ideia calada do tempo de sempre que passa!...

São bem vindas chaves de ouro que brilham no tempo fechado,
Promessas feitas de olhos fechados aos dourados cadeados do tempo,
Fechaduras intemporais dessas palavras prisioneiras em celas de vento,
Brisas que deslizam nas goelas de um passageiro por alguém arrebatado,
Descrente de tudo na crença do nada é falsa volta de pião desatinado,
   Rodopiando no avesso do sentido contrário à mágoa de desalento!...

Fechaduras de mil línguas que dos tempos fantásticos se servem,
Portas fechadas que de tempos a tempos prometiam abrir-se ao alento,
   Do último dia, volta o primeiro de onde as mesmas dúvidas se erguem!...

Mas tudo que do tempo resta, é a silenciosa profecia caída em graça,
   Desgraçada na ideia calada do tempo que passa!...
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domingo, 25 de março de 2012

Notas Madrastas

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Aquela nota madrasta,
Que por ti se atrai e arrasta,
Lavra branca se filhos em linha,
Cinco linhas de um olhar que basta,
Alegro marialva que de fininho definha,
Ressuscitando cada alma de nota sozinha,
Libertino Triste que de ti se afasta!...

Rouxinol de papel em poiso de pentagrama,
Solta o pio escondido que cresce de mansinho,
Trovão de elevada ode afogada no silêncio da lama,
Substituída arte por parte da arte da mais triste  fama,
Encenada no canto lírico de um tonto poeta sozinho,
Eloquente trinado falso de manhoso comezinho,
A ondular com doçura no enredo do drama,
Como notas falsas soltadas em desalinho,
  Falsa voz que o canto roubado clama!...

Enteados geniais esbatidos na vaidade,
Esganiçam uns falsetes de opereta fugaz,
O piano mudo levanta a voz à voz que jaz,
Afonia dos débeis tenores de sorte finada,
    Por eles é nobre arte pela arte desprezada!...

Poalha de ouro em notas de poalha,
Leve poalha que baila em poalha de Si,
Áudio poluto de silenciosa poluta gralha,
O maior doído em queda nota de Mi,
Força o farfalho do que fraco se falha,
No Sol que denota notas de fado putedo,
Melodia escrava de chulo pó traiçoeiro,
Desvanece-se ao relento pelo nevoeiro,
Marcha à na rameira pauta do enredo,
    Tão misteriosa que por semeou o medo!...

Aquela nota madrasta,
Espreitando da noite que a toca,
É nota já envergonhada e gasta,
Composição de nota pura e casta,
   Alegro triste que seus filhos invoca!...
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quinta-feira, 22 de março de 2012

"Quezélias"

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Oh, quezílias,
Ai, quezélias,
Ho, Marílias,
Ai, Amélias,
Tuas palavras são vãs Emílias,
    Inócuo perfume de camélias!...

   Oooohhhhhhh...hehehehe...
...quezilenta palavra sem voz,
Ai, quezélia que não existes,
Oh, Palavra porque desistes,
De ser verdade de todos nós,
Ai, vejo que ainda persistes,
Na  mudez em que insistes,
Oh, ruído pífio de todos vós,
   Ai, palavra que não resistes!...

Ai, quezílias barulhentas,
    Oh, quezélias quezilentas!...

Oh, quezílias!...
Oh, Quezélias!...
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terça-feira, 20 de março de 2012

Horas Diferentes

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A Primavera não chega aos corações arrefecidos,
Velados na apatia dos Invernos que os enregelou,
Nem o Verão mais quente os mantém aquecidos,
Por renunciado Sol de sombrios raios entristecidos,
   Foi-se o calor com as folhas que o Outono levou!...

Um lívido coração,
Levita a um olhar do chão,
À espera que a árvore adormeça,
Uma folha adormece no calor do Verão,
E antes que a triste despedida aconteça,
Já não renasce o despertar para a ilusão,
De ser  verde folha que se entristeça,
No saber de não haver sido em vão,
Antes que por sua árvore feneça,
Precoce adeus sem previsão,
      Que por si se despeça!...
  
Na Primavera que se vai aproximando do Outono,
Culturas diferentes semeiam promissoras igualdades,
Das diferentes cores vivas germinam verdes Amizades,
Deixadas à solta entre as indomáveis horas sem dono,
Atrasando o adiantamento da desencontrada verdade,
   E logo adormece para acordar no regresso do sono!...
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segunda-feira, 19 de março de 2012

23...

