terça-feira, 23 de agosto de 2011

Cem




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A Alma envolta em magnetismo,
Aponta metáforas dos significados,
Cruza as linhas de mapas desorientados,
Com agulhas de bússolas caídas do abismo,
O Norte é uma direcção sem pessimismo,
Encontrando-se a Sul dos menos avisados,
Desnorteado magneto do neologismo!...

Sendo pouco mais,
Do que palavras reais,
Não passo de uma letra apenas,
Princípio maior de realidades pequenas,
Escritas no voo picado de versos iguais,
Rimados nas asas leves de leves penas,
Ou do chumbo de outras tão desiguais,
Semelhantes desigualdades terrenas,
No modesto Céu de Cem Poemas!...

Aos poucos que lêem meus passos,
Deixo um simples A.
De Cem estreitos A.braços!...
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domingo, 21 de agosto de 2011

Quem-me-Deras


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Encontrei uma Quem-me-Dera debaixo da Esperança,
Quem me dera o que dela por mim se perdeu,
E quem por ela se perderia fora eu;
Sou Quem-me-Dera da Quem-me-Dera que não alcança,
Dera por ela em Quem-me-Deras de despeitada vingança,
Por Quem-me-Deras que em Quem-me-Deras se desvanesceu!...

Foram semeadas Quem-me-Deras entristecidas,
Em jardins de Quem-me-Deras sem cor,
Falam em Quem-me-Deras de Amor,
Quem-me-Deras por todos apetecidas,
Arranjos desflorados de Quem-me-Deras floridas,
Floristas tristes em Quem-me-Deras de dor!...

Pudera eu dar alento a Quem-me-Dera,
Não me dando a quem eu não quisera,
Querer de mim quem de ti soubera,
Quem de ti, por mim, sempre soubera Amar,
Soubera eu que partes de mim dar,
Dando múltiplos do que não me deste,
Quem-me-Deras de tua indiferença agreste,
Asfixia transbordante de quem me dera o ar,
Oxigénio vivo que de alguém fizeste,
Respirando Quem-me-Deras do que disseste,
Quem-me-Deras confessadas de teu pensar!...

Quem-me-Deras,
São como quimeras,
Quimeras de Quem-me-Deras,
Primitiva cobiça prenhe de ilusões,
Gestação traída por prometidas esperas,
Quem-me-Deras de traídas traições!...

Esquecem as Quem-me-Deras de regar o Amor,
Com o Amor de Quem-me-Deras arrependidas,
Quem-me-Deras desejadas por qualquer estupor,
Sem Quem-me-Deras no jardim de suas vidas!...

Ainda que sejas quem Quem-me-Deras não tem,
Serás Quem-me-Dera de quem a ti mesmo te dera,
Ou Terás Quem-me-Deras cobiçadas por alguém!...

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quinta-feira, 18 de agosto de 2011

Lancinante

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Fustigado sem dó pelo amargo do malho
O corte do sabugo chora ao sabor do alho,
A carne viva arde na fornalha que entorna,
Suor e sangue a ferver no infernal trabalho,
Mordido pelo corte lancetado na bigorna!...

Retesa-se o nervo por cada golpe forjado,
Distende-se o ferro até à fractura do osso,
Saltam limalhas vivas da dor em alvoroço,
Cravando de chagas um malho angustiado,
Que punge o silêncio do metal esmagado,
Entre as dores das margens de um fosso!...

Molda-se um osso entre a carne rasgada,
Osso lascado cravado na morte iminente,
Instinto vivo espetado no olhar pungente,
Que pulsa nos fogos da fornalha sufocada,
Privada de ar por uma traqueia esmagada,
Entre a velha bigorna e o malho doente!...

Dilacerado por uma incisiva dor angustiante,
O osso laminado é um sofrimento plangente,
Que corta cada lágrima com dor lancinante!...


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terça-feira, 16 de agosto de 2011

Vou-te Buscar...


