domingo, 30 de outubro de 2011

...Jaz

.
.
.


Aquele magro rosto cansado,
De uma pálida serenidade natural,
Adormeceu na tristeza de um leito fatal,
Entristecido pela beleza de um Outono sulcado,
Na despedida serena de um derradeiro adeus finado,
Pintado nas cores caídas daquele sorriso final!...

Uma imagem caída de Outono,
Despedida de qualquer desejo sem dono,
Abandonada ao vento frio que parado a acaricia,
É inerte imagem adormecida de uma memória sem sono,
Finalmente despojada da insónia que sobre cetim adormecia,
Eterno repouso branco da infalível e sempre eterna profecia,
Sepultada na crença ressuscitada de predições ao abandono,
Das cores verdes da primavera emprestadas num assomo,
De Esperança na esperança de ter vivido mais um dia!...

Uma lágrima de cera liquefeita,
Jaz na queda de uma folha desenhada,
Nas últimas linhas de uma página desfeita,
Tangida pelos sinos em despedida imperfeita,
Dobrando pelo lúgubre fim daquela folha rasgada,
Um pedaço de terra indiferente caída da lágrima cavada,
Que a cera de hora sem tempo ao fim do tempo foi sujeita;
Voam pássaros negros numa interrompida lágrima congelada,
Pairando no vazio do nada que no nada dos olhos se deita!...

Envolta em silêncio jacente,
Cobria-a um murmúrio cinzento,
Abafado por um letárgico desalento,
De consentido e meigo sopro clemente,
Último influxo de cera esvaído num momento,
Derretendo na tristeza de um regresso comovente,
Acariciado pela suave brisa que a pousou levemente,
Sobre uma folha de Outono levada pelo vento!...

Fecha-se a saída à folha onde o corpo jaz,
Entrada fechada às lágrimas em seu redor,
Deixando que pranteadas chaves de Amor,
Reclamem lembranças de um sorriso fugaz,
Entre os portões abertos em alvores de Paz,
Recordações felizes libertadas daquela dor!...

Uma folha de Outono levada pelo vento,
Afagando carinhosamente as faces primaveris do rubor,
Oferece uma nova Alma que voa nas asas do alento!...

.
.
.


quinta-feira, 27 de outubro de 2011

Tanto Faz...

.
.
.

…brincava entretido com o seu interior,
Sereno como se o silêncio o seguisse atrás,
Ninguém soube se ele era um sonhador,
Ou se era o sonho de uma vida anterior,
Quando perguntavam àquele rapaz:
-Queres isto?
Ele respondia: -Tanto faz...

…Olhava para as coisas com o olhar mais sereno,
Uma linha muito fina desenhava-lhe um suave sorriso,
Ninguém lhe viu nos olhos a denúncia de um olhar indeciso,
Sabia-se que deambulava por entre fofos montes de feno,
Colhia nos campos ceifados o cheiro ameno,
Quando perguntavam àquele rapaz:
-Queres aquilo?
Ele respondia: -Tanto faz...

…capturava estrelas no céu de quem o via,
Com brilho invisível que lhe estrelava o olhar,
Cintilava-lhe na calma uma leve tranquilidade,
Umas vezes era a leve sensação do que sentia,
Noutras pressentia-se um Poema a murmurar,
Ninguém viu qualquer lágrima no seu chorar,
Escorria-lhe na face uma tranquila simplicidade,
No rosto haviam-lhe cores infinitas da humildade,
E no silêncio das simples palavras uma flor floria,
Como se o mundo sentisse uma simples Poesia,
E quando perguntavam àquele rapaz:
-Queres isto ou aquilo?
Ele respondia: -Tanto faz...

*
 
…Um vivaço com pólvora a correr-lhe nas veias,
Disparava centelhas em explosões das ideias,
Tinha ávidos planos para as flores protegidas,
E uma estratégia para perfumar muitas vidas,
Alguns inocentes já apodreciam nas cadeias,
Das flores caiam pétalas com um ar sanhudo,
Do seu perfume estavam suas vítimas cheias,
E quando lhe perguntavam de antemão:
-Não queres isto nem aquilo, pois não?
Ainda que a pergunta fosse de um desejo mudo,
Ele respondia: -Eu exijo tudo.

*

…Um rapaz aguardava consigo a sua vez,
Uma brisa desenhou-lhe nos lábios um leve traço feliz,
Há uma velhinha que diz,
Tão pouco fizemos em nossa mesquinhez,
Por aquele rapaz que tendo parecido nada fazer tanto fez!...

.
.
.


segunda-feira, 24 de outubro de 2011

Meio Mundo

.
.
.

