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quinta-feira, 19 de setembro de 2013

Desinspirado...

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Estou tão gasto de tudo, esgotado,
Vazio, seco de todos e sem ideias,
Sou terra exaurida entre as areias,
Onde, exaurido, arrefeço enterrado,
Não sinto aquele nada enfeitiçado,
    Que corre no vazio de minhas veias…

     E, árido, nem ávido sou de pousio!...

Sou este estranho curso evaporado,
No sumiço das margens desaguado,
Não procuro o significado de ser rio,
Sou esse caudal inerte e estagnado,
 Nem sol ou lua, nem quente nem frio,
Escurecido sem o defeito, sem o feitio,
    Não sou a noite nem o dia iluminado...

    Nem, aparte, ávido sou de consciência!...

Sou a minha própria consequência,
Sem saudades do siso desassisado,
Facto presente em minha ausência,
A gravitar fora de minha demência,
Adentrados auspícios do meu fado,
Suspensos no abismo ao meu lado,
    Ala que me esvazia sem clemência!...

*

Aquém do que sou e rindo de mim,
Estou eu que ri do poético lampejo,
Rio também de belos rios que vejo,
A transbordar de tanta vida, assim,
Como se isso, a modos que, enfim,
      Não passasse de poesia ou gracejo!...

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Hehehehehehe….


terça-feira, 29 de maio de 2012

Linhas!...


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…Conheceram-se entre linhas carregadas de uma certa inocência adocicada na manha das cartas e não descartaram a hipótese de perpendicularem os caminhos da escrita!... O mel das palavras foi escorrendo nas inclinadas linhas de uma fina teia já cruzada em rede, como perpendiculares esperançadas à espera, também elas, de se cruzarem entre si, transformando o desejo pautado num encontro longe de ser quadriculado!... Bem à maneira dos tempos alinhados, um dia fecharam os envelopes e combinaram dar cartas brancas, logo que suas linhas, já trepadoras compulsivas de paredes até aos caibros, se encontrassem. Depois de contados, um por um, muito lá no alto e bem a pino, bem teso como a contagem reivindicava entre as linhas das entrelinhas e desejos estranhamente desalinhados, pelo que cada um imaginava o alinhamento ávido dos sonhos do outro, na mesma proporção do que cada um sentia por si mesmo!... Combinaram também, na última troca de linhas, que ela estaria à sua espera com duas linhas na mão, e ambas sustentando o perfeito equilíbrio de uma dúzia de letras de boas vindas, na simbiose ideal das palavras e a felicidade bem-vinda, bem visível no “SOU a TUA LINHA” que escrevera, distinguindo-se das demais anónimas passageiras casuais!... Por sua vez, ele, quando chegasse, e por alinhamento recíproco, sairia do comboio com duas correspondentes linhas firmes, alinhando a gratidão numa igual “SOU a TUA LINHA”, sem qualquer também, porque era um desejo seu e prenda surpresa!...  Ambas as linhas, nas suas costas e nas costas das mesmas folhas, haviam convergido, sem que um do outro soubesse, num “quero teu beijo”; seria uma surpresa do tamanho de suas longas e doces trocas de linhas e suas linhas saltariam de um para o idílio do outro, encontrando-se... cruzando-se numa troca de fluidos contidos que há tempo demais escorriam na incontinência das linhas paralelas, aquando de posições verticais, tal era o desejo de se meterem umas pelas outras, as linhas embeiçadas e ansiosas!...
O comboio chegou, percorrendo e percorrido que foi o corpo cúmplice das linhas e duas folhas caíram em movimentos laterais de vaivém seco… leve… e… suave… queda, lá do alto das pontas dos dedos que as seguravam, mal os olhos alinharam a linha de visão na direção do virado “eram suas linhas”, trespassadas por frias pedras de granizo que desfizeram certezas e dúvidas!...
Ali ficaram dois beijos desajeitados e abandonados à pressa, no chão de todos os pés, caídos dos olhos cegos de donos sem lábios, servindo de tapete maltratado por todos que entravam e saíam dos comboios perfeitamente alinhados nas estações, nas linhas que levavam e traziam histórias de linhas desencontradas das partidas,
Das chegadas fingidas,
Das perdidas sem regresso!...
E os beijos paralelos,
Nunca se tocando por lábios belos,
Entregues com todo o amor confesso,
À paixão jamais sentida como excesso,
Pelos inocentes sonhos singelos,
Do imaculado desejo mais professo,
Páginas fechadas nos mais altos castelos,
Entre desconhecidas linhas sem acesso!...

E as linhas por onde as palavras se insinuam, distantes da beleza que cada desejo imagina, cruzam paralelismos de ilusões, já sem a sensação da textura das cartas, sem o cheiro de beijos enviados ao destinatário!...
Restam espaços brancos sem linhas ligados às palavras perfeitamente alinhadas que se escrevem a si mesmas... entre si, sem margens para erros!... 
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