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Fixara-se-nos na retina,
A descendente gradação da inocência,
O carinho atrevido e curioso do teu olhar,
Irresistível Amor que ainda ilumina,
Pecados abençoados pela consciência;
Despojas-te do profissionalismo que não ensina,
A entender a razão dos sorrisos saudáveis de menina,
Recuperas os guardados sentires de Amar,
E repetes meigos apelos: -Vou-te buscar!...
Vou-te buscar!...
Falo-te de minudências da razão,
Exponho nosso Amor em gradação,
E a razão de não se degradar,
Desenho cuidadosos traços de respeito,
Com o sangue firme de nossa paixão,
Confesso-te tristezas que me ardem no peito,
Assinas meus quadros onde pintei o perdoar,
Obras-primas são teus apelos: -Vou-te buscar!...
Vou-te buscar!...
Vou-te buscar!...
Na despedida lenta de repetidos tomos,
Há palavras que podem não voltar a passar,
Há um rio de desculpas no decurso de teu olhar,
Que corre ao encontro do meu olhar que somos,
O mesmo rio da mesma margem que fomos,
Apelo silencioso que te deixei ficar,
Quando teu apelo chorou: -Vou-te buscar!...
Vou-te buscar!...
Vou-te buscar!...
Vou-te buscar!...

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sexta-feira, 12 de agosto de 2011

Inocente

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Entre o gume da espada,
E a parede dentro dela erguida,
Quedou-se em estátua encurralada,
Quase derrotada por um golpe da Vida,
Mas pronta para uma derrota empedernida,
Aceitou ser exemplo de Alma trespassada,
Pela corrosão de uma injustiça afiada,
Agravo pela Justiça vencida!...

O tempo vai cobrindo de liberdade,
Vivos passados prisioneiros das horas,
O coração ainda transborda saudade,
Como se ainda não sentisse a verdade,
De ser livre para escolher as auroras,
Nascer da Luz nas pacientes demoras,
Das espadas de pedra sem idade!...

Há símbolos de justiça em evidência,
Gravados entre paredes inocentes,
E espadas polidas pela inocência!...

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quarta-feira, 10 de agosto de 2011

Amora

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Amoras amadurecem,
Protegidas pelo verde silvado,
Morenas que não se esquecem,
 Irresistíveis que do desejo crescem,
Espinhos afiados a protegem do pecado,
Serão tão amadas sem nunca terem amado,
Por quem as ama sem nunca as ter provado!...

…Talvez os espinhos,
Sejam a provação dos caminhos,
Que na espinhosa silva demora,
O prazer de provar uma amora!...


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segunda-feira, 8 de agosto de 2011

Sempre

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Ela sempre está,
Onde sempre estamos,
Sempre nos dá,
O que sempre lhe damos,
E quando sempre esperamos,
Que ela sempre se vá,
Pressentimo-la sempre por cá,
Sempre provando que nos enganamos,
Mas se sempre a pensamos,
Como ceifeira sempre má,
É sempre o pior do pior que há,
Ainda que sempre nos dê mais uns anos,
Nós sempre nos encarregamos,
De nunca esquecer a já gasta pá,
Com que sempre escavamos,
A cova onde sempre nos deitamos!...

Nem sempre nos ensinaram a viver,
Tudo que sempre aprendemos é morrer!...

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sábado, 6 de agosto de 2011

Classificados

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Ratinha Poética,
Procura Poema dourado,
Para futuro compromisso!...
Não interessa que seja casado,
Muito para além disso,
Não precisa ser um filho da ética,
Preferem-se estâncias de rica métrica,
Não se aceitam cheques de valor pelado,
Pode ser verso livre de viúvo ou divorciado,
E se não quiser que a ratinha dê o sumiço,
Não haverá poesia que quebre o feitiço,
De uma vingativa e ordinária dialética,
Incapaz de anular soneto denunciado!...

