terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

Calendário



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Os ídolos colados na cal apodrecida,
Apagavam a memória dos calendários,
Entre as sumptuosas coxas e seios de diva,
Arregalavam-se os batidos dos olhos solitários,
Gastos orgasmos marcados nos desgostos diários,
Dos sonhos que se guiavam pelas estrelas da vida,
Talvez sonhos encantados, talvez estrela prometida,
Brilhando sob doze marcas dos prazeres ordinários,
Dias de cal viva queimados na esperança perdida!...
Foram caindo as folhas nuas dos velhos calendários,
Dos olhos precipitaram-se as despidas vendas,
Amontoam-se os dias na folha desiludida,
Dos meses nus deitados às calendas!

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quarta-feira, 26 de janeiro de 2011

Réquiem


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Sirvam-me lágrimas de dor,
Em bandejas dilaceradas pelo amor,
Esse amor chorado,
Traído por sedução traída,
Traição germinada na lágrima consentida,
Pela lágrima do orgulho desprezada!

Chorem pelo sexo,
Chorem por amor,
Chorem lágrimas sem nexo,
Chorem pelo meu pensar complexo,
Por favor,
Chorem por mim!...
Ao meu choro digam sim,
Tenham pena deste meu estertor,
Escondam de vós penas de dor,
Que as lágrimas não demorem,
Mas, por favor,
Por mim chorem!

Venham ao réquiem do meu orgulho,
Retenham vossas lágrimas e saboreiem o engulho,
Afoguem-me em minha missa dos defuntos,
Para que possamos por mim chorar juntos,
Lágrimas da miserável pena, onde eu mergulho!

Cubram-me com vossas lágrimas sentidas,
Meu frio anseia por vossas lágrimas fingidas,
Afaguem minha esforçada vergonha serena,
Com texturas de vossas lágrimas de pena,
Fertilizante fracassado de lágrimas imerecidas,
Corpo meu de onde germina uma açucena!

Façam-me sentir vossas lágrimas desdenhosas,
Tocando o útero de minhas lágrimas manhosas,
Para que fodam a pena que a pena tem de mim,
E me fecundem as veias onde voam mariposas,
Em doces voos carpideiros de choro sem fim,
Asas do não em prisioneiras asas do sim!

Todas as lágrimas são belos presentes,
Olhos de água de falsas penas risonhas,
Onde voam lágrimas de penas enfadonhas,
Entre pingos, insípidos de sal, imerecidos,
Prenda de pena desavergonhada de vergonhas,
Acabando desprezada na pena dos amigos!

Secaram agora todas as lágrimas alheias,
Hipocrisia amiga de simpáticas lágrimas feias,
Quase afogaram minha esquecida beleza,
Chorando desdém sobre minha tristeza!...

Escondam de vós as penas de dor,
Que as lágrimas não demorem,
Mas, por favor,
Por vós, chorem!

Aquelas açucenas brotadas de meu corpo,
Regadas com aliviadas lágrimas de pena,
Ressuscitam o olhar do meu olhar absorto,
Esperança desmedida de uma lágrima pequena,
Que zarpa do olhar daquele abandonado porto,
Navegando a liberdade em tempestade amena!

Escondam os olhos das penas de dor,
Que as lágrimas não demorem,
Mas, por favor,
Por mim,
Antes do fim,
Não chorem!

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terça-feira, 25 de janeiro de 2011

Amor Roubado



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Vezes há em que dou por mim,
A roubar o Amor que o Amor me deu,
Quero devolver este teu Amor que é meu,
Deixando que mo roubes por teu Amor sem fim,
Para que me dês um tão grande Amor assim,
Assim te dando todo nosso Amor que é teu!

Fosse tanto Amor assim roubado,
Partilhando muito do Amor que é seu,
E mais Amor seria dado!

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segunda-feira, 24 de janeiro de 2011

Dores do Povo


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No silêncio dos mudos prados,
Votos de carneiros desolados,
Fungam a gratidão do poder,
Que ajudaram a eleger;
Olham agora pratos esvaziados,
Por tão cheios de nada para comer,
Ingrato o desprezo a que foram votados,
Nos mesmos pastos que continuam a arder!

Por mais estranho que pareça,
O Povo gosta de cabeçadas na parede,
Para poder queixar-se da cabeça!

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domingo, 23 de janeiro de 2011

Voto de Carneiro



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À frente dos doutos cajados,
Obedecem cabisbaixos os timoratos,
Sem orgulho e por pele de carneiro contaminados,
Vão pastando nos deveres cívicos desacreditados,
Gritando a cidadania da pele dos lobos cordatos,
Nos pastos promovidos por tão pífios ingratos,
Que tanto apelam aos votos acarneirados!

Procuram-se lobos com muita fé,
Para salvar o rebanho dos carneiros, mééé!...

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sábado, 22 de janeiro de 2011

Riso







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Um sorriso que sorria,
Louco por uma gargalhada,
Ria com quem dele se ria,
Riso que de tanto rir morria,
Afogado na própria risada,
Da caterva abandonada,
Ao riso que merecia!

Hahahahahahahai...
Ai, a vontade rir,
Do riso que está para vir,
 E nem um sorriso aparece,
Na vontade que envelhece!

Hahahahahahahai…
Ai, a vontade de rir,
Do siso!...
Do senso que há-de vir,
Para voltar a rir,
Do riso!...

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quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

Pegada


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Sobre a sua esquecida pegada,
Penetra uma clarabóia estranha,
Emergindo do brilho que a banha,
E a despe com uma fina camada,
De nudez na palavra denunciada,
A Luz misteriosa que se entranha!

Fria das noites perdidas que ganha,
 Recalca pegadas no cume de mil anos,
Que não iluminam o sopé da montanha!

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terça-feira, 18 de janeiro de 2011

Aliança


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Luzindo na Alma da Poesia,
Deslizam brisas de alfazema,
Impelidas por fiel harmonia,
Ao beijo suave de um Poema,
Enlaçado pelo mel da fantasia,
Em favos de deleitosa melodia,
Ciciada entre uma Alma serena,
E outra Alma de felicidade plena,
Mágico pólen de amena sinfonia!...

Ilusão enfeita o passo de dança,
Flutua o ouro nos dedos do dia,
É valioso o metal da fiel aliança!

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sexta-feira, 14 de janeiro de 2011

Pêndulo



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Pende fatigado,
O pêndulo adormecido,
No vaivém desiludido,
Do coração descompassado,
Cumprindo seu triste fado,
De ver seu tempo cumprido!...

E no regresso que vem,
Quebra-se a corda do relógio tombado,
No roubo das horas perdidas de alguém,
Perdidas nos dias esquecidos de ninguém,
Tempo pendular de Futuro escoado,
Na memória do tempo que retém,
A esperança de voltar ao passado!

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quarta-feira, 12 de janeiro de 2011

Sabor...


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Quem roubou teu sabor,
Dando o palato a provar,
Promessas do teu Amar,
A mistura de amarga dor,
Com embriaguez de Amor,
Que não soube saborear?!...

Quantas sementes de amargura,
São teus beijos de vento a esvoaçar,
Em ciclones amargurados de doçura!...

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