terça-feira, 5 de abril de 2011

Na Primavera...

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…Esta minha bendita tristeza,
Que floresce nestes estranhos enleios,
Os chilreios…
 Felizes de tanta beleza,
Batidas de descompassada estranheza,
Desesperado desejo que prospera,
Sem freios!...
Como se… ao mungir a Primavera,
Saciasse a sede e a fome no cio dos seios!...

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domingo, 3 de abril de 2011

Nudez no Céu

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…Esperava um pouco daquele céu,
No seu inferno às vezes celestial…
Celeste era aquela estranha fixação infernal,
Espreitando do rasgo denunciado do véu,
Transparente… ao léu!...
Despido.. nua integral!...
Despida… no despido céu!...


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sexta-feira, 1 de abril de 2011

Aqui Jazem os Cravos!...




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…aqui jazem os cravos,
Em campa rasa e mal tratada!...
Aqui está sepultada,
A honesta origem dos bravos,
Nesta estrumeira de vis agravos,
Onde a flor de laranjeira violentada,
Deixando de ser a virgem pátria imaculada,
 É agora a puta sem palavra dos capitalizados!...

Das rosas restam os espinhos,
Cravos Judeus tão bem espetados,
No orgulho dos espíritos mesquinhos!...

É longo o verde dos craveiros,
Coroados pelo vermelho sangue Lusitano,
Definha o envergonhado poder soberano,
Enterrado vivo na revolução dos coveiros,
Nação traída por gatunos verdadeiros,
Vigaristas que só vivem do engano!...

E lá vai o pobre povo alienado,
Embrulhado nas cores de um triste pano,
Eleger quem sempre os tem enganado!...

Por aldrabões enganada, já nem a verdade se admira,
Que, com a verdade, seja enganada a mentira!...

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domingo, 27 de março de 2011

Ninguém!...

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Eu sou o vento,
Dispo-te de tua beleza que se veste do tempo,
Sou vento forte!...
Visto trapos de luz com o brilho de tua sorte,
Sou ciclone desatinado e violento,
Alma do teu sofrimento,
Sou teu desejo sem norte,
Sou o tempo,
Sou o vento,
Talvez a morte!...

Eu sou a fome,
Alimento tua gula de um inferno sem nome,
Sou fome violenta!...
Insaciável ninguém que de ti se alimenta,
Sou apetite que come,
A vontade que consome,
E de ti se sustenta,
Apuro teu sabor com o suor que te experimenta,
Sou a fome,
Sou o nome,
Talvez tormenta!...

Eu sou o carrasco,
Ofereço tortuoso caminho de sangue até ao penhasco,
Sou a dor!...
Sou pus na ferida aberta de teu dilacerado amor,
Sou ignóbil fiasco,
Sou a náusea do teu asco,
Sou a consciência sadia do teu miserável torpor,
Sou carrasco,
Sou o asco,
Talvez rancor!...

Eu sou o reflexo,
Exponho a verdade côncava de teu falso convexo,
Sou a cegueira!...
Sou a cor omitida na mentira de uma bandeira,
Sou infectado sexo,
Sou o teu olhar perplexo,
Sou as trevas de capa e capuz da inesperada ceifeira,
Sou a rasteira,
Sou caos sem nexo,
Talvez inquisição e fogueira!...

Eu sou a claridade,
Destruidor de mentiras com laivos de crueldade,
Sou a verdade crua!...

Sou sonho desprotegido do pesadelo de consciência nua,
Sou refúgio da falsidade,
Causa perdida de tua ansiedade,
Sou leito escorrido onde teu medo desagua,
Sou corgo de piedade,
Alivioso despertar de tua adormecida intimidade,
Sou imagem tua,
Nua,
Que no pesadelo se insinua,
Sou, quando acordas, a verdade,
A dúvida que se perpetua,
Eu sou a liberdade!...

Eu sou NINGUÉM,
Pouco mais de nada,
Sou o grito de alguém,
Sou o sonho que se retém,
Demónio de uma alma cansada,
Sou teu desdém,
Parte de perdidas partes em partes separada,
Sou um pouco de ti, porém,
És muito de mim também!...

Eu sou a mentira da verdade,
Sou desprezo que de ti fica aquém,
Sou o vento forte da Liberdade!...

Só não sou o que digo ser,
Quando meus olhos consegues ver!...


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sexta-feira, 25 de março de 2011

Ladrão e Erva


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Ladrão e Erva,
Já fartos do paraíso,
Fizeram da serpente sua serva,
Então, já despidos de reserva,
Escolheram perder o juízo,
E, num acto de improviso,
Com cannabis de conserva,
Quase pecaram de riso!...

Com o siso já pedrado,
Erva sentindo a folha a arder,
Viu seu fumo ser fumado,
Seu veio verde ser roubado,
Pela tentação de a comer;
O ladrão sempre a gemer,
Ao rasgá-la com seu pecado,
Descobriu na Erva o prazer,
Crescendo em solo sagrado!...