Meio mundo em minoria,
Contou o dobro de outro meio.
Metade da metade do que sabia,
Dessa metade fez-se meia biografia,
Meia ideia que de outra meia veio,
Ficou assim meio mundo cheio,
Da parte que não lhe cabia!...

A verdade,
Cortada pela metade,
É meio mundo esvaziado,
Por outro meio alucinado,
Lotado de meia maldade,
Meio e meio acostumado,
Ao erro de estar errado!...

É um meio,
 É uma metade,
Metade de meia verdade,
É um meio,
Caminho de sujidade,
É parte de um passeio,
Desumana falsidade,
De braço dado com a Humanidade!...

Só não se conta,
O que devia ser contado,
Orelhas moucas são um bom aliado,
Olhos que vêm são uma afronta,
Para a mentira sempre pronta,
A fazer do certo predicado,
Verbo desacreditado!...

Paciência!...

 É meio mundo,
Que não deixa mais de meio,
Sair bem lá do fundo!...

.
.
.

quinta-feira, 20 de outubro de 2011

Tiro

.
.
.
…Olhou para a lápide polida,
De duas lágrimas e um trémulo suspiro,
Uma das filhas do desgosto foi contida,
A outra escorreu entre rugas da vida,
E despediu-se da raiva com um tiro!...

…negou a côdea do último pão,
Do miolo restou apenas um suspiro,
Das searas colhia-se a recordação,
Era tempo de escolhas e oração,
Desfez-se da fome com um tiro!...

…Aceitou o último pré,
Despediu-se da parada com um suspiro,
Trocou passos da marcha pelo pé ante pé,
Acariciou a pistola roubada com muita fé,
E despediu-se da podre paz com um tiro!...

…Esperou na praça partindo de uma premissa,
Olhou o céu e azulou-o com um longo suspiro,
Lembrou-se da fé de Cristo, não da última missa,
Abraçou os risonhos ministros e fez-se justiça,
Um cravo impune foi morto com um tiro!...

…De um tiro que bastou,
Ficou cinzelado o exemplo,
Que tudo mudou!...
.
.
.


domingo, 16 de outubro de 2011

Cigarro


.
.
.

Sem o ansioso filtro da inocência,
Flores de fumo esfumam suas ânsias,
Nas sombras de esbatidas fragrâncias,
As mortalhas lambidas pela aparência,
Enrolam cinzas quentes em evidência,
 Vício morto  por naturais substâncias!...
.
.
.
Fuma-se o que resta das exuberâncias,
Cinzas do dissipado fumo das baforadas,
Ufania vitimada pelas circunstâncias!...
.
.
.





sábado, 15 de outubro de 2011

Masturb.360

.
.
.

Masturbava o cérebro,
Ejaculava neurónios,
E desfalecia a seguir com um ar acéfalo,
Possuído por demónios,
Por momentos!...
Depois recuperava,
Abraçava a luxúria de seus pensamentos,
E voltava às contas de cabeça,
Procurando respostas virgens,
Mas… nada!...
Repetiam-se no pecado carnal das luas,
Respostas de vai e vem,
Sempre nuas,
Rosto da beleza de alguém,
Despidas de qualquer interesse,
Muito batidas!...
Um dia, num dos seus desfalecimentos,
Recuperando da perda de consciência sentida,
Enquanto perdia o sentido da consciência perdida,
Sentiu um aperto autoritário bem no cu das meninges,
E voltou a vir-se abaixo das ideias;
Enquanto o cego não se veio das candeias,
Probóscides de luz vinham-se em iluminadas esfinges,
E entre flashes voadores extasiados demais,
Sonhou com masturbações intelectuais,
Cheias de luz,
Com respostas inteligentes nunca antes desfloradas,
Ejaculadas,
E os significados múltiplos de lascivos rituais!...
Encontraria tal resposta,
Iluminada fonte dos secretos prazeres?!...

Dessa vez,
Na vontade de recuperar o último neurónio,
Já nos braços de Morfeu,
Caído nos gostos do demónio,
E no prazer que a ideia lhe deu,
Esforçando-se por continuar no cu dos sentidos,
Continuou a sonhar com respostas;
Respostas cada vez mais inteligentes,
Respostas cada vez mais filosóficas,
Sensuais e concupiscentes,
Pecados de envolvências católicas,
Respostas cada vez mais poderosas!...
Depois de tantas e tentadoras respostas,
Sonhou que todas elas,
 As respostas,
Masturbavam o cérebro,
Ejaculavam os neurónios,
E desfaleciam de seguida com ar acéfalo,
Possuídas por demónios,
Por momentos!...

quinta-feira, 13 de outubro de 2011

Liberdade de Expressão

.
.
.