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Há pó de prata perto de nossa porta,
Do pó de ouro se fez aliança de nossa aliança,
Respeitada no ouro onde gravamos nossa confiança,
Nossos nomes que nossa fidelidade exorta,
Na certeza do valor,
Sem preço do Amor,
Fortuna do respeito que nos importa,
E em nós grava a carinhosa lembrança,
   Dos anos que nosso Amor comporta!...

Embora cheire a prata ainda distante,
Mais rico do que o ouro ou diamante,
É admirável este Amor que enriquece,
Cada momento que por nós acontece,
Votos enriquecidos em cada instante,
Deste sentimento que nunca arrefece,
A renovada paixão cúmplice e amante,
    Casamento que por fiel amor apetece!...

Ainda não é de prata este ano,
Ainda que fosse jamais será mais precioso,
   Do que a fidelidade deste sentimento Humano!...
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sexta-feira, 16 de março de 2012

Insegura...

Vê-se-lhe a criança semeada pela Vida,
Dizem que é Bem-se-quer ou Margarida,
Num belo jardim descoberto pela felicidade,
Há flores a dizer que é um rebento sem idade,
Flor exalando a terra fresca de roseira florida,
Sem espinhos sente-se flor de beleza ferida,
  Desenfeitada por aquela agreste lealdade...
Sentia-se-lhe o perfume da filha perdida,
De uma sensível pétala agradecida,
E de outras pétalas tão suas que a faziam flor,
lábios entregues ao desvelo de seu amor...
Renascia por cada pétala renascida,
Reagindo com ansiedade,
Ao beijo de sua vontade,
E de um certo renascer sonhador,
Que não a fizesse flor vencida,
Com a sensação da necessidade,
De ser flor protegida,
  Pelos espinhos da saudade...
Abraça-se-lhe seu primaveril olor,
Perfume de Inverno em despedida,
Do velho espinho protector,
Escol delicado de ser ela,
Delicadeza sempre bela,
   Em sua e sempre dor!...
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terça-feira, 13 de março de 2012

Vulcão...

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A uma distância discreta da flama viva do teu olhar,
Ateio meus olhos em fogo atrás do fogo que te consome,
Vejo arder de desejo incógnitas brasas no teu corpo sem nome,
Lábios incontidos mordem-se na insaciável vontade de te beijar,
Quando pressentes a língua que sente tua língua de fogo queimar,
Abandonas-te à lenta lava incandescente que o teu desejo come,
E saboreias a chama dos momentos que incendeiam tua fome,
    Até à erupção que por extasiados momentos te vai saciar!...

Ardes com prazer intenso nesse fogo interno,
Quando te vais do medo de tuas asas inflamar,
    E te vens com o calor das asas do inferno!...
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sábado, 10 de março de 2012

Na Pdocura...

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“Estive com todas onde estiveste,
À espera que nunca mais voltasses,
Todas elas me deram o que me deste,
Mas jamais alguma fez o que me fizeste,
Desaparecida fosses quando pensasses,
Em fugir de todo teu Amor se amasses,
Quem te queria e sempre quiseste,
     Sem querer que com elas ficasses!...

E se é por ti que sempre passo por lá,
Pelas tuas entre-coxas onde tu não estás,
Talvez entre teu ninho que a mim não se dá,
Por respeito ao prazer ausente que por ti se faz,
É também pelo regozijo que deste por quem está,
Ainda à espera que pelos desejos delas te soltes,
E que pelo teu desejo ao desejo delas te dás,
Esperando para que só por ti não voltes,
E mesmo que por mim não te vás,
Não voltas para que eu não me vá,
Como se pedisses que por ti eu fique por cá,
      Fazendo-te presente na ausência que te trás!...”

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Baseado na eterna luta,
Do surpreendente Amor verdadeiro,
De um educado e sensível cavalheiro,
Pelo Amor dedicado a uma doce puta,
Que por Amor mudou a sua conduta,
     Deixando de dar prazer por dinheiro!...

Ainda hoje continua a sofder,
Aquele Homem que pdocura em todas as putas,
   A Mulher que por ele, puta deixou de ser!...

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