Foi a pobre da serpente,
De aspecto tão repelente,
Condenada a pagar as favas,
Por tantas folhas fumadas,
Ficaria velhinha e indolente,
Sem concubinas ou escravas!

Só pode ser a maldição,
Perdida entre os pecados,
Da Erva e do Ladrão!...


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quinta-feira, 24 de março de 2011

Linha e Horizonte


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…Viu o horizonte sua linha,
Para lá de uma Amizade sem limite,
Vincar dobrado barquinho de convite,
Que em seu coração rasgado tinha,
E sobre as ondas navegou sozinha,
Guiada pelo doce sal de sua elite,
Que se ia quando ela vinha!...

Linha e horizonte,
Tão longe de se encontrar,
São Amar e Céu de seu olhar
São ambos de si sua ponte,
Passando sem se tocar!...


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quarta-feira, 23 de março de 2011

Prostituição



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Há públicos sistemas prostituídos,
Fechados a sete chaves da prostituição,
Há portas prostitutas abertas aos escolhidos,
Candidatas à escalada com poderes instituídos,
Há ofertas internas para não trair a instituição,
Que paga os favores com o favor da promoção,
Prostituindo o desempenho dos despromovidos!

Há alternâncias de alterne em reuniões,
Onde se abrem pernas às selectivas posições,
Que a promovida angariadora sempre promove,
Prostituir-se sem exame é a prova dos nove,
Ciência exacta de prostituídas promoções!

É um subsistema de pasto interno,
Onde as vacas que pastam divorciadas,
Putas manhosas na subsistência do inferno,
São carne sem dono na venda do consolo eterno,
Negócio fechado à porta fechada das fachadas,
E lá se reúnem longe das testas enfeitadas,
Com lindas flores de cornudo moderno!...

E assim vai este País,
Entre vaidades e orgias,
Sem direitos nem Juiz,
Onde um povo infeliz,
É traído todos os dias!...

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segunda-feira, 21 de março de 2011

Árvore

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…Com oxigénio em carestia,
Rouba-se o privilégio de respirar,
Inspira-se a Luz na energia,
Que inspira a inumana tirania,
De expiração pulmonar;
Falta o ar,
Viva a hipocrisia!...
Árvores verdes são alegria?!...
Já não são a maioria,
 Quem precisa de se inspirar,
Se basta uma flor para exalar,
Aromas de fantasia,
Enxertadas de vendado olhar?!...
Planta postes de luz na serrania,
Espera a sombra que te vai deleitar,
Mas, vais ter de a comprar,
E se teu dia se ensombrar,
Não te asfixies assim em demasia;
É apenas mais uma árvore em alegoria,
Pintada na extinção do papel que te quer rasgar!...

Árvores!...
Essa vida que dizem aflorar...
Sob milionários mármores...
Dá que pensar!...


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sábado, 19 de março de 2011

22




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…tanta prata resplandecente,
Tanto brilho de ouro por aí!...
Tens-me do que tenho de ti,
E se de mim estou ausente,
Em ti me sentes presente,
Com Amor fulgente de si!...

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segunda-feira, 14 de março de 2011

A revolta das Migalhas


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Vamos juntar nossas migalhas,
Que os senhores de nosso Destino pisaram,
Vamos abraçar a dança da chuva que eles nunca dançaram,
Voltar a amassar o pão para cozer nas quentes fornalhas,
Com o frio da fome que gelou as perdidas batalhas,
E dar-lhes a provar o Destino que nos traçaram,
Roubando dignidades, até, esses canalhas!

Vamos ensinar a essa canalhada,
Com quantas letras se escreva a fome,
Vamos mostrar-lhes como é que se come,
A miola que pelo desprezo deles foi esmagada,
Matando a fome à fome com mais fome alimentada,
Gritemos o significado da palavra que no dicionário se some,
Empanturrando-os com o significado do seu verdadeiro nome!

Vamos mostrar a verdade a esses gordos gatunos descarados,
Todas as variações das cores pálidas da verdadeira pobreza,
Vamos misturar essas cores com a cor rosada da riqueza,
E descobrir as novas cores que nos murais ilustrados,
Fixarão corajosos quadros pela igualdade pintados,
Com suave processo limpo por honesta firmeza,
Que nas lições da fome foram ensinadas!

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Pais desesperados, ao diabo gratos,
Rezam pelo fim dos gatos decepados,
E das lebres pardas que miam nos pratos;
Uma pobre Família sagrada de créditos firmados,
Foi publicamente acusada pelo seu gato, por maus tratos,
Entretanto, as lebres passeiam longe dos olhos esfomeados!

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Vamos juntar nossas migalhas,
E matar a fome a esses canalhas!...

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