A democracia de tão mal ensinada,
Abre-se a toda a liberdade expressada,
Acaba vulgarmente caída na vulgarização,
Qualquer capaz razão pode ser contestada,
Idiotas têm toda a liberdade de expressão,
Contestam mesmo o alvo da contestação,
Manifestação Democrática já vulgarizada,
Pela vulgar liberdade de interpretação,
Pérola por porcos mal interpretada!...

Tão ingénua é a palavra instintiva,
Força desperdiçada pelo expressar,
Animalesca manifestação impulsiva,
Essa estranha liberdade interpretativa,
Dos pensamentos livres para interpretar,
Catervas já mudas por tão febril protestar,
Contra o velho desprezo de surdez ofensiva,
Museu de cera da expressão inexpressiva!...

A imagem da morte por tão vulgar,
Amortece os sofrimentos sem sentido,
É vulgar sofrer na vulgaridade de ter vivido,
Lugares comuns do ser morto e poder matar,
Cadáver expresso na liberdade de expressar,
Falar por falar da dor sem nunca ter sofrido!...

Nos corredores do poder circula um rumor,
Não se ouve nem um pestanejar do ruidoso povo,
Como se as galinhas deixassem de o ser para ser ovo,
Fechando-se num perturbante silêncio ensurdecedor,
Dos ladrões de colarinho branco apodera-se o temor,
Em silêncio vai expressar-se um mundo novo!...

Quando a um Povo mal-educado,
Se dá toda a expressão da Liberdade,
O mais certo é promiscuir-se a verdade,
Com a má educação desse Povo abandonado,
Deixado a falar sozinho no direito que lhe fora dado!...

.
.
.


quarta-feira, 12 de outubro de 2011

(r)Evolução

.
.
.

Afinal,
A Revolução,
Visual,
É brutal,
Ilusão,
Do mesmo padrão,
Ritual,
Em execução,
Verbal,
Manipulação,
Causal,
Da superior raça magistral,
Monstruosa pretensão,
Filhos da sabedoria cabal
a. Subversão,
Domadores do animal,
Adiada Evolução!...
 .
.
.



terça-feira, 11 de outubro de 2011

Apocalipse

.
.
.


Não pisarás o verde da terra,
Não verás o azul do céu,
Serás um prisioneiro de guerra,
Serás réu!...
Não verás uma alma bondosa,
Não verás um rosto rosado,
Não verás uma pele mimosa,
Não verás um corpo lavado!...
Não terás um trapo,
Um trapo serás,
Morrerás de frio,
Serás um condenado nato!...
Não encontrarás um rio,
Sentir-te-ás fraco,
Beberás ácido da bexiga de um porco,
Tua alma sorverás, comerás bocados do teu corpo,
Até pouco restar,
Do teu filho inocente,
Rebento de teu sangue comido ao jantar!...
Mas… resistirás!...
A carne vais deixar de comer,
Teu corpo carcomido,
Será nojento;
Arrastar-te-ás sem poder algum,
Já não serás violento,
Teu refúgio será no jejum,
Não falarás,
Porque tua língua já comeste,
E cego como ficarás,
Do que sofreste,
 Pouco verás!...

Definharemos num pesadelo agitado,
Sufocados no vómito da nossa mente distorcida,
Asquerosa podridão engolida por um grito abafado,
Até a Alma de toda a Humanidade ser digerida,
No caos da bombardeada terra exaurida,
Na vergonha do homem culpado!...

.
.
.



domingo, 9 de outubro de 2011

Humanidade Suicida

.
.
.

A ganância neste doente Planeta,
É uma doença que continua a alastrar,
Tumor maligno que ninguém quer curar,
Pulmão árido onde se extingue um cometa,
Genético sangue de tão modificada plaqueta,
Soros que fluem dos voos que se vão suicidar,
Asas caídas de uma coleccionada borboleta,
Longe dos olhos verdes de verde olhar,
Onde se esconde uma secreta violeta!...

O que é esta estranha Terra suicida,
Onde o capitalismo vive da caridade,
E o resto da Humanidade,
Morre perdida,
No significado da Vida,
Enterrada na soberba vaidade,
De cobrir-se com o ouro homicida,
E deixa morrer a bondade?!...
Morre a verdade,
Na vontade falsa de morrer,
O contágio vai continuar a crescer,
Um dia virá em que o capitalista viverá da piedade,
Dia que vive na mesma Terra onde vai nascer,
O princípio básico da igualdade!...

Mas como os habitantes deste estranho planeta não são de fiar,
É justo, por mais injusto que pareça, duvidar!....
.
.
.