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sexta-feira, 6 de novembro de 2015

Ironia do Zé Ninguém

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Como sofria aquele Zé Ninguém!...
De olhar caído nos subúrbios de Deus,
Pendia dos cílios de uma solitária mãe,
Adormecida no sonho de ser alguém,
   Amplexo comprimido dos olhos seus!...

Deixando afogar-se em remoinhos salgados,
Sentia o oxigénio fugir na frialdade dos castigos,
Que emergiam na superfície os oculares abrigos,
Escondidos na dor da retina de olhares segregados,
Quase cegos pela sobrevivência dos amores antigos,
Afogados na separação das lágrimas de olhos amigos,
     Pelo transbordo incerto de opostos ângulos cruzados!...
Como sofria aquele Zé Ninguém!...
Entre sulcos de rugas inertes dos rostos abandonados,
    E os raros cabelos grisalhos, penitentes de cabelos caídos!...

Possuídos por espíritos em agonia,
Despidos da luz de muita alma dilacerada,
Rasgou-se a lâmina atrás da pálpebra suturada,
Pelas vacilantes tentativas da suicida travessia,
Dos caminhos sem saída, empedrados de nostalgia,
     Esses atalhos resignados de tristeza consumada!...
Como sofria aquele Zé Ninguém!...
Pelos extenuados olhos tristes cheios de nada,
    Espelhos embaciados por esquálida melancolia!...

Corpos moribundos arrastavam-se no negrume da tristeza,
Esgadanhavam ténues memórias de punitivas loucuras carnais,
Onde carpiam desabafos abafados às lágrimas de sua fraqueza,
E ali definhavam as almas abandonadas à verdadeira crueza,
     De corpos irreconhecíveis na humanidade de trapos imorais!...
Como sofria aquele Zé Ninguém!...
Ao ver aqueles pecados vivos transformarem-se em mortais,
    Enterrando a felicidade viva, na sombra morta da beleza!...

Ninguém amava o amor que o amava,
Fazia amor com o amor que amor com ele fazia,
Lambiam mel sem fim que dos seus corpos escorria,
Entre orgasmos intensos do prazer que os abraçava,
E os pecados simultâneos que a felicidade defendia,
Perdoados por Deus que suas almas não julgava,
     Pelo prazer do Amor recíproco que Ele protegia!...

Afirmam ser um pecado mortal de alguém,
Mais de mil anos de prazer e Amor imenso,
Do Amor fiel e o libertador orgasmo intenso,
Almas abandonadas que olham com desdém,
     O respeito pelo Amor e aplicado bom senso!...

Como sofriam todos aqueles,
Os que sofriam sentindo-se alguém,
    Cheios de todos quanto os cheios deles…
E como sorria aquele Zé Ninguém,
     Como ninguém, sorria por eles!...
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