quarta-feira, 16 de novembro de 2011

Galinha


.
.
.

Nunca haviam visto uma verdadeira galinha,
Ovos saborosos eram pequenas caixinhas ovais,
Uma incrível engenharia perfeita como as demais,
Do branco é ao galinha o põe ia uma fácil adivinha
Eram o cavalo branco de Napoleão em toda a linha,
Brancos colarinhos longe de galinácios nacionais!...

O papel-moeda  era filigrana de obras de arte,
A moeda era um ente querido de precioso metal,
Ai, os cunhos das cunhadas de esposas em parte,
Cunhadas na testa dos que sofreriam um enfarte,
Traídos pelo valor elevado de um irmão desigual,
Confiança dada à consignação pelo bom comensal,
Senhor de antecipada prestação por seu baluarte,
Pago pela esposa do irmão como primeiro sinal!...

Todos os despojados do que nunca tiveram,
Protegem agora todas as galinhas inocentes,
Defendem o cu da galinha com unhas e dentes,
Os ovos já não são os que os arquitetos fizeram,
Almoços fáceis daqueles que nunca os tiveram,
Já são as galinhas preciosidades transcendentes,
Canja de pobres e caldos de galinhas inteligentes,
Esses que esqueceram onde as penas estiveram,
   E estavam eles da importância do caviar cientes!...

Agora nestes velhos tempos novos,
Já não é novo ver por aí a cada passo,
As velhas terras que alimentam o espaço,
E as gordas galinhas a chocarem os ovos,
No torrão de suor debaixo do braço!...
.
.
.


segunda-feira, 14 de novembro de 2011

Poema?!...


.
.
.

Diz quem não o leu,
Que foi o Poema mais lido,
Sabe-se que ninguém o escreveu,
Ainda que todos o tenham como seu,
Escrito na Alma que trazem consigo,
Poema feliz em silêncio proferido,
Por quem em dor não sofreu,
Lamento que trago comigo,
Por não ser a poesia que podia ter sido!...

 .
.
.

sexta-feira, 11 de novembro de 2011

Folhas...

.
.
.

Afagada a cor da última folha que resta,
Pela lágrima em seiva de um olhar meigo libertado,
Liberta transparências dos carreiros duma densa floresta,
Que agradecem os veios em pagos de um castigo calado,
Por flutuantes perdões verdes de um seco silencio parado,
Remissível no sossego da dádiva que ao grito empresta,
Soltando a folha muda da palavra nua que se manifesta,
Num espairecido suspiro de verde adeus ignorado!...

Na força da folha que falha,
Faz-se forte a fábula que fala,
Excitando a façanha que embala,
Faguice que na nudez pálida se espalha,
 Tocando vestes nuas caídas de um farto seio,
Transformando em ternura de uma etérea poalha,
E que de luz a liberdade do suspiro seguinte que se cala,
Porque a última folha é olhar verde caído de uma eterna batalha,
Conquistada na perda da cor que na vida, entre a morte, à dor vive alheio!...

No calculismo de ventos sádicos que fustigam as nervuras das árvores sem tendência,
A frieza altiva de árvores desenraizadas, gelam o frio com promessas de mais frio,
Envolvem-se em gelados unguentos untados nas serpentinas de inocência,
E culpam as serpentes envolvidas por espirais ventanias de exigência,
Convencendo as palavras bífidas a serem berços de leito macio,
Prontas para acolher os beijos ocos de um fruto vazio,
Eco adormecido de atenuante sonolência,
Do interior das árvores sem cio,
Inverno de sua penitência!...

Uma a uma, enquanto o tempo não dorme,
Delicadas, abrem-se nuas mãos suavemente,
À cor esmaecida de um verde sono ausente,
Juntam-se os gestos num lamento enorme,
Repetindo-se entre o abandono conforme,
No policromo frio de uma folha jacente!...

Na floresta sem cor de muita gente,
Há folhas caídas dos olhos das árvores que choram,
Derramando a seiva de esperança que o coração sente!...

.
.
.




quarta-feira, 9 de novembro de 2011

Firme

.
.
.

Caíram as promessas de Juras,
Nas crédulas figas esconjuradas
Ainda vertiam seiva das nervuras,
Oferecendo matizes desmaiadas,
Às envelhecidas cores resignadas,
Plantam-se árvores sobre pinturas,
Beleza de descoloridas amarguras,
 Superstição de juras amarguradas!...

O que foram árvores Altivas,
Coroadas de copas frondosas,
Continuam árvores corajosas,
Estóicas em suas perspectivas,
Sabendo ser árvores preciosas,
Únicas de si sem alternativas!...

Também há Mulheres assim,
Seguras de suas estimativas,
Sempre Árvores até ao fim!...