Poema forte, rico e sedutor,
Procura rica e moderna poesia,
Com ritmo da antiga trova vadia,
Para relação séria de futuro louvor,
Exigem-se elegantes rimas com fervor,
Sem preconceito pela falsa harmonia,
Entre a verdade e o cântico de amor,
Pronta para sustentar com alegria,
Seu novo poema e senhor!...


Procuram-se dois poéticos dilemas,
Cesurados por um par de iguais inversos,
Desavindos entre dois falsos poemas!...

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quinta-feira, 4 de agosto de 2011

...tão Perto!...

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…Lá perto de tudo,
Tão longe de nada,
Nada resta do veludo,
Noite macia do dia mudo,
Que já não despe a madrugada!...

…Lá longe da pouca sorte,
Douradas tentações impingem,
A tentadora perfeição da beleza no porte,
Só o destino sabe que fingem,
São brancas as raízes dos limos que tingem,
Celebra-se a vida ao encontro da morte!...

…lá longe do deserto,
A Vida sucumbe à sede,
Com a água ali tão perto!...


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terça-feira, 2 de agosto de 2011

Ciúme


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Fixando meus olhos,
Teus olhos vi em meu olhar,
Vendo neles mil pecados meus,
Pecados cegos, não pecados teus,
Quais blasfémias que juras não olvidar,
Ciúme esparzido em lágrimas do pecar,
Desperdício perdido por entre escolhos,
Em searas salgadas de salgados restolhos,
Fome de nosso Pão sideral roubado a Deus,
Fermentado com doçura de paixão diletante,
Delirante tempero de impropério pungente,
Cozinhados em aromas de lume brando,
Poalha apimentada com Amor ardente,
Fidelidade minha que queimas e negas,
Na dança de teu bailado inquietante,
Passos de fogo dados às cegas!...

Tuas delicadas unhas afiadas,
Débeis armas de palavras malditas,
Desafiam as minhas palavras adiadas,
Palavras de silêncio que tu não imitas,
Aliando teimosas certezas apaixonadas,
À incerteza de tuas amantes imaginadas,
Desafias a falsa confissão que tu incitas,
Sensato silêncio meu de tua desdita!...

Minha submissão por ti serena,
Curva-se perante tua raiva pequena,
Que exalando odores de vórtice desejo,
Aguarda paciente a tempestade amena,
Tempestade adivinhada que eu almejo,
Vislumbre desejado num lampejo!..

Meu reflexo reflectindo teu cego Amor,
Impulso que tua investida vai contendo,
Cego ciúme e cegueira de teus tormentos,
No acto das tuas mãos que amaciam a dor,
Despontando sinestesia que vai crescendo,
Enlaças a fome de nossos corpos sedentos,
Olhos gulosos e tão virgens por momentos,
Nossa volúpia salgada de doce ávido sabor,
Fiéis amantes dos nossos pensamentos!...

A libido que de teu Amor vem,
Por mim, tua serena submissão,
Trai tua resistência subjugada,
Desconfiança por ti perdoada,
-E por mim também-
Não resistindo a incontrolável tentação,
De tocar teu corpo e sentir teu coração,
Saboreio teus lábios de veludo excitado,
Néctar sagrado de uma lasciva atracção,
Contagiando teu corpo ansioso e suado,
E penetro meigo em teu corpo sagrado!...

Gozando da cadência enlouquecida,
Por cada forte batida enlouquecendo,
Impiedosa possessão consentida,
Arrepio de alma gémea perdida,
Sublime êxtase de longo momento!...

Fixando teus olhos,
Meus olhos vês em teu olhar,
Olhando meus olhos de mil pecados teus,
Pecados cegos não pecados meus,
Os quais juramos olvidar!...

Olhos perdoados de sorriso alargado,
Adormecem em leito de cúmplice malícia,
Repousando no veludo de Amor renovado!...
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