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domingo, 29 de dezembro de 2013

A Saudável Transparência da Loucura Consentida


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Há uma mente sã em corpo são ou um corpo perfeito terá, obrigatoriamente, de ser encabeçado pelo armazenamento de um cérebro de noz?!... Podemos ser nós armazenados ou a noz do armazém. Podemos ser um corpo bem empacotado e pronto para despacho, em fim de ano memorável, sem loucura, sereno e natural!...
Tudo normal,
O princípio do fim e o fim do fim,
E o início casual,
Dos casuais assim-assim,
Assim como a loucura mais acidental,
   E os heróis imperfeitos embrulhados em ti e em mim!...
Há coisas a reter no pensamento. Mesmo que o pensamento se retenha nessa estranha forma de retenção selectiva dos pequenos vidros partidos e dos grandes estilhaçados. Os soldados da paz, andam por cá para isso, e para lá do que podemos imaginar num só ano perfeito, sem armas, desarmados, armados até ao pirilampo de alarme, o olho e a simbiose perfeita com o grito da sirene, abrindo alas ao socorro que passa sem olhar para os lados e, às vezes, até o que vem de frente é cegueira justificada, aos olhos postos no fogo por atear ou no fogo posto ao pôr-do-sol. Não é este o presente caso que, por acaso, não envolve o calor do corpo ou do esquentamento sem precaução em baixo inverno, nem as repentinas cheias de verão e transbordos ejaculados para fora da gravidez e respectiva assistência aos partos... ou às mães de pernas abertas ao grito bem seguro pelo cordão umbilical, sem incidentes de maior,
Ou melhor,
Do mal que por mal, mais vale do piorio,
E nada pode ser pior,
No entrelaçar da ajuda e muito suor,
Do que tentar uma gravidez em completo desvario,
De uma mulher em delírio de passada e prenhe de cio,
    E ainda o dito parto por consumar não lhe violara a mioleira,
Como viria a acontecer antes de acontecer naquela cegueira,
E, a verdade não dita, é que tudo se tornou mais frio,
   E nada de concrecto nasceu daquela maluqueira!...
Há anos perfeitos e este foi um deles, o ano dos vidros de janela, à espreita, onde olhos perfeitos e felizes se esconderam da perfeição social e política, para não caírem na perfeita tentação de aceitar telhados de vidro e enormes vidros de proteção que erguessem quantas paredes quisessem. A perfeita transparência do que não se quer esconder, porque numa sociedade perfeita e sã, nada se esconde, nem a sanidade mental nem a loucura mais transparente. O problema seria mesmo de transparência!... Com tudo tão transparente, um telefonema transparente, com 41 de pé, atravessou linhas transparentes da companhia telefónica transparente e chegou aos ouvidos transparentes do operador de telefone, ambos transparentes. A mensagem não podia ser mais transparente: -Socorro, é urgente. Há sangue por todo o lado, vidros partidos e golpes profundos, talvez alguém já tenha morrido e eu estou a segurar o telefone com dois pés que não são meus, porque já nem os meus ricos polegares tenho, nem mais 3 dedos.
Mais claro não poderia ser!...
-Pode repetir?...
-Estou a morrer.
Nada a esconder,
Se mais um vidro se partir,
O mais certo é ninguém sobreviver,
E lá se vai a transparência em vias de se extinguir,
Os ataques de riso e a imensa vontade de rir,
E a fuga em massa prestes a acontecer,
Seria uma ameaça à clareza do porvir,
Futuro das manivelas do transparecer,
alavancas do vidro que teria de ser!...
O que quisessem que fosse a esperança, por longos e saudáveis anos de vidro!...
Antes de Deus ter-se apercebido, e já carregadores de maca, médicos e paramédicos se tinham espatifado na curva mais apertada do fado gingão que os conduzia no desespero, abraçado às guitarras que gemiam... e das suas vozes incrédulas!... Um bêbado, muito bêbado, que passava conforme podia, descalçou o segundo sapato, colou-o às orelhas e participou a ocorrência às entidades competentes, continuando o seu caminho descalço!...
Não tardou a passar a mesma ambulância a uma velocidade espavorida que, entre ziguezagues e muitos esses, nem reparou nesses seus camaradas que, em coisa de instantes e perfeita saúde mental, já haviam voado com os anjinhos, em socorro da tragédia da vidraria global!... E chegaram. Aquilo estava feio!... Globalmente, pouco se notava da transparência dos vidros da vidraria, o sangue convertera aquela fábrica de transparências em inúmeros vitrais a serem montados por quem tivesse paciência para resolver puzzles inconcebíveis da mesma cor. Confirmaram alguns dedos espalhados, quase todos de mãos cheias de indicadores e polegares de consentimento e confirmação. Um verdadeiro massacre de cortes profundos, provocados pela suspeita teórica de suicídio dos irreconhecíveis pequenos vidros quebrados e pequenos estilhaços de grandes vidros polidos!...
Mas Deus é grande e há sempre quem sobreviva. E o que sobrevive, sobrevive acima de todos e de todas as coisas, numa independência só reservada à vontade do inexplicável, mas que encaixa perfeitamente na consagração do milagre, atribuído à intenção da igreja e à integração de novas almas com algum dinheiro ou miséria para denunciar com toda a clareza dos santos mistérios e divina, o que vem sempre a calhar. E alguém imagina maior tragédia do que esta?!... A transparência estilhaçada?!... O milagre estava ali, entre os vitrais pintados com escorridos de sangue; quebrado, partido e era visível o golpe profundo provocado. Sim, provocado, sabe-se lá em qual das múltiplas vítimas. Não havendo tempo a perder, vidro bem seguro e toca a colocá-lo com muito cuidado na maca de serviço!... Demoraram 48 horas, nem mais nem menos segundo, a percorrer 2 km, sem nem mais nem menos milímetro, pois todo o cuidado era pouco para a salvação da transparência e aquele vidro transparente e limpo, era único!...
Não se ouviu a estridência da sirenes e dos pirilampos vermelhos ou azuis de escolta autoritária, nem uma réstia de luz na transparência em deslocação no escuro!...

Tudo silêncio sobre silêncio!...
Sobre silêncio que enchia a almofada suspensa,
Aos passos suaves de coelho, seguia em silêncio, o seguro,
Era importante assegurar a suave transparência do futuro,
E a certeza da transparência máxima da recompensa,
Da clareza mais pura ao braço dado, propensa,
Dada ao sorriso mais sério e mais duro!...
E, eu, suave, delicado e, acima de tudo… educado,
Bem ou mal, sempre curioso e mais ou menos puro,
Sempre desconfiado,
Sem que me tivesse cortado,
Segui a transparência dos estilhaços,
E cortei a bondade oferecida dos espaços,
Em vidros transparecidos do que me fora dado,
Seguindo de perto até ao hospital mais próximo!...
Sempre, sempre em silêncio, na minha forma de ver, até ao destino ou depósito de lixo para reciclagem e alívio de contas públicas.
Entrei por não me deixarem entrar e o que vi, já havia entrado antes de mim, ocupando os corredores pré fabricados até à lotação esgotada e mais um, outros tantos, ainda mais um que estivesse para vir e seguido por outros, sempre bem vindos ao fim do ano!...
Um espectáculo digno de quem sempre quis rir,
E nunca se riu,
Como nunca se viu,
Nem se reviu no que não sabe como sentir!...
Um ano transparente e a transparente sensação,
De não compreender a razão da razão,
Do porquê e porque um sapato caiu,
Caindo da maca onde decantava um vazio garrafão;
Noutra maca, uma página sem sinal de vida que a vida perseguiu,
Fora arrancada ao resto do livro que estava algures sem coração,
E um vidro de leitura, outrora transparente, conseguiu,
    A melhor cama e conforto da global atenção!...

Pode parecer loucura de um ano louco,
Ano de surdos e o fim do ano mais mouco,
Mas, a surdez da loucura está sempre atenta,
Sente o sabor dos cortes que lhes sabe a pouco,
   Cura os vidros com a transparência que enfrenta...
E os vidros que sangram...
   Dessa saudável transparência da Loucura consentida!...

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