.
.
.

domingo, 6 de novembro de 2011

...do Olhar

.
.
.
...Entre os pingos das nuvens felizes por chorar,
Brilhavam lágrimas que riam de velhos caudais,
As cores do arco-íris nunca eram belas de mais,
Eram todas as lágrimas espelho do Sol a brilhar,
Beleza que impelia os rios ao encontro do mar,
Talvez lágrima, talvez um pingo furtado ao olhar,
Quem sabe, um barco avistado lá longe do cais,
Ou anil raiado nos olhos cansados de navegar!...

No olhar nostálgico de vidradas janelas,
Bátegas embaciadas revelam olhos de limpidez,
Um corpo frágil forma-se de feminina timidez,
Da Alma vislumbram-se Almas de mil cautelas,
Vidros finíssimos acariciados por frágeis lamelas,
Dançam entre a transparência de tímida nudez!...

Entre lâminas transparentes que cortam ao ver,
Espelhos d’água serão testemunhos das quedas,
Da espuma às lágrimas que não quiseram ser!...

 .
.
.


quarta-feira, 2 de novembro de 2011

Desejasses...

 .
.
.
Desejasses transvestir-te de tua lágrima contrafeita,
Oferecer tuas mágoas cantadas em côngios antigos,
Desejasses tu revestir-te de teus contrafeitos amigos,
Oferecer transbordos saudáveis de tua cúmplice maleita,
Desejasses teu abraço contrafeito que por ti se estreita,
Oferecer a razão directa de melancólicos desejos antigos!...


Desejasses o adiado beijo e teu desejo,
Desejo que por beijo meigo te beijava,
Beijasse a Esperança teu desejado pejo,
Desejando o beijo que um beijo amava,
Esse doce desejo que o beijo desejava,
Ao beijar teu coração num terno ensejo,
E o Amor por Amor se enamorava!...

Desejasses a morte que por ti morresse,
Matando teu desejo que por alguém viveu,
Desejasses a vida que por ti alguém volveu,
Vivendo do desejo que por ti se apetecesse,
Desejasses tu a derrota que por ti vencesse,
Vitorioso desejo que por alguém se perdeu!...

Escrevesse teu desejo uma rima de Amor,
Coma ternura delicada do Poema beijado,
Lesse teu sorriso um terno beijo desejado,
Nas pétalas felizes de uma rosa branca flor,
E tuas juras fechadas em páginas de alvor,
Seriam livro aberto do teu coração aliviado!...

Desejasses tu uma rima de Amor!...
Desejasses tu um Desejo!...
Desejasses tu esquecer tua Dor!...
.
.
.

domingo, 30 de outubro de 2011

...Jaz

.
.
.


Aquele magro rosto cansado,
De uma pálida serenidade natural,
Adormeceu na tristeza de um leito fatal,
Entristecido pela beleza de um Outono sulcado,
Na despedida serena de um derradeiro adeus finado,
Pintado nas cores caídas daquele sorriso final!...

Uma imagem caída de Outono,
Despedida de qualquer desejo sem dono,
Abandonada ao vento frio que parado a acaricia,
É inerte imagem adormecida de uma memória sem sono,
Finalmente despojada da insónia que sobre cetim adormecia,
Eterno repouso branco da infalível e sempre eterna profecia,
Sepultada na crença ressuscitada de predições ao abandono,
Das cores verdes da primavera emprestadas num assomo,
De Esperança na esperança de ter vivido mais um dia!...

Uma lágrima de cera liquefeita,
Jaz na queda de uma folha desenhada,
Nas últimas linhas de uma página desfeita,
Tangida pelos sinos em despedida imperfeita,
Dobrando pelo lúgubre fim daquela folha rasgada,
Um pedaço de terra indiferente caída da lágrima cavada,
Que a cera de hora sem tempo ao fim do tempo foi sujeita;
Voam pássaros negros numa interrompida lágrima congelada,
Pairando no vazio do nada que no nada dos olhos se deita!...

Envolta em silêncio jacente,
Cobria-a um murmúrio cinzento,
Abafado por um letárgico desalento,
De consentido e meigo sopro clemente,
Último influxo de cera esvaído num momento,
Derretendo na tristeza de um regresso comovente,
Acariciado pela suave brisa que a pousou levemente,
Sobre uma folha de Outono levada pelo vento!...

Fecha-se a saída à folha onde o corpo jaz,
Entrada fechada às lágrimas em seu redor,
Deixando que pranteadas chaves de Amor,
Reclamem lembranças de um sorriso fugaz,
Entre os portões abertos em alvores de Paz,
Recordações felizes libertadas daquela dor!...

Uma folha de Outono levada pelo vento,
Afagando carinhosamente as faces primaveris do rubor,
Oferece uma nova Alma que voa nas asas do alento!...

.
.
.


quinta-feira, 27 de outubro de 2011

Tanto Faz...

.
.
.

…brincava entretido com o seu interior,
Sereno como se o silêncio o seguisse atrás,
Ninguém soube se ele era um sonhador,
Ou se era o sonho de uma vida anterior,
Quando perguntavam àquele rapaz:
-Queres isto?
Ele respondia: -Tanto faz...

…Olhava para as coisas com o olhar mais sereno,
Uma linha muito fina desenhava-lhe um suave sorriso,
Ninguém lhe viu nos olhos a denúncia de um olhar indeciso,
Sabia-se que deambulava por entre fofos montes de feno,
Colhia nos campos ceifados o cheiro ameno,
Quando perguntavam àquele rapaz:
-Queres aquilo?
Ele respondia: -Tanto faz...

…capturava estrelas no céu de quem o via,
Com brilho invisível que lhe estrelava o olhar,
Cintilava-lhe na calma uma leve tranquilidade,
Umas vezes era a leve sensação do que sentia,
Noutras pressentia-se um Poema a murmurar,
Ninguém viu qualquer lágrima no seu chorar,
Escorria-lhe na face uma tranquila simplicidade,
No rosto haviam-lhe cores infinitas da humildade,
E no silêncio das simples palavras uma flor floria,
Como se o mundo sentisse uma simples Poesia,
E quando perguntavam àquele rapaz:
-Queres isto ou aquilo?
Ele respondia: -Tanto faz...

*
 
…Um vivaço com pólvora a correr-lhe nas veias,
Disparava centelhas em explosões das ideias,
Tinha ávidos planos para as flores protegidas,
E uma estratégia para perfumar muitas vidas,
Alguns inocentes já apodreciam nas cadeias,
Das flores caiam pétalas com um ar sanhudo,
Do seu perfume estavam suas vítimas cheias,
E quando lhe perguntavam de antemão:
-Não queres isto nem aquilo, pois não?
Ainda que a pergunta fosse de um desejo mudo,
Ele respondia: -Eu exijo tudo.

*

…Um rapaz aguardava consigo a sua vez,
Uma brisa desenhou-lhe nos lábios um leve traço feliz,
Há uma velhinha que diz,
Tão pouco fizemos em nossa mesquinhez,
Por aquele rapaz que tendo parecido nada fazer tanto fez!...

.
.
.


segunda-feira, 24 de outubro de 2011

Meio Mundo

.
.
.

Meio mundo em minoria,
Contou o dobro de outro meio.
Metade da metade do que sabia,
Dessa metade fez-se meia biografia,
Meia ideia que de outra meia veio,
Ficou assim meio mundo cheio,
Da parte que não lhe cabia!...

A verdade,
Cortada pela metade,
É meio mundo esvaziado,
Por outro meio alucinado,
Lotado de meia maldade,
Meio e meio acostumado,
Ao erro de estar errado!...

É um meio,
 É uma metade,
Metade de meia verdade,
É um meio,
Caminho de sujidade,
É parte de um passeio,
Desumana falsidade,
De braço dado com a Humanidade!...

Só não se conta,
O que devia ser contado,
Orelhas moucas são um bom aliado,
Olhos que vêm são uma afronta,
Para a mentira sempre pronta,
A fazer do certo predicado,
Verbo desacreditado!...

Paciência!...

 É meio mundo,
Que não deixa mais de meio,
Sair bem lá do fundo!...

.
.
.

quinta-feira, 20 de outubro de 2011

Tiro

.
.
.
…Olhou para a lápide polida,
De duas lágrimas e um trémulo suspiro,
Uma das filhas do desgosto foi contida,
A outra escorreu entre rugas da vida,
E despediu-se da raiva com um tiro!...

…negou a côdea do último pão,
Do miolo restou apenas um suspiro,
Das searas colhia-se a recordação,
Era tempo de escolhas e oração,
Desfez-se da fome com um tiro!...

…Aceitou o último pré,
Despediu-se da parada com um suspiro,
Trocou passos da marcha pelo pé ante pé,
Acariciou a pistola roubada com muita fé,
E despediu-se da podre paz com um tiro!...

…Esperou na praça partindo de uma premissa,
Olhou o céu e azulou-o com um longo suspiro,
Lembrou-se da fé de Cristo, não da última missa,
Abraçou os risonhos ministros e fez-se justiça,
Um cravo impune foi morto com um tiro!...

…De um tiro que bastou,
Ficou cinzelado o exemplo,
Que tudo mudou!...
.
.
.