quinta-feira, 29 de setembro de 2016

Dia-sim, Dia-não das Virgens

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São beijos de puta, pecados virgens
Comprados pelo perdão da caridade,
Perdoar o pecado é virtude de origens,
Entregam-se ao abismo por necessidade,
Equilibram-se no prazer sem vontade,
São violadas por infiéis vertigens!...

Olham desoladas,
As pobres prostitutas originais,
Para as ricas senhoras de sucessos virais,
Acompanhantes, por infiéis acompanhadas,
São virgens para quem lhes pagar mais,
Umas prostituem-se amarguradas,
Outras são sérias putas casadas,
    No reino das prostitutas reais!...

Pobre prostituta, pobre,
Já nasceste sem virgindade,
Não tiveste a sorte de ser nobre,
Compram parte de ti pela metade,
Vendes aos infelizes tua infelicidade,
São felizes com a triste sorte que te cobre,
Pedes a Deus que tua coragem recobre,
     Te cubra com uma réstia de dignidade!...

Não és virgem imaculada,
Não sabes que há virgens, pois não?...
Não és virgem todos os dias de tua vida desgraçada,
Ricas, as senhoras são virgens, dia sim, dia não,
São putas de tudo e de ti não resta nada,
     Nem a origem do amor no teu coração!...

Olha quem te viu,
Olha quem te Vê,
Não foi uma virgem que te pariu,
As filhas do dia-sim, são mães de quem as cobriu,
 As mães do dia-não, morreram de desgosto e ninguém sabe porquê!...
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terça-feira, 27 de setembro de 2016

Grande Cagada

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Ainda a dormir,
Cruzo a madrugada,
Ainda sonho em desistir,
Mas continuo a caminhada,
Sinto um vómito por mim a subir,
Não sei se hei de vomitar ou engolir,
    Há no caminho uma grande cagada!...

Há um cagalhão no passeio,
Com tantos sítios onde cagar,
Alguém cagou logo ali no meio,
Onde os olhos costumam passar;
Há sempre alguém para limpar,
A merda evacuada sem devaneio,
Está de tanta merda o mundo cheio,
Merda dos que se continuam a borrar,
    Por viverem na merda de tanto receio!...

Há sempre alguém que caga,
Em quem não se farta de cagar,
Há sempre alguém que muito paga,
     Pela merda dos que a deviam pagar!...

Todos se desviam dos cagalhões,
Montes de merda atravessados no olhar,
Há sempre quem procure a merda no ar,
E antes que a merda chegue às ilusões,
  Há quem acabe por cagalhões pisar!...

Mais valia borrar um pé,
Dizem muitos, já borrados,
Cheiram mal, fedendo de fé,
     Por muita merda já pisados!....
  
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sexta-feira, 23 de setembro de 2016

H. Romano (As eternas cores do Regresso)


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Talvez o risco que assumimos,
Seja o risco assumido que traçamos,
Risco do risco muito fino do qual caímos,
     O mesmo risco do qual nos levantamos!...

E tudo se rejuvenesce na cor,
Com que descolorimos os anos,
Cores das memórias que amamos,
Pinta-se com prazer o prazer da dor,
E é por essas cores que voltamos,
   À pintura inacabado do amor!...

Cobres-te de tinta,
Voas sobre o linho da tela,
É a tela de linho que te pinta,
    Quando te vê pintado sobre ela!...
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quinta-feira, 22 de setembro de 2016

A Rola pôs dois Ovos no Buraco da Fechadura

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Que teria visto o sorridente petiz,
Com sua cândida inocência e pura,
Quando num riso envergonhado diz,
Que a uns milímetros do seu nariz,
A rolinha, -diz ele a jurar que jura-
     Pôs dois ovos no buraco da fechadura?!...

Em todas as portas há fechaduras sagazes,
E todas as rolas que espreitam são capazes,
De nelas sentirem dois ovos escuros a bater,
Aninhando-se em ninhos quentes de prazer,
Muitas passarinhas esquecidas das chaves,
Fecham-se em pequenos ovos sem o saber,
    Espreitam-nas a inocência de outras aves!...

Há um buraco na fechadura,
A brilhar com intensidade,
Palpita com ansiedade,
Em segredo que pouco dura,
Abrem-se as portas com ternura,
  Às chaves inocentes da curiosidade!...
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sexta-feira, 16 de setembro de 2016

A Ponte sobre Pedras firmes do Rio

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Minhas pedras silenciosas,
Que tanto resistis às águas mansas,
E tu, minha doce água que não te cansas,
Que passaste por amargas línguas furiosas,
Tão vivas são as vossas memórias grandiosas,
No coração das memórias sem lembranças,
   Pontes erguidas sobre pedras saudosas!...

São tão tuas estas minhas estórias,
Recordações sobre tuas águas estagnadas,
Onde flutua a nostalgia de minhas memórias,
Não me lembro de comprometidas promissórias,
Nem outras dívidas sobre muitas águas passadas,
Devo-te todas as minhas silenciosas glórias,
Barquitos de papel sobre águas paradas,
   Ponte de recordações obrigatórias!...

Devo-te tudo do que nada me deves,
Atrevo-me a nadar à volta de tuas velhas águas,
Pergunto-me, como a todas as pedras, tu te atreves,
    A ser pedra tão firme nesse teu rio de tantas mágoas!...
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quinta-feira, 1 de setembro de 2016

Rabo de Palha

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É, em si mesmo, um ácido ferrolho,
Penetra no marco meigo de quem calha,
Desliza entre as cores de qualquer olho,
Enraíza-se e da colheita faz-se restolho,
Acusa o salgado suor de quem trabalha,
De ser culpada e uma criminosa navalha,
Esqueceu-se de por as barbas de molho,
     Tentou esconder os seus rabos de palha!...

Passaram ceifas e férteis colheitas,
Algumas mal sucedidas,
Colheitas perdidas,
Searas desfeitas,
Pelo desleixo traídas,
Por acusações suspeitas;
Escondiam-se contas às contas feitas,
E antes que as línguas não ficassem tolhidas,
Ceifavam-se outras línguas, às injustiças sujeitas,
    Oferecera o silêncio de abastadas colheitas prometidas!...

Deus me valha, Deus me valha,
Deus me livre desse jeito demagogo,
A justiça é preguiçosa mas nunca falha,
Adormece muitas vezes envolta em fogo,
Acorda no meu longo e seco rabo de palha,
   E às minhas barbas, que água lhes valha!...
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segunda-feira, 29 de agosto de 2016

Segredos


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Há tanta confidência escondida no segredo,
   Há tanta revelação autorizada pela liberdade…
Há tanto medo,
Há por aí uma criança que é um sigiloso brinquedo,
Há tantos brinquedos secretos sem nacionalidade,
Há tanta sigilosa verdade,
Há tanto clandestino desassossego,
Escondido em nostalgias de sossego,
   O silêncio dormente de saudade!..

Não digas a ninguém que eu te disse,
Os deuses poderosos não quiseram que eu visse,
Vislumbrei segredos que mais ninguém quis ver,
Adivinhei o que foi e não era que era para ser,
E ainda antes que a verdade se pressentisse,
Caiu um silêncio de morte antes de morrer,
Algo inocente morreu antes que caísse,
    Caiu na morte o segredo de viver!...

São infinitos, os segredos por contar,
Vou contar-te o segredo da poesia silenciosa,
É com o silêncio da Alma que tu deves escutar,
Vou revelar-te o segredo da paz harmoniosa,
    Nunca guardes segredo do poder de amar!...
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quinta-feira, 25 de agosto de 2016

O Bem da Maldade


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Se os miseráveis inchados de maldade,
Soubessem o bem que, por maldade, fazem,
Teriam orgulho no limpo reflexo da sua bondade,
     Em vez da imagem miserável que consigo trazem!...

Á sua passagem, abrem-se em veredas de espinhos,
Fazem-se caminho até aos lábios cerrados do abismo,
Mordem-se com seus dentes de apertado egoísmo,
Enquanto espreitam a queda de todos os vizinhos,
Evaporou-se a pura água benta do seu baptismo,
   Não os empurrem, eles caem sozinhos!...

Por maldade,
Tanto bem fazem,
Esvaindo-se em bondade,
     Que consigo não trazem!...
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quinta-feira, 11 de agosto de 2016

Sem Medo das Palavras

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Desafiava a palavra mais forte,
Encarava-a de frente,
E, de repente,
Num golpe de fino recorte,
Sem perder o porte,
Desferia um golpe certeiro na língua da serpente,
Cortando-lhe o verbal veneno da bifurcada sorte,
Para que a crua verdade ficasse bem assente,
     No traje da vida e na nudez da morte!...

Assim viveu,
Sem medo das palavras ditas,
Sem medo do que sempre foi seu,
   A vida das suas palavras escritas,
      Palavras vivas com que morreu!...
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domingo, 7 de agosto de 2016

Autómatos de Deus

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O autómato sintomático,
Com sintomas de automatismos,
Faz um discurso automático,
Cheio de preciosismos!...

Invoca automatismos de Deus,
Como se os autómatos fossem todos ateus,
Faz-se crer um enviado de deus e autónomo,
Sabendo-se um religioso heterónomo,
De automatismos que não são seus,
Preçário automático de fariseus,
Preço de obediente ecónomo,
   Títere articulado por judeus!...

E não faz perceber que se apercebe,
De ser um frio autómato programado,
Em sua celebração os autómatos recebe,
  Fala-lhes dos autómatos, mas nunca da plebe,
Esse rebanho autómato por autómatos orientado,
Automatizando a liberdade desse cordeiro sacrificado,
Obrigado a ser autómato que sangue de Cristo bebe;
É o corpo sem alma,
Corpo que se espalma,
Entre a prisão e a consciência,
Onde se move com triste calma,
Envolto nesse véu de reminiscência,
Quase Espírito sem coexistência,
     Que a razão autómata desalma!...

Passo a passo,
Assoberbam-se do seu Deus,
Nada mais cabe em corações seus,

  Nem para a verdade de Deus têm mais espaço